Da Antiguidade até hoje, o grotesco sempre esteve presente na cultura, mas mantido numa espécie de subclasse da arte por estar em desarmonia com a chamada "metafísica do belo", construída até a Idade média e difundida como estética artística a partir do Renascimento. A estética "do feio" ganha notoriedade no mundo pós-moderno e se transforma em linguagem da contemporaneidade. A Revista da Cultura mostrou (nesta matéria) essas mudanças, além de lembrar seus principais expoentes e estudiosos, como o pintor Francis Bacon, considerado hoje um dos mais cotados no mundo da arte.
Essa arte que prende o observador, e amplia a lente reflexiva sobre a vida através do "choque do olhar", foi beneficiada também pela arte digital, em que alguns artistas têm se apoiado nos conceitos do grotesco. Antônio Vargas, professor e pesquisador do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina, é um destes artistas. Suas obras discutem a imagem contemporânea unindo opostos, como o cotidiano e o vulgar com a beleza plástica, através do grotesco.
Vargas se utiliza da arte digital, preponderantemente de imagens das gravuras japonesas Ukiyo-e integradas a imagens de violência e sexualidade obtidas na web, para apoiar a construção da estética e linguagem do grotesco em suas obras. As colagens, num olhar desatento, parecem belas. É preciso observar novamente para perceber cenas de violência, sexo, guerra etc. "Em uma imagem grotesca, a beleza disfarça o improvável, o sórdido", explica.
A estética do grotesco no pós-moderno se aproxima da defesa feita por Victor Hugo em Do grotesco e do sublime. Para o escritor francês, a arte moderna era justamente essa reunião harmoniosa entre o sublime e o grotesco. "É o feio junto ao belo. A partir daí, você traz um novo significado para ambos. Essa é uma das características da pós-modernidade, essa tentativa sistemática de mesclar, fundir, unificar e, com isso, gerar algo novo. As fronteiras que ainda não foram corrompidas serão certamente corrompidas por alguém", completa Vargas.
Foto:" Lição de Anatomia", obra de Antônio Vargas
Fonte: Blog da Cultura, por Kelly de Souza