História da Arte |
Lado esquerdo - "Anão sentado no chão" - 1645 - Diego Velásquez
Lado Direito - "Velazquez morrendo atrás da janela à esquerda de onde uma colher se
projeta" (*) - 1982 - Salvador Dalí
Citacionismo
Definição
O termo se refere a um procedimento nas artes plásticas, principalmente nas artes moderna e contemporânea, em que o artista faz uso de imagens já consagradas na história da arte, como referência na composição de seu próprio trabalho. Essa citação, que pode ser implícita ou explícita, acaba por evocar um diálogo entre artistas e obras, de diferentes períodos e estilos, criando novos contextos para uma mesma imagem. Um exemplo dessa intertextualidade nas artes plásticas pode ser observado a partir do célebre quadro de Édouard Manet (1832-1883) Le Déjeuner sur lHerbe (Piquenique na Grama, 1863), diretamente calcado da obra Concerto Campestre (século XVI), de Giorgione (1477-1510). Esse quadro foi citado em diversas outras obras, assinadas por Pablo Picasso (1881-1973), Alain Jacquet (1939), Claude Monet (1840-1926), Glauco Rodrigues (1929-2004), Márcio Sampaio (1941) e Adir Sodré (1962), entre outros.
Atualizado em 20/04/2005
fonte - http://www.itaucultural.org.br
Lado esquerdo - "Retrato do Papa Inocêncio X" - 1650 - Diego Velásquez
Lado Direito - " 1953 - Francis Bacon" (*)
(*) Nesta obra Francis Bacon faz uma citação da obra de Velásquez. Utiliza o elemento central deformando-o. Bacon faz uma citação.
O Citacionismo e a Intertextualidade nas Artes Visuais. Imagens de 2 1/4 Geração.
Elenise Maria Bonetto Frizzo
Universidade de Caxias do Sul
Iniciação à Pesquisa - Licenciatura Plena em Artes Plásticas
e-mail: ideamach@zaz.com.br
A produção de imagens que mantém diálogo com outras já existentes é uma característica de grande parte dos artistas desde o século XV. Estas imagens, reformuladas ou escamoteadas, com outros contextos, fazem com que esta segunda geração de imagens, tenham outros significados, enriquecendo nosso estoque visual. Segundo Ana Mae Barbosa, "o apreciador de arte hoje, precisa ter armazenado uma vasta iconografia" (1987), ou biblioteca de imagens, para que possa decodificar os trabalhos da maioria dos artistas contemporâneos.
Palavras-chave: Citação, intertextualidade, arte, espectador, apropriação, imagens.
Imagens de 2¼ Geração
A arte contemporânea explora o mundo das imagens produzidas anteriormente como referência. Este empréstimo designado "citação"(Barbosa, 1990), ou exploração das imagens, não significa que estes artistas perderam sua capacidade de criação.
Todos os movimentos na história da arte foram geradas de algum outro movimento, isto é, se o homem das cavernas não tivesse registrado seus primeiros momentos, provavelmente não teríamos nos desenvolvido tanto culturalmente. "Os artistas não criam no vazio, eles são constantemente estimulados por outros artistas"(Barbosa, 1993), isto é, um texto(imagem) não existe sem outro texto.
Este citacionismo ou intertextualidade, termos diferentes para o mesmo assunto, na arte é considerado também como um fenômeno que alguns autores atribuem a pós modernidade ou a falta de inspiração do fim do século. Pode-se chamar de fenômeno pois a utilização ou apropriação de imagens para a elaboração de outras tem suas raízes no século XV, onde começou a ficar mais evidente este uso imagens. Ticiano reproduziu um cavalo como figura central em sua obra, copiando-o de uma jia datada de 300 anos antes (Barbosa,1987). Picasso foi duramente criticado ao fazer uma releitura das "Meninas" de Velásquez, e assim segue com muitos outros aristas.
Ana Mae Barbosa (1990) classifica este citacionismo, ou esta imagem de segunda geração, em pelo menos três fases: a apropriação, a reelaboração e a citação. Barbosa comenta que a apropriação se configura quando o artista inclui imagens já produzidas em sua obra, escamoteado esta apropriação. A reelaboração é explícita, o artista apenas modifica alguns aspectos da obra original, e por fim, a citação, quando a obra, quando a obra remete a outra.
Para Eduardo Pe-uela (Barbosa, 1993) é uma maneira de estabelecer relações com imagens,é um jogo de espelhos, onde mecanismos de criação e informação interagem. Neste caso a utilização de imagens já existentes pode ser implícito ou explícito, quando o remetimento for evidente. Peéuela usa o termo intertextualidade, ou relação entre textos.
A Citação na Obra de Arte
A arte de um modo geral sempre foi considerada eletista, e agora na contemporaneidade, a pulverização de conceito na arte , talvez esteja afastando cada vez mais o espectador da obra. De qualquer forma, os grandes acervos de arte se encontram na Europa e em museus nas grandes capitais, limitando o acesso de expectadores a arte.
Mesmo com a possibilidade de maior contato com imagens, através de jornais, revistas, televisão e a internet, as pessoas que tem acesso a essas médias, se encontram numa parcela muito pequena diante da população mundial. A maioria dos espectadores, que não estão em contato com arte, teriam condições de identificar uma citação em uma obra?
A questão do citacionismo, nestes centros culturais, já foi assimilado pelo espectador de forma a contribuir cada vez mais, para que faça novas relações com outras obras e estabeleça um diálogo entre ele e o mundo criado pelo artista.
Uma forma de comprovar se estas pessoas que não tem contato com a arte, poderiam identificar uma citação em uma obra, seria planejar uma pesquisa com amostras de obras e questões como: De qual movimento pertence esta obra? O que tem de mais característico, cor, pincelada, forma? O que lembra esta imagem? Por que? Esta pesquisa seria feita para dois grupos distintos, onde o primeiro grupo haveria alunos iniciantes de um curso de artes, e o segundo grupo, seriam formandos do mesmo curso.
A análise dos dados poderia no indicar que mesmo o primeiro grupo sendo de pessoas com interesse em artes, este não possuiria experiência estética suficiente para identificar e analisar esta citação.
Esta forma de avaliação da capacidade de identificação do citacionismo em imagens, poderia comprovar que, o apreciador com um conhecimento relevante em arte pode fazer novas relações com outras obras, isto é, estar se educando esteticamente.
Poderíamos dizer então, que por trás de uma obra de arte, se esconde a vida, a experiência do artista, o conhecimento e o mundo criado por ele. Fazer as devidas relações e decifrar os enigmas de uma obra de arte, contribuem no enriquecimento cultural, intelectual e estético da nossa sociedade.
Bibliografia:
BARBOSA, A.M. no texto "Considerações sobre o uso de imagens de 2¼ geração na arte Contemporânea". Imagens de 2¼ Geração, São Paulo, MAC/USP, set/out.1987.
BARBOSA, A.M. H.M.Salles (orgs) "O ensino da arte e sua história", São Paulo, MAC/USP.1990.pg 64-83
BARBOSA, A.M, L.B. Ferrara e Vernaschi (orgs) "A metáfora da Intertextualidade". O ensino das artes nas Universidades, São Paulo, EDUSP.1993.pg 77-89
Texto: "Uma visão iconoclasta das fontes das imagens nos desenhos das crianças". Revista Arte, n¼ 1 e 2. 1982
FUSCO, R. "História da Arte Contemporânea". Lisboa, Presença, 1988.
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