Título Academia de Artes de Dusseldorf
História da Arte No "Paraíso da Genialidade", ou como se aprende arte Inken Herzig Albrecht Fuchs (foto) A Academia de Artes de Düsseldorf é "uma escola das exceções", diz seu diretor Markus Lüpertz, ele próprio um dos artistas contemporâneos de renome que quer ensinar aos estudantes "que eles se encontram no mar do idealismo e no paraíso da genialidade". Nos corredores se sente o odor de tinta a óleo e terebintina, o odor que faz os artistas ficarem felizes e os leigos tremerem de respeito: o odor da Academia de Artes de Düsseldorf. Este prédio histórico, à margem leste do Reno, tem fama mundial: Paul Klee, Joseph Beuys, Gerhard Richter e muitos outros grandes nomes ensinaram aqui. E hoje, os mestres também pertencem ao primeiro escalão da arte alemã: Jörg Immendorff, Thomas Ruff, Rosemarie Trockel, A.R. Penck ou Markus Lüpertz, o "príncipe dos pintores" e diretor da academia. Uma vez ao ano, este venerável prédio abre suas portas ao público. As obras de cerca de 550 estudantes de "Arte Livre" se amontoam desde o chão até o teto. São objetos das classes de Escultura e Pintura, de Fotografia ou Arquitetura Artística. Cerca de 30 000 visitantes são atraídos à academia nessa semana de fevereiro. Sejam curiosos, galeristas ou descobridores de talentos, eles percorrem os ateliês, examinando as pinturas, as esculturas ou as instalações, pois a arte contemporânea da Alemanha é cobiçada. Os preços sobem, o mercado de artes está em rápida expansão, mas isto não é o mais interessante para os estudantes de Düsseldorf, pois não se trata somente de vender, mas do renome e da conclusão nesta academia. E uma "Carta da Academia" - em outros lugares chama-se de "diploma" - de Düsseldorf é inestimável. Esta academia é uma das mais notáveis entre as 25 escolas superiores de arte da Alemanha. Os pingos de chuva correm pelas altas janelas dos ateliês parecendo caramujos; no fundo, as silhuetas de prédios de seguradoras e de moda de Düsseldorf. "Nossa academia é uma ilha, muito longe do mundo", comenta Johanna Rzepka, 28 anos, e olha para fora. Poderia ser o momento para se tornar melancólica, mas hoje é o último dia na Academia, o dia, no qual ela receberá ou não a "Carta da Academia". Vestida de preto, preto feminino, sapatos pretos de salto alto, saia até os joelhos, os cabelos brilhantes em trança espanhola, ela anda inquieta pelo ateliê de quatro metros de altura, três passos para a direita, dois em frente, faz a volta numa parte da sua instalação, que ela construiu para essa finalidade. Um televisor, que mostra seu vídeo apaixonado, Johanna em roupa de motociclista, com óculos. Esta frágil polonesa, nascida em Cracóvia, na Polônia, quebra tubos néon no televisor, até que o vapor do mercúrio se evapore, subindo ao ar em forma de nuvens branquíssimas. Ela não sabia do perigo do mercúrio, confessa, mas leva em conta o risco. "Como disse Heráclito: a guerra é a origem de todas as coisas". Ela ri, um riso curto, nervoso, pois tem que esperar ainda uma hora toda pela comissão examinadora. Uma hora que separa o presente do futuro, a existência cívica da existência burguesa, os criativos do artista diplomado ou do gênio, que sempre parece viver mais do que o resto. Tobias Berger escolheu o caminho do meio. Ele desce a escadaria como se estivesse numa expedição: com blusão acolchoado e, embaixo, uma jaqueta de couro. O jovem de 33 anos é médico-assistente na psiquiatria e um apaixonado fotógrafo. Abandonar sua profissão por causa da arte? "Para tanto, ela me dá prazer demais", diz ele, contando como consegue unir a profissão com a paixão. Primeiro, trabalhou um ano como médico na África do Sul, depois, viajou pelo interior do país, fotografando veículos blindados. Um destes gigantes está exposto: uma fotografia composta com exatidão que Berger apresenta hoje, como ouvinte bem-sucedido do curso de Fotografia de Thomas Ruff, o professor que estudou em Düsseldorf, discípulo de Bernd e Hilla Becher, e que hoje é tão famoso como os artistas de fotos arquitetônicas. Markus Lüpertz anda pelo corredor. Para os estudantes, o diretor da academia, de 64 anos, é uma pessoa de respeito, mesmo que respeito para um artista já seja quase uma contradição. O que ele deseja para seus examinandos? Ele olha para seu pesado anel de ouro na sua mão: "Que eles tenham experimentado a afeição e a admiração do seu mestre". Lüpertz gosta de formular tais frases. Seus estudantes gostam de ouvi-lo, compenetrados, quando declama trechos de poesia em eventos festivos. "Para o futuro, quero ter alunos que se encontrem em casa no mar do idealismo, no vale do irracional e no paraíso da genialidade", escreve ele numa introdução do estudo para os futuros alunos. Uma linda frase, uma frase de peso. São frases esculpidas na pedra, sabendo que as pedras se tornam cada vez mais pesadas durante seu transporte: mesmo quando os professores não estão sempre presentes, eles sempre continuam presentes. Uma vista das salas de aula mostra que os alunos de Immendorff se deixam inspirar pelo carisma e pela caligrafia do mestre. Existe o perigo de que os professores se tornem gurus? Martin Breuer, de 25 anos, aluno de Immendorff, está descalço, e estes pés o levarão, no próximo semestre, até à China, para ganhar experiências naquele país. Ele acha: "O mais importante é o intercâmbio, o apoio nas classes, o discurso. No meu quartinho silencioso em casa não questiono tanto, não me desenvolvo tão rápido". E a influência dos professores? "Ela não é tão grande. Eles vêm por um par de dias por semana, então a gente discute. Mas o intercâmbio propriamente dito se realiza entre nós, os estudantes". É possível ensinar o que é arte? É possível aprender o que é arte? O acesso a essa academia só é concedido após uma comissão ter comprovado que o candidato possui talento, com base no exame de 20 trabalhos apresentados por ele. A "Carta da Academia" é outorgada após um mínimo de sete semestres de estudo. E o que acontece nesse meio tempo? Albert Oehlen, de 55 anos, que foi aluno do grande Sigmar Polke, dá um curso na academia há cinco anos. "Podemos ajudar a solucionar as contradições do artista", diz ele. Sua classe é freqüentada por 15 estudantes que o admiram, porque ele se engaja e permanece modesto: "Não sigo nenhuma filosofia. Eu simplesmente coloco à disposição tudo o que possuo", diz ele. Isto também faz Rita McBride. Esta artista norte-americana de Nova York, de 45 anos, conhecida pelos seus objetos e instalações, foi convidada há dois semestres para lecionar na academia, numa pequena classe. Ela resume sua filosofia da seguinte maneira: "Eu não julgo meus alunos, porque isto obstrui seu desenvolvimento. Faço propostas, procuro encontrar soluções com eles". Do térreo vem música que soa pelos corredores: três jovens musas dançam nuas em volta de um chafariz, lembrando por um segundo as ações provocadoras do fim dos anos sessenta. As musas de Düsseldorf se aproximarão do público, convidando provocativamente à participação, como fazia antigamente a artista Valie Export? Não! Elas fazem chover pétalas de rosas. Depois, vestem-se cuidadosamente e vão tomar chá no restaurante universitário. No segundo andar, as portas do ateliê de Johanna se abrem e a comissão examinadora entra: na frente, Markus Lüpertz. Logo depois, ela está novamente sozinha, com uma expressão transfigurada no rosto. "Estou felicíssima!", exclama ela, segurando na mão a Carta da Academia. E agora? "Eu sempre quis abrir uma pequena escola de arte", diz ela. No fundo da sala, seu vídeo ainda roda: Johanna arrebentando tubos néon até sair fumaça. Ela olha para o televisor rindo: "O professor Lüpertz me recomendou não mostrar esse vídeo para nenhum homem", completando com um risinho, "pelo menos não, antes de me ter casado". 14-03-2005
Data 25/04/2009
Fonte http://old.magazine-deutschland.de/issue/Klasse_2-

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