Título Arte Abjeta
História da Arte Por Guy Amado | Ilustração Ricardo Cammarota Arte abjeta Tendência artística que desponta internacionalmente nos anos 1990, é caracterizada por trabalhos que tematizam o orgânico e o escatológico. Deriva da noção psicanalítica de abjeção, popularizada na contemporaneidade pela teórica francesa Julia Kristeva na década de 1980. A noção de abjeto está, ainda, vinculada ao conceito de informe (ou formless, em inglês), desenvolvido décadas antes pelo escritor e pensador francês Georges Bataille. Intrinsecamente ligada ao binômio "atração e repulsa", a arte abjeta é esteticamente pautada no apelo a uma organicidade intensa, com forte materialidade e muitas referências ao corpo e as suas secreções. Duas mostras referenciais em torno do tema são Abject Art, no Whitney Museum (1993), e Formless: a Users Guide (ou Linforme: Mode dEmploi), no Centro Georges Pompidou, em Paris (1996). Alguns artistas associados à arte abjeta: John Miller, Kiki Smith, Orlan, Robert Gober, Andrés Serrano, Mike Kelley, Sue de Beer e Paul McCarthy. Body art Do inglês "arte do corpo" ou corporal, é uma manifestação das artes visuais em que o corpo do artista é utilizado como suporte ou meio de expressão, e está associada à arte conceitual e à performance − da qual é considerada por alguns teóricos como um "subgênero". É característico de propostas da body art um interesse em testar os limites do corpo humano, podendo em casos mais extremos envolver automutilações. Seu foco está menos no interesse em utilizar o corpo como plataforma estética do que em tomá-lo como suporte para tematizar questões de gênero ou discutir o uso e o papel social do corpo, por exemplo. Numa acepção mais ampla, pode-se detectar seus primórdios já no início do século XX, na premissa de Marcel Duchamp de que "tudo pode ser usado como uma obra de arte" − inclusive o próprio corpo. Além de Duchamp, podem ser considerados precursores da body art o grupo japonês Gutai e o francês Yves Klein, que utilizou corpos femininos em sua série Antropomorfias. Outros nomes ligados a essa vertente artística: Stelarc, Vito Acconci, Rudolf Schwarzkogler, Bruce Nauman, Gina Pane e Lygia Clark. Espetáculo O "espetáculo" é uma noção central na teoria situacionista desenvolvida pelo teórico e ativista francês Guy Debord, autor do paradigmático livro A Sociedade do Espetáculo, de 1968 (Contraponto Editora, 1997). Para Debord, a noção de "espetáculo" é usada para assinalar um novo estágio no capitalismo avançado − que associava a um "excesso do midiático" −, terreno de novas formas de poder ao qual ele propõe estratégias de resistência e subversão. No âmbito das artes visuais, em outra acepção, o "espetáculo" se confunde com o espetacular, referindo-se a uma tendência crescente, a partir dos anos 1990, a se valorizar soluções plásticas grandiosas, não raro com elaborados aparatos cenográficos e forte apelo visual. Por vezes flertando com a monumentalidade, tais propostas podem envolver o espectador num jogo sensorial ao qual é difícil permanecer indiferente. Essa concepção de espetáculo não se restringe à produção de artistas, mas é também assimilada como estratégica por instituições de arte na atualidade, que investem em requintadas soluções cenográficas para projetos expositivos. Alguns artistas com obras que se inserem nessa tendência: Matthew Barney, Ron Mueck, Damien Hirst, Vanessa Beecroft e Takashi Murakami. Estética relacional Teoria elaborada na década de 1990 pelo crítico e curador francês Nicolas Bourriaud, a estética relacional pode ser definida como plataforma estética e método crítico com base na detecção de certa sensibilidade compartilhada por alguns artistas contemporâneos, com os quais o crítico se identifica. O foco desse movimento está predominantemente na preocupação com as relações humanas na arte, do artista com seu entorno e com seu público. Na arte relacional, as experiências e repertórios individuais estão a serviço da construção de significados coletivos, o que faz com que a participação do público seja um fator-chave na ativação ou efetivação de tais propostas. Valorizam-se as relações que os trabalhos estabelecem em seu processo de realização e de exibição, com o envolvimento de artistas e do público. O projeto curatorial de Lisette Lagnado para a 27ª Bienal de São Paulo, Como Viver Junto (2006), é emblemático dessa linha de pensamento. Alguns artistas associados a práticas em estética relacional: Liam Gillick, Santiago Sierra e Rirkrit Tiravanija. Gambiarra O termo "gambiarra" é tipicamente brasileiro e usualmente aplicado para definir improvisação ou desvio de função de determinados aparelhos, objetos e fiações por falta de recursos. Geralmente significa uma solução rápida e precária, feita com base no que se tem à mão. O termo passou a ser associado ao universo das artes visuais no Brasil recentemente, com a emergência da produção de artistas que se valem de materiais banais e "pobres", em soluções plásticas que exalam certa precariedade. No que se convenciona referir informalmente como "estética da gambiarra" há alguns elementos quase sempre presentes, como a citada precariedade de meios, o improviso e a inventividade. Outra possibilidade seria a recombinação tecnológica para um novo uso dos materiais. Alguns artistas cuja produção mantém afinidades com a noção de gambiarra: Hélio Oiticica, Marepe, Marcone Moreira, Paulo Nenflidio e Milton Marques. Happening O happening, que se pode traduzir como "acontecimento", é uma forma de expressão artística que, apesar de quase sempre planejada, incorpora algum elemento de espontaneidade ou improvisação que se dá de maneira diferente a cada apresentação. Apesar de similar à performance, o happening se diferencia desta na medida em que, além do aspecto de imprevisibilidade, geralmente envolve a participação direta ou indireta do público espectador. Reações aleatórias por parte do espectador-participante são quase sempre esperadas em um happening. Como modalidade artística, ele foi desenvolvido nos Estados Unidos e utilizado pela primeira vez pelo artista Allan Kaprow em1959, bem como por Claes Oldenburg no início dos anos 1960. Como evento artístico, acontecia em ambientes diversos, geralmente fora de museus e galerias, geralmente não preparados previamente para esse fim. Instalação Linguagem ou manifestação artística onde a obra pode ser composta de elementos variados, em formatos e escala diversos, organizados em um ambiente aberto ou fechado. A disposição de elementos no espaço é temporária e pode buscar criar uma relação de participação direta com o espectador. Instalações só existem enquanto estão montadas tal como foram concebidas, embora possam ser remontadas em outros locais. Os trabalhos são experimentados no tempo e no espaço, buscando mais interatividade com o espectador. Embora "oficializada" e difundida somente a partir dos anos 1980, é possível encontrar o "formato" instalação já nos anos 1920, na obra de artistas como Marcel Duchamp e Kurt Schwitters, e mais adiante em Joseph Beuys e no grupo Fluxus. É hoje uma das modalidades ou linguagens artísticas mais populares no circuito da arte contemporânea. Inúmeros artistas trabalham com práticas de instalação. Alguns nomes de destaque são Olafur Eliasson, Stan Douglas, Ilya Kabakov, Cornelia Parker, Thomas Hirschhorn, Jessica Stockholder, Jason Rhoades, Cildo Meireles e Nuno Ramos. Intervenção Mais próximo de definir uma linha de procedimentos que propriamente uma linguagem ou movimentação artística, o termo intervenção, no âmbito das artes visuais, designa práticas ligadas a uma ação do artista sobre uma situação física preexistente. Geralmente é associada a ações que se dão em estruturas urbanas ou arquitetônicas sobre as quais o artista decide interferir, seja de forma incisiva, alterando efetivamente a configuração física ou o material do que toma como suporte, seja de forma mais discreta, rearticulando simbolicamente determinadas características do local. Entendendo o espaço como receptor ativo da proposta, é comum a intervenção embutir um comentário crítico de ordem cultural ou sociopolítica. Dentre artistas que trabalham nessa linha, podem ser citados os nomes de Daniel Buren, Hans Haacke, Krzysztof Wodiczko e Cildo Meireles. Paisagem O gênero da paisagem, apesar de muito tradicional, é relativamente recente na história da arte ocidental, só despontando com mais autonomia no século XVII; e ainda assim tido como "menor" nas categorizações acadêmicas. Apenas na virada para o século XIX, com a ascensão do romantismo, é que a paisagem passa a gozar de estatuto mais elevado. Passa a figurar no centro das práticas pictóricas, a serviço de estudos sobre a realidade do mundo e a natureza dos sentidos. Já no século XX, a paisagem deixa de existir como gênero convencional, mas subsiste como tema ou assunto de interesse para artistas, mesmo aqueles que operam sobre a abstração. Na arte da atualidade, a paisagem volta a ganhar destaque na produção de inúmeros artistas (notadamente pintores e fotógrafos, mas não só) e como mote curatorial em registros diversos. Pode ser explorada por conta de seus aspectos de permanência e transitoriedade, ou emergir como assunto sobre as relações da natureza com a arquitetura e a urbanidade. Alguns artistas que se interessam pela paisagem como assunto recorrente: Thomas Struth, Agnes Martin, Jeff Wall, Julien Opie, Dan Graham, Tacita Dean e Caio Reisewitz. Performance A performance artística é uma modalidade interdisciplinar que − assim como o happening − pode combinar diversas linguagens, como vídeo, teatro e poesia. Popularizou-se a partir dos anos 1970, mas suas origens estão ligadas a movimentos da vanguarda modernista como o dadaísmo e o surrealismo. Difere do happening por ser mais cuidadosamente elaborada e não envolver, necessariamente, a participação dos espectadores. Em geral, segue um roteiro previamente definido, podendo ser reproduzida em outros momentos ou locais. Apesar de poder incorporar aspectos cênicos, diverge do teatro por não tratar diretamente de representação. Por seu caráter efêmero e de rápida duração, depende de registros, seja em fotografia, vídeo ou memoriais descritivos, para chegar ao grande público. Alguns nomes seminais ligados a esta modalidade artística são Joseph Beuys, Chris Burden, Marina Abramovich, Carolee Schneeman e Gilbert e George. Site specific Arte de site specific (ou "sítio específico") se refere a trabalhos criados ou concebidos para existir em um determinado local. Cabe lembrar que em português "sítio" (equivalente ao site, em inglês) é um sinônimo de local ou lugar. Ao conceber uma proposta site specific, usualmente o artista analisa as características únicas do local, sejam arquitetônicas, históricas, sociais e/ou ambientais, enquanto planeja e desenvolve o trabalho de arte. Originalmente o termo foi aventado pelo artista norte-americano Robert Irwin, sendo mais popularizado a partir de meados dos anos 1970 por jovens escultores que começaram a realizar encomendas para grandes espaços urbanos. De um modo mais amplo, o termo tem sido empregado para designar também qualquer trabalho que seja (ou esteja) permanentemente vinculado a um determinado espaço ou local. Deve-se ressaltar que nos últimos quinze anos houve uma mudança significativa na noção de práticas artísticas site specific tais como pensadas nos anos 1960-1970. Uma abordagem mais "atualizada" delas é conjugada sob a terminologia site specificity - da qual um expoente teórico é historiadora da arte e da arquitetura Miwon Kwon. Dentre outros artistas que produzem ou produziram na linha de procedimentos site specific, pode-se citar os nomes de Robert Smithson, Hans Haacke, Walter De Maria, Richard Serra, Christo e, mais recentemente, Mark Dion, Andrea Fraser e Sarah Sze. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- Arte abjeta Tendência artística que desponta internacionalmente nos anos 1990, é caracterizada por trabalhos que tematizam o orgânico e o escatológico. Deriva da noção psicanalítica de abjeção, popularizada na contemporaneidade pela teórica francesa Julia Kristeva na década de 1980. A noção de abjeto está, ainda, vinculada ao conceito de informe (ou formless, em inglês), desenvolvido décadas antes pelo escritor e pensador francês Georges Bataille. Intrinsecamente ligada ao binômio "atração e repulsa", a arte abjeta é esteticamente pautada no apelo a uma organicidade intensa, com forte materialidade e muitas referências ao corpo e as suas secreções. Duas mostras referenciais em torno do tema são Abject Art, no Whitney Museum (1993), e Formless: a Users Guide (ou Linforme: Mode dEmploi), no Centro Georges Pompidou, em Paris (1996). Alguns artistas associados à arte abjeta: John Miller, Kiki Smith, Orlan, Robert Gober, Andrés Serrano, Mike Kelley, Sue de Beer e Paul McCarthy. -----------------------------------------------------------------------------------------------------
Data 25/03/2010
Fonte cda/itau cultural

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