Descrição Graffiti no Brasil
Título Arte Urbana Graffiti
História da Arte Graffiti no Brasil Vinte e duas horas e vinte e sete minutos do dia 9 de março de 1979. Um homem magro, cabeludo, trajando sobretudo escuro, atravessa a Avenida Ipiranga empunhando nas mãos trêmulas uma lata de spray vermelho-fogo. Seu olhar atento nota um muro bem pintado de branco. Observa a sua volta e, supondo-se sozinho, tão rápido quanto o pensamento, surge naquele muro "Ah Ah BEIJE-ME", ao lado de uma enorme boca aberta, carnuda , exposta, lembrando uma puta. Ao tampar a lata para deixar o local, olhando para os lados, leva um grande susto , pois, quase nada , um homem pequeno e extremamente rápido já havia graffitado, ao lado da bocarra um intrigante botinha preta, de cano alto e salto agulha. Quando o segundo dobrava a sua máscara (molde vazado sobre o qual se aplicava tinta spray), é que percebeu a presença do primeiro. Entreolhavam-se e falaram quase ao mesmo tempo: "Ah , então é você?". Nesse momento , acontece o que , num futuro próximo, viria a ser uma das mais fecundas identificações de propostas artísticas, uma sólida amizade entre dois dos mais apaixonantes artistas contemporâneos que esta cidade já produziu. O primeiro era Hudinilson Junior, artista que juntamente com Mario Ramiro e Rafael França formou o grupo 3nós3, que tinha como proposta intervir na paisagem urbana propondo "intervenções". Como o próprio artista declarava, oferecer à cidade uma nova versão do espaço urbano. No produtivo ano de 1979, o grupo encapuzou com sacos de lixo as estatuas da cidade visando chamar a atenção das pessoas que nunca, ou quase nunca, reparavam, em seu dia-a-dia, nas obras de arte, nas estátuas de nossa cidade. Na manhã seguinte , a imprensa registrou o fato. No mesmo ano vedaram as portas das principais galerias com um xis em fita crepe, deixando um bilhete em cada uma " O que está dentro fica, o que está fora se expande", e essas atitudes pró o graffiti, ou mesmo a arte urbana, na rua , foram evoluindo as próprias. Em 1980 , o grupo em mais de uma ação noturna, estendeu 100 metros de plástico vermelho pelos cruzamentos e entradas do anel viário da Avenida Paulista com a Rua da Consolação. O Detran, porém desmontava essa e outras ações do grupo que realizou um série de dezoito "intervenções" pela cidade até 1982, quando dissolveu-se. O outro artista (da botinha), era Alex Vallauri, o principal precursor do graffiti no Brasil. Era ítalo-etíope e chegou ao Brasil, vindo de Buenos Aires, em 1964. Desde então, costumava desenhar mulheres do Porto de Santos em trajes íntimos. De 1978 a 1980, começou a executar suas máscaras em São Paulo , onde passou a morar para estudar na Faap, da qual viria a ser professor. Seus primeiros graffitis eram muito simples, mas foram sendo aprimorados. À já citada bota de mulher foi acrescentada uma luva preta apontando; depois, óculos escuros estilo anos 50; finalmente, surgiu uma bela mulher latina. Acidade foi acompanhando essa aparição, cercada de mistérios, com curiosidade, passo a passo, durante os anos 70. As máscaras de Alex tiveram origem nas aulas de gravura na Faap. Logo, havia o graffiti dessa mulher apontando um frango assado. Assim ela foi apelidada de "Rainha do Frango Assado", feita em tamanho natural com maio de pele de onça. Em 1979, junto com Túlio Feliciano, um pernambucano , escritor de teatro, fez um trabalho de arte postal usando xerox. A idéia consistia em mandar aproximadamente 100 cartões postais em xerox para uma cidade de São Paulo. Depois de alguns dias, mandava-se novamente o mesmo cartão com uma ponta de bota graffitada na foto da cidade e com um carimbo escrito TRAJETÓRIA. O terceiro passo tinha a bota inteira graffitada aterrissando em São Paulo e um texto atrás falando que a bota tinha invadido a cidade . Muitos de seus graffitis vinham de uma grande coleção de carimbos dos anos 50. Laex carimbava e ampliava no tamanho desejado, depois recortava e colava no papel duplex. Todos queriam saber quem era o autor das imagens negras nas paredes da cidade. Quando a imprensa descobriu , ele ficou famoso e participou de três Bienais em São Paulo , alem de muitas exposições em galerias. São dessa mesma época inicial as poesias graffitadas como HENDRIX MANDRAX MANDRIX, de Walter Silveira, assim como a frase É DIFICIL, em formato de prédios , de Tadeu Jungle, e outras. Hudinilson Junior , com o incentivo de Alex, passou a imprimir pela cidade figuras gregas e seu próprio retrato, ao qual chamou de Projeto Narciso. Junto com Alex vários outros artistas de peso aderiram e passaram a usar a cidade como suporte para suas obras . Entre eles estão Carlos Matuck, Waldemar Zaidler, Maurício Villaça, John Howard , Ozéas Duarte e o grupo TupiNãoDá e outros que, embora não mencionados, deram importante colaboração para o desenvolvimento de uma linguagem própria feita no Brasil. Maurício Villaça , antigo amigo e colaborador de Alex Vallauri e herdeiro de varias de suas máscaras ficou conhecido por seus imensos murais. Villaça sempre se preocupou em registrar nos muros sua visão dos acontecimentos do país e cenas criadas a partir da mistura de elementos um tanto discrepantes , como a havaiana com a cabeça do presidente Sarney, numa bandeja, ou o Almoço na Relva, quadro de Monet, em que a moça nua contracena com o Fantasma, das historias em quadrinhos. Villaça e Márcia Arca idealizaram e produziram, em novembro de 1990, ARCAZYLUM, "ópera fake", fabula pós-moderna que utilizava o acidental e o nonsense como ferramenta para uma reflexão sobre a ética e a estética liberal. Disseca o conservadorismo anacronico que trava os anos 90. O espetáculo traduz o clima do hospício de Gotham City, onde estão internados os inimigos criminalmente insanos do Batman, como o Coringa e o Pingüim. O bizarro e o anárquico de livre associação das pichações nos muros cria no palco um painel contemporâneo. Julio Barreto, que foi vizinho de Alex, observava-o e ajudava. Também assimilou sua técnica e, usando de grande criatividade e talento , infestou a cidade com sua "lambretinhas, sorvetes, surfistas". Sua fixação são os personagens de histórias em quadrinhos, como o Príncipe Valente, Ferdinando Buscapé e o Spirit. Um graffiti do Spirit feito por Barreto foi autografado pelo autor do personagem, Will Eisner, durante sua visita a São Paulo. Ozeas Duarte achava que o acesso a museus e a galerias de arte era restrito a poucos privilegiados, por isso fez um releitura, em graffiti, de obras de pintores consagrados , como Anita Mafaltti, Di Cavalcanti, Ismael Neri e Van Gogh. Assim nasceu como o próprio artista definiu o "Museu de Rua". Ozeas, muito amigo de Alex, herdou algumas de suas máscaras, assim como outras de Maurício Villaça , que antes de morrer jogou fora 90% do conjunto de sua obra. Nessa época , da Vila Madalena surge o grupo TupiNãoDá, nome trazido por José Carratu de um antigo grupo de artistas plásticos do qual fazia parte na década de 70. Jose Carratu, Jaime Prades e Rui Amaral (a qual entrevistei para utilizar seus argumentos como suporte para abordar temas duvidosos sobre o graffiti e mesmo sua atuação no espaço urbano), obtiveram projeção no universo de artes plásticas ao participar de um projeto na Pinacoteca do Estado intitulado Projetos Contemporâneos e justamente ao reconhecimento de novos talentos . O grupo ganhou o primeiro lugar, e a partir daí, cresceu, tendo participado, a convite de Alex Vallauri, na célebre Trama do Gosto, em que 150 artistas , dentro de trinta instalações , recriaram o caleidoscópio da cidade. Alex , curador dos graffiti, imaginou duas áreas para a instalação: uma em que se recriou um beco com várias referências urbanas, outra para a projeção continua de um audiovisual sobre os graffiti da cidade. A mostra aconteceu dentro do prédio da Bienal. Alem do grupo TupiNãoDá , participaram daquele evento os artistas Ozeas Duarte, Waldemar Zaidler, Vado do Cachimbo, Hudnilson Junior, Maurício Villaça e o proprio Alex Vallauri. A curadoria geral foi de Sônia Fontanesi e Carlos Moreno. Em sua primeira formação , o grupo TupiNãoDá teve grande atuação. Outras formações foram se configurando, tendo passado por ele Claudia Reis , Alberto Lima, Carlos Delfino e Ciro Cozzolino. Naves espaciais, labirintos em preto e branco, feitos a base de rolinhos de espuma, grandes e complexos motores e primorosos desenhos de giz sobre fundo negro, que hoje servem de inspiração para muitos "artista". Rui Amaral , antes de se juntar ao grupo , começou com graffiti na Segunda metade da década de 70, quando com Alberto Lima graffitava uma mascara chamada "Patrulha Canabica", com folhas de maconha , na porta de pessoas apreciadoras da erva, como os nazistas faziam com a estrela de Davi em frente das casas de judeus. Ao sair do grupo TupiNãoDá, Rui manteve sua produção, e muito que fez em companhia de John Howard, atuando principalmente na região da Vila Madalena. Rui é responsavel pelos maiores graffitis da cidade, entre eles o da Avenida Doutor Arnaldo com a Paulista. Dentro de seu universo imagético , seu personagem mais conhecido é o Bicudo, um serzinho extraterrestre com um enorme nariz tocando guitarra que acabou virando desenho animado. Mantém seu interesse pela arte publica, porem tem seu trabalho a parte que ocupa grande parte de seu tempo, mas tem projetos a realizar grande graffitis murais, graffitar os postes da Paulistas, o mesmo a fazer com os telefones públicos, em fim a criatividade e a essência do graffiti ainda esta em sua alma , um grande exemplo é a entrevista que fizemos com ele, muito importante para o meu projeto onde ao visualizar o personagem Bicudo na parede de seu estúdio insistiu em afirmar que não passava de um desenho , como parte de sua decoração, que não podia ser graffti pois fugia de sua essência, a utilização do espaço urbano como base. O já citado John Howard , o mais velhos deles mas nem por isso menos, rebelde, é graffiteiro americano. Radicado no Brasil, morou na Vila Madalena, combina pequenas mascaras com seu traço a mão livre e desenha grandes cabeças psicodélicas, com mensagens do tipo " DEUS SE COME-SE".Com mestrado em artes plásticas pela Universidade da Califórnia , John vem passando por todas as fases e transformações que o graffiti tem sofrido desde seu inicio, junto com Alex. Por manter sua característica atitude de produtividade continua, fez com que Rui Amaral o chamasse de "Locomotiva do Graffiti", e, talvez, seu louco motivo é que o faz vir graffitando, ora São Paulo, ora Pensilvânia. Do ABC paulista , também surgiram grandes nomes, polêmicos e igualmente irreverentes: Vado do Cachimbo, Numa Ramos, Jorge Tavares e Job Leocadio. Esses quatro artistas, alem de ser participantes do grande boom do graffiti dos anos 80 e de estar entre os principais autores (exceto Vado)dos famosos super-heróis surgidos ainda nos anos 80, juntaram-se a Márcia Mayumi Chicaoka e Carmen Akemi Fukunari , também famosas por seus curingas e pingüins espalhados pela urbe. Márcia e Carmen começaram a graffitar em 1988, numa oficina de graffiti na Faap coordenada por Ozeas Duarte. Márcia na época cursava comunicação visual e Carmen, desenho industrial, ambas na Faap. Juntas participaram de exposições na Faap, nas Oficinas Culturais Oswald de Andrade e nos eventos Primavera Cultural do Morumbi Shopping , Salão Internacional de Humor de Piracicaba(SP), EM 1988, Campanha de Sócios do Masp, Batman na Bienal, entre outros. Com Maurício Villaça fizeram a capa do disco Zona Zen, de Rita Lee, painéis para a sorveteria Swensens, mural para o convento da Vila Mariana, decoração para o Crash e Graffiti Club, cenário para o programa Metrópolis, da TV Cultura ,serie de exposições Graffiti a Vida, no Sesc, Galeria Kitaro Zen e Masp Graffiti de rua em Salvador(BA). Em 1989, colaboraram na elaboração de alegorias para uma escola de samba em São Paulo e em muitas outras atividades, sempre buscando o graffiti como forma base de trabalho . Márcia e Carmen ,juntamente com Carolina Li , aluna de oficinas de graffiti , formaram o conhecido grupo A Trinca , que realizou muitos trabalhos de qualidade, principalmente em São Paulo. Os grupos dos super-heróis citado acima, exceto as meninas , elaboraram um projeto cultural concluído no final de 1990:São Caetano Conta a Sua Historia em Graffiti. Esse projeto obteve êxito , pois houve total identificação da população com os painéis expostos, uma vez que reproduziam os fatos e fotos da historia da cidade. O trabalho foi realizado após pesquisas , com coleta de material farto e aplicado em larga escala (área de 1200 metros quadrados) por meio de mascaras para graffiti. O êxito mostrou a força do graffiti como meio de comunicação, e alem do que abriu um canal maior para a aceitação e a pratica do próprio, e podemos afirmar que graças a essas atitudes o graffiti vem evoluindo e se estendendo ao longo dos tempos. Dessa descoberta surgiu a estreita ligação do graffiti , à base de mascara, com design, que no caso é o gráfico. O graffiti se insere no design quando se transforma em arte utilitária satisfazendo uma necessidade do mercado, ou quando se coloca a serviço de uma proposta com fim educacional. Inúmeras são as áreas de interesse para a utilização da técnica e do estilo visual de arte urbana contemporânea. Atualmente Jorge vem apresentando projetos pedagógicos e trabalhando comercialmente com sua técnica, mais uma vez insisto em afirmar que o graffiti , abre diversas portas para o mundo da criatividade e de maneira a estabelecer relações com diversos meios . Dentre vários artistas importantes citados , ou mesmo não citados, infelizmente, alguns continuam propondo o graffiti enquanto linguagem, demonstrando interesse pela discussão da arte publica , enquanto outros enveredaram por caminhos diversos , como muitos citados anteriormente, assumindo diversas propostas, ligadas em sua essência ao graffiti , evidenciando o estilo das mascaras (escola vallaurina), o estilo a mão livre ( escola Keith Haring, TupiNãoDá) e também o estilo americano, não muito apreciado na época. A tônica da produção de rua, a pichação, nesta virada de milênio sem duvida ainda não obteve a atenção necessária das autoridades , sociológicos, etc...o que é um descuido, pois, se a cidade inteira está pichada, é só observar para receber a mensagem,porém esse "menosprezo", e talvez repressão a pichação , esta fazendo com que os jovens desse movimento caminhem para a vertente o graffiti, mas também por outro lado, a rebeldia quanto a repressão pode aflorar, "tudo que é fora da lei é legal, muita adrenalina , o barato é loco, não tem explicação, você com um spray na mão , você é tudo e pode com tudo "como diz Fê, hoje atuando no graffiti, que já pichou muito durante sua adolescência (resumindo o que pra ele seria picho).
Data 16/03/2007
Fonte intravila.com.br

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