Descrição AS Artes na Itália do Renascimento
Título Renascimento
História da Arte As artes na Itália do Renascimento BURKE, Peter. Renascimento Italiano: Cultura e sociedade na Itália. São Paulo: Nova Alexandria, 1999. Aline Herold; Daniela dos Santos; Lúcia Secchin; Lucélia da Rosa; Marcia de Lima; Elisabeth Konrad; Walkíria Darós da Silva O objetivo do livro é colocar, ou recolocar, a pintura, a escultura, a arquitetura, a música, a literatura e o conhecimento acadêmico da Itália do renascimento em seu ambiente original, a sociedade daquele tempo, sua cultura no sentido amplo desse termo flexível. É aconselhável começar uma breve descrição, das características principais das artes dessa época. Às vezes escreviam sobre o Renascimento, mas não tinham uma idéia clara e distinta do renascimento como período. Não tinham idéia de literatura, porém tinham interesse em poemas e retóricas; apenas no final do período começava a emergir um conceito parecido com "obra de arte". A visão convencional que se tinha das artes na Itália do renascimento no século XIX, e que ainda hoje é amplamente adotada, pode ser resumida assim: as artes floresceram, e seu novo realismo, secularismo e individualismo demonstram que a idade média estava encerrada e que o mundo moderno havia começado. Essas proposições foram questionadas tanto por críticos como por historiadores, se essas sobrevivessem seria as custas das reformulações. Dizer que as artes floresceram em uma determinada sociedade significa dizer que ali se produziu um trabalho melhor do que em muitas outras sociedades. Rafael foi considerado um grande artista e Ariosto um grande escritor desde o seu tempo até hoje, mas esse consenso não existe quando se trata de Michelangelo, Masaccio, ou Josquin de Près, por maior que seja a reputação deles hoje. Da mesma forma, poucos se colocarão contra a sugestão de que a Itália do renascimento foi uma sociedade em que as conquistas artísticas se aglomeraram. Essa aglomeração é mais espetacular na pintura, de Masaccio até Ticiano; na escultura de Donattelo ate Michelangelo; na arquitetura de Brunelleschi ate Palladio. A literatura é mais difícil. Depois de Dante e Petrarca, veio o que se chamou século sem poesia. No reino das idéias existem muitas figuras notáveis e um movimento importante, o dos Humanistas. Embora se tenha composto bastante na Itália do renascimento, a maior parte da boa música era obra de artistas dos Países Baixos, e só no século XVI aparecerão compositores do calibre dos Gabrieli e Constanzo Festa. O período de inovação nas artes foi entre os séculos XV e XVI, na Itália, foi uma época de novos gêneros, estilos e técnicas. É um período cheio de primeiros: 1º pintura em óleo; 1º gravura em madeira; 1º gravura em metal; e 1º livro impresso. Na escultura, vemos a ascensão da estatua em pé, do monumento eqüestre e do busto. Na pintura o retrato emerge como gênero independente, seguido pela paisagem da natureza morta. Na arquitetura, a invenção do planejamento urbano. Na literatura, a ascensão da comédia, da tragédia e da pastoral. Na música a emergência da frottola e do madrigal. As teorias das artes, literária, musical e política tornam-se autônomas neste período. A postura clássica sofre a inovação das artes visuais e é formulada em meados do século XVI. Os Italianos renascentistas não perderam completamente suas reverências pelas tradições e repudiaram as tradições recentes em nome de uma mais antiga. Admiraram as antiguidades clássicas, permitindo-lhes atacar a tradição medieval como se fosse um rompimento com a tradição. O entusiasmo pela Antigüidade clássica é uma das principais características do movimento do renascimento, como um meio de legitimar a inovação em uma sociedade tradicional, quer como uma extensão das artes e do fascínio político da Roma antiga. A pintura e a música são os casos mais intrigantes porque os modelos clássicos não estavam disponíveis. A crítica literária de escritores clássicos como Aristóteles e Horácio era levada a fornecer critérios de excelência de pintura, partindo do princípio que assim como na poesia, assim também na pintura. O interesse pela música grega apareceu mais tarde, somente no século XVI. Por isso, há a idéia que ele faz um renascimento musical no século XV tem sido contestada. As descrições contemporâneas nas artes são fontes indispensáveis para entender o que estava acontecendo, mas não podem ser tomadas por seu valor aparente. Os contemporâneos afirmavam estar imitando os antigos e rompendo com o passado recente, mas na prática emprestaram de ambas as tradições: Michelangelo usou Apolo clássico como modelo para seu Cristo do Juízo Final, um príncipe do renascimento leria ou ouviria tanto o romance medieval de Tristão como o clássico épico de Enéias. A ascensão do humanismo não desbancou a filosofia medieval. Realismo, secularismo e individualismo são traços atribuídos as artes da Itália do renascimento. O realismo se distingue em 3 tipos: doméstico, enganador e expressivo. "Domestico" refere-se ao cotidiano, comum, baixa classe; "enganador" são pinturas que tentam produzir a ilusão de que não são pinturas e o "expressivo" manipula a realidade externa para exprimir o que há no interior. É importante notar os detalhes. Hoje, muitas vezes consideramos os detalhes como pinturas do gênero em miniaturas. Os contemporâneos viam os detalhes como símbolos ou ornamentos destinados a preencher um espaço vazio. É possível encontrar detalhes domésticos na literatura da época, nos mistérios teatrais, por exemplo. Na literatura ao contrário da pintura existem gêneros que o realismo doméstico preenchia no primeiro plano, como por exemplo, à novela. A música podia tentar recriar cenas de mercado ou caçada. O renascimento era considerado um passo importante da ascensão ou representação mais e mais acuradas da realidade. Essa noção foi questionada na época do desenvolvimento da arte abstrata. Heinrich Wölfflin sugeriu que é um erro a história da arte trabalhar com a desajustada noção de imitação da natureza, como se ela fosse um processo homogêneo de aumentar a perfeição. Alois Riegh informa que "todo estilo visa a uma reprodução fiel da natureza e nada mais, mas cada um tem a sua própria concepção de natureza". Pode se pensar que a descoberta renascentista da perspectiva linear é um contra exemplo. Esse exemplo foi questionado por Erwin Panofski e Pierre Francastel quando afirmam que a perspectiva é uma forma simbólica, um conjunto de convenções como outro qualquer, dependendo da visão monocular. Se forem válidos esses argumentos falar de realismo renascentista é dizer uma coisa sem sentido. A prova da concepção de natureza de um artista vem das suas pinturas, mas as pinturas são interpretadas em termos dessa mesma concepção. Partir do fato empírico de que algumas sociedades e alguns indivíduos se interessam particularmente pelo mundo visível. A cultura italiana do renascimento foi uma cultura secular. Com a "criptossecularização" as pinturas dedicaram menos atenção ao santo e mais ao fundo. Os contemporâneos não faziam as distinções entre sagrado e profano que se tornaram obrigatórios na Itália no final do século XVI, depois do Concílio de Trento. Segundo padrões posteriores, eles estavam santificando o profano e profanando o sagrado. Outra característica é o "individualismo", assim como o realismo, a obra de arte deste período era feita em um estilo pessoal, destacam-se Leonardo, Rafael, Michelangelo e Giorgione. Na literatura, a imitação de modelos antigos era o objeto de discussão, no qual os autores questionaram o valor da auto-expressão individual. Havia uma tendência para maior autonomia, no sentido de que as artes estavam se tornando cada vez mais independentes de funções práticas, por exemplo, a música estava deixando de depender das palavras. Outra característica geral da cultura italiana deste tempo era a ruptura de compartimento, o cruzamento de disciplinas. O lapso entre teoria e prática em diversas artes e ciências se estreitaram nesta época, e isso foi causa ou conseqüência de muitas e famosas inovações. A recepção do renascimento Italiano no exterior foi precedida pela recepção do renascimento toscano em outras partes da Itália. As inovações florentinas foram introduzidas por artistas florentinos, enquanto o dialeto da toscana ia se estabelecendo como língua literária de toda península. A ascensão de Roma, uma cidade que não tinha forte tradição artistica própria, durante o começo do século XVI estimulou uma arte inter-regional.

Os Historiadores: a Descoberta da História Social e Cultural BURKE, Peter. Renascimento Italiano: Cultura e sociedade na Itália. São Paulo: Nova Alexandria, 1999. Ana Paula, Andréia Oliveira da Silva, Cassiana Coradi, Fernando Fagundes, Marielin Benin, Patrícia Marques, Suzana Zanet Garcia, Tiago Machado. A arte renascentista ao mesmo tempo que nos impressiona pela riqueza em seus detalhes, nos intriga pelo fato de como foi possível atingir tal nível de perfeição. Com relação a isto, o humanista Leonardo Bruni, explica que o surgimento de extraordinários artistas está diretamente ligado à política, ou seja, as artes tendem a refletir a realidade do período em que estão inseridas. Ao falarmos de história da arte renascentista, temos em Girgio Vasari, o precursor desse estudo. Esse artista plástico italiano, que viveu no final do período renascentista, constatou em seu livro Life of Massaccio, que: "É de costume da natureza, quando ela cria um homem que realmente excede em alguma profissão, muitas vezes não criá-lo sozinho, mas produzir outro ao mesmo tempo e num lugar vizinho para competir com ele". Outra importante questão que Vasari aborda, é com relação à primazia de Florença no que diz respeito ao Renascimento, e para tanto, ele elenca três principais fatores: "o fato dos habitantes serem extremamente críticos; a necessidade de serem constantemente criativos; o amor à honra e à glória que aquele ar gera nos homens de todas as ocupações". O que podemos depreender de Vasari é que o mesmo forneceu explicações que podemos chamar de econômicas, sociais e psicológicas, em termos de desafio e resposta, e a necessidade de realizações. Giogio Vasari - A fundação de Florença - 1565 Voltaire buscou desviar a atenção dos historiadores, tirando o foco do tema guerras, para o tema artes, afirmando que "a natureza produziu homens extraordinários em quase todos os campos, acima de tudo na Itália". O Iluminismo tratou do tema renascimento por meio de duas explicações básicas: liberdade e opulência. O tema liberdade em si foi tratado de forma mais específica pelo Iluminismo. Segundo os pensadores iluministas a liberdade encorajava o comércio e o comércio encorajava a cultura, ou seja, seria uma espécie de 'uma coisa puxa outra'. Os teóricos escoceses apontam para o mesmo caminho e inclusive o próprio Adam Smith planejou escrever um livro sobre a relação entre as artes e a ciência, bem como a sociedade em geral, em que provavelmente as cidades-estados da Itália teriam um papel de destaque. Os escoceses idealizaram uma ciência da sociedade seguindo as leis da física, um modelo mecânico, linear e positivista. Neste mesmo contexto, o alemão Winckelmann discutia a relação arte-clima, arte-sistema político e assim por diante, pois objetivava construir a história da arte "sistematicamente inteligível", vinculado ao próprio contexto (a arte contextualizada). Herder, ao contrário dos escoceses que discutiam as mudanças culturais em termos de impacto do comércio, via a arte e a sociedade como parte do mesmo todo, onde o homem é um ser pensante, que habita e constrói. Hegel descreveu as artes como "objetificações do espírito", sugeriu que no período renascentista o florescimento das artes, o reviver do aprendizado e também a descoberta da América eram exemplos de expansão espiritual. Marx rejeitou a ênfase de Hegel na consciência, ou seja, em sua teoria a consciência é determinada pela vida; relaciona artes e economia, onde sugere que a superestrutura cultural seria moldada pela base econômica. Burke, citando Marx, o fato de um indivíduo como Rafael conseguir desenvolver seu talento depende inteiramente da demanda, que, por sua vez, depende da divisão do trabalho e das condições da culta humana dela resultante. A Itália renascentista foi para Jacob Burckhardt uma versão idealizadora de sua juventude, bem como, uma fuga da sociedade moderna. Ainda, via o renascimento, como forma de crescimento individual. Nessa perspectiva, Burckhardt contribuiu para o que ficaria conhecido como "Mito do Renascimento". Jacob Burckhardt Burckhardt tinha preferência pelo estudo dos chamados "cortes" das sociedades culturais em determinados tempos históricos, nesse caso, sua preocupação tinha ênfase com as polaridades de subjetivo e objetivo, interno e externo. Burckhardt, também, considerava certos períodos em blocos, analisando assim, as sociedades em termos de reciprocidade entre três "poderes" Estado, cultura e religião, os quais se moldam entre si, o autor acreditava, ainda, que havia uma relação entre arte e cultura geral, que, por sua vez, deve ser entendida como livre (solta e ligeira), pois toda arte tem vida e história. Já quando falamos de Heinrich Wölfflin, quanto as suas inovações, ressaltamos que em sua abordagem da história da arte distinguia dois caminhos: o primeiro salientava a abordagem "internalista" e o segundo, uma abordagem "externalista" sendo que ambas completavam-se. Assim, segundo Wölffin, ao explicar qualquer estilo de arte temos a tendência a demonstrar todo um "contexto-histórico" observando se nele está contido a "harmonia" com outras características inseridas no período observado. Contudo as suas observações e abordagens eram limitadas, restringindo a sua análise quanto ao estilo a termos "intrínsecos". Dessa forma, por conta dessas limitações, Wölfflin transfere a hereditariedade intelectual para Aby Warburg, que troca o mundo dos negócios (era filho de um banqueiro) pelo conhecimento acadêmico. Warburg, nunca teve como professor Burckhardt, porém em 1892, mostra a este um "ensaio sobre Botticelli" que descrevia "os contatos de um pintor com poetas e humanistas" sendo este ensaio muito semelhante aos estudos de Burckhardt, merecendo assim, muitos elogios pelo teor do conhecimento produzido. Os estudos de Warburg, sobre a história da arte estavam interligados com uma parcela do pensamento histórico cultural, tendo interesse especial na história social e econômica, sendo que a sua "preocupação central era com a persistência e transformação da tradição clássica". Percebia e interagia com a interdisciplinaridade entre as fronteiras intelectuais, não se sujeitando ao controle do saber. Conjuntamente com esse procedimento, acreditava fielmente na máxima de que "Deus é encontrado nos detalhes". Wackernangel, um historiador de arte da Basiléia, fez da arte do Renascimento uma história completa e detalhada, fazendo um estudo sobre Florença no período de 1420 a 1530, concentrado nas artes, nos estúdios, nos patronos e no mercado da arte. Em um livro publicado em 1938, Wackernangel focalizou e definiu como material complexo econômico assim como, as circunstâncias e condições socioculturais; este livro é uma estrutura sobre o conhecimento, literatura e música; além das artes visuais e da Itália. Nos anos de 1930 ele faz outra tentativa para preencher o lapso entre a história social e cultural do Renascimento, oferecia uma sociologia com a mistura de Marx e Burckhardt. Já Alfred von Martim, preocupa-se com os temas do individualismo e com as origens da modernidade, diferentemente de Burckhardt, coloca mais ênfase na interpretação econômica do Renascimento, na curva do desenvolvimento do tempo. Outro estudo do Renascimento na tradição de Marx e Mannhein é um livro de Frederick Antal, que trata de um contraste entre duas Madonas penduradas lado a lado; ambas pintadas entre 1425 e 1426. Antal explica as diferenças pelo fato das obras serem destinadas a setores diferentes e com público de varias classes sociais, com visões de mundo diferentes. Contudo a abordagem marxista sofre severas críticas. Ernst Gombrich afirmava a existência de um duplo sentido na expressão "história social da arte". O primeiro sentido define a arte enquanto instituição; o segundo aborda a história social refletida na arte, na qual Gombrich acreditava ser dispensável. Já Wackernagel acreditava numa abordagem microssocial, onde a arte refletia o mundo do ateliê e do patrono; seguindo essa linha muitos trabalhos de arte se destacaram no período renascentista. Assim, deu início entre os historiadores um debate sobre "a mudança das condições materiais em que a arte era encomendada ou criada", ou seja, se a arte deveria manter-se no nível do "olhar do ateliê" ou estender-se a sociedade. Podemos citar entre esses historiadores Robert Lopez, cujo interesse particular é a história econômica de Gênova. Acreditava que as crises econômicas ocorridas nos séculos XIV e XV foram responsáveis por mudanças nas perspectivas da arte, para Lopez a cultura era subjugada pela economia; acolhe com surpresa as diferenças que se dá entre as artes medievais da Itália (próspera economicamente) e da França (economicamente menos sucedida), em outras palavras, enquanto a França consumia um percentual maior de mão-de-obra e capital na construção de suas catedrais, os comerciantes italianos gastavam seu capital no engrandecimento da cultura renascentista. Como diz Lopez "o valor da cultura subiu no mesmo momento em que o valor da terra caiu". A história da arte renascentista agora conhecia uma nova abordagem sobre a prosperidade do período denominado de Renascimento. Hans Baron explica o Renascimento italiano através da política, comprometido com valores republicanos, ele observou mudanças importantes a partir de 1400. Ele elimina a explicação social. A explicação de Baron é voltada à liberdade. "Baron afirma que, por volta do ano 1400, os florentinos repentinamente tomaram consciência de sua identidade coletiva e das características únicas de sua sociedade" Com isso houve uma identificação com as grandes repúblicas do mundo antigo, como Atenas e Roma. Compreender as abordagens micro e macro-social como completares, explica a macro-social como pouca informação e interpretação demais, já a micro-social como descrição mais do que análise. Juntar as abordagens é um dos principais objetivos do livro.

Data 06/02/2007
Fonte BURKE, Peter. Renascimento Italiano: Cultura e soc

Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo. Ao utilizar este site, você concorda com o uso de cookies.