História da Arte |
O Tema
BURKE, Peter. Renascimento Italiano: Cultura e sociedade na Itália.São Paulo: Nova Alexandria, 1999
Camila Vignochi, Emanuela Dias, Fernanda Guerreiro, Francieli Spader,
Marcia Benetti, Mauricio Paim, Paula dos Santos,
Tiago César Berse , Tuizy F. Theodoro e Zélio Luiz Nath
A Itália por ser uma área geográfica demasiada acidentada e montanhosa, forçou seus habitantes a desenvolverem a vida comercial, ligando o Oriente e o Ocidente, por vias marítimas. Desestimulando com isso o trabalho agrícola.
Porto de Nápoles Florença atual
Destacaram-se várias cidades italianas, em especial Genova, Veneza e Florença, entre outras, desenvolvendo com isso grandes centros urbanos. A população urbana tinha autonomia de ação política, sendo que os homens leigos e educados assumiam funções importantes na sociedade. Estes sobreviveram às epidemias do século XIII e XIV que atingiu os italianos, assim como outros europeus. Os menos favorecidos (camponeses), viviam em extrema pobreza, tanto é que não aparecem no assunto deste livro, que tem como principal interesse mencionar as transformações culturais ocorridas a partir do Renascimento. Em seu livro, Burke menciona a posição de Jacob Burckhardt o qual escreveu em 1860 que o Renascimento é uma cultura moderna, porém hoje, ela parece bastante arcaica, isso vem a confirmar que os que trabalhavam na terra eram analfabetos e são pouco notados no Renascimento Italiano.
Burke destaca em seu livro que apesar de todas as obras existentes sobre o Renascimento, seu texto traz um diferencial por abordar não apenas o aspecto cultural, mas social e econômico deste processo de transição cultural. O autor destaca que apesar da dificuldade de olharmos para a cultura da Itália do Renascimento, devido a falta de provas e que nem sempre os artistas retratavam a realidade, pois eram "forçados" a expressar artes encomendadas. Quinhentos anos depois os artistas contemporâneos expressam sua arte com mais liberdade e muitas vezes exagerada.
Segundo o autor, não diferente dos demais artistas da época do Renascimento, Botticelli não expressava sua arte como resultado exclusivo da inspiração, assim para produzir A Primavera houve a encomenda. O papel do pintor que ele desempenhava era definido por sua cultura. Para Burke, os artistas contemporâneos estão cada vez mais distantes da compreensão das obras do Renascimento, nem todos pensam da mesma maneira, ao mesmo tempo por isso, é questionável e nos deixa sem saber se devemos aceitar o que os escritores nos dizem ou tentar interpretar as obras dos artistas contemporâneos.
A abordagem
O foco principal deste livro não estará nos indivíduos, mas sim nas tradições. A preocupação aqui não é com a "mensagem", o ato particular da comunicação, mas sim com o "código", a linguagem, ou a tradição cultural que torna possível a mensagem limitando o que pode ser dito.
O tema principal será o rompimento de um código ou tradição, o do passado medieval, e o desenvolvimento de outro modelado na antiguidade clássica. As tradições possuem relações não apenas com o passado, mas com a história geral do tempo.
Geistesgeschichte significa "a história do espírito", ou seja, uma abordagem história que enfatiza o espírito da época demonstrando através da arte e principalmente da filosofia. Jacob Burckhardt, por exemplo, segue esta linha, colocando as idéias antes da vida cotidiana, enfatiza o consenso ao invés de conflitos cultural e social. Os materialistas históricos por outro lado, fazem o contrário e tendem a achar que cultura e ideologia são determinadas pela base econômica social.
Este livro busca uma terceira abordagem, que não diverge da defendida pelos membros da "Escola dos Anais" francesa. A intenção aqui, é fazer uma história social aberta, com ligação entre cultura e sociedade, mas sem que isso esteja baseado nas forças econômicas e sociais. Teóricos sociais como Karl Mannheim, Emile Dürkheim e Max Weber, por exemplo, possuem pensamentos semelhantes e próximos a história social aberta.Os conceitos destes pensadores são relevantes para a Itália do Renascimento e é possível juntá-los numa síntese.
Este estudo tem o plano de trabalhar de dentro para fora, a partir de um centro. O centro é a arte, humanismo, literatura e música da Itália do Renascimento. Busca responder perguntas como: por que as artes assumiram essas formas determinadas nessas cidades e séculos? O estudo fornece ainda relatos de soluções propostas daquele tempo até hoje.
A segunda parte deste livro fala sobre o ambiente social imediato das artes. Busca explicar o tipo de gente que produziu estas pinturas e edificações; para quem esta "elite criativa" produzia seus trabalhos; e o que os clientes esperavam em troca do seu dinheiro. Examina os usos que a sociedade do Renascimento fazia de sua obras de artes e as relações com o público.
A terceira parte do livro amplia ainda mais este estudo. É necessário conhecermos também um pouco da visão de mundo dominante no período. É preciso compreendermos os ideais, intenções e exigências dos artistas e seus clientes da época. Por fim, temos que entender também o processo de mudança, principalmente a relação entre mudança cultural e social.
O uso de expressões como "mais" ou "menos", "ascensão" ou "queda", por historiadores torna de maneira quantitativa, ainda que implicitamente, as suas afirmações. Uma crítica que notamos comum, não só neste mas em qualquer outro estudo, é que sempre nos dizem o que já sabemos. Essas repetições, podem muitas vezes confirmar nossas antigas conclusões. A descoberta de novos documentos nos proporcionam bases mais firmes para essas conclusões.
Nós últimos 30 anos devido ao interesse comum pela história social da arte e literatura, podemos ver que as identidades socialmente construídas do "historiador da arte" ou do "critico literário" têm se tornado cada vez mais difícil de manter. Agora todos somos historiadores culturais.
Ao se expandir, a história se fragmenta. Esses fragmentos que começam a surgir desde os anos 60, distinguem-se por definições de culturas mais abrangentes ou por visões mais sutis e complexas de sua relação com a sociedade. Ou seja, alguns desses fragmentos vão olhar para um todo, enquanto outros vão esmiuçar uma pequena parte desse todo.
A descoberta da cultura popular é parte de um movimento mais amplo de escrever história a partir de baixo. Nos anos de 1860, era natural se preocupar com atitudes e valores de uma minoria da população da Itália. Do mesmo modo que hoje nos perguntamos o que o restante da população, mulheres e homens estavam pensando, sentindo ou fazendo na época em que sua cultura foi explorada.
A prática cultural e os valores que a sublinham são objetos de estudo da antropologia social. É um tanto estranho que especialistas no estudo dos mortos se sintam atraídos por uma disciplina centralizada no trabalho de campo entre os vivos, ou que historiadores especializados em grande parte nas artes do Ocidente resolvam ler etnografias sobre a África Central ou Indonésia. No entanto, essa atração não é cega, nem irracional. A mesma serve para que se possa perder a familiaridade com sua cultura a fim de não tomar muita coisa por certo, e a etnografia das sociedades desconhecidas fornece o meio para isso.
Ao longo de quase toda a década passada, os historiadores culturais assumiram uma posição mais política. Os historiadores políticos estão descobrindo a cultura enquanto os culturais acharam necessário se preocupar com o poder.
A história dos rituais políticos atraiu particular atenção como meio de estudar as relações entre cultura e poder.
Os historiadores culturais vêm, em tempos recentes, assumindo uma postura lingüística ou retórica. A revivescência do interesse no retórico por parte dos críticos literários não é nada novo, mas o assunto é importante demais para que os historiadores o deixem para seus colegas.
Em parte porque é impossível usar criticamente fontes escritas sem ter consciência das convenções dos gêneros literários, também porque falar e escrever são atividades humanas que tem sua relação própria com a sociedade e história. A história social da linguagem está começando a ser levada a sério. Ela envolve uma preocupação não apenas com as variedades de línguas faladas, mas também com as variedades empregadas pelas mesmas pessoas em diferentes contextos sociais. A questão básica é "quem fala qual língua com quem e quando".
Após 30 anos, fica evidente para o autor que as quatro abordagens históricas que esboçou, estavam desenvolvidas, porém não esboçadas na 1° edição, primeiro os objetivos diários e a cultura popular foram discutidos em várias ocasiões.
O que chamamos de movimento de renascimento envolveu apenas uma minoria italiana. Ocorreu um grande intercambio entre a cultura elevada e a popular. A maioria dos principais artistas foi treinada como artesão. Já na 1° edição demonstrou-se a contribuição feminina para o renascimento.
Em segundo lugar a versão de 1972, esboçava uma antropologia histórica das imagens, as quais eram usadas para atrair chuva e para afastar o perigo. Utilizavam ainda como forma de difamar e humilhar o inimigo. O terceiro lugar é a relação entre a arte e a política a qual foi muito debatida.
Na lingüística o livro de 1972 abordou o renascimento da Itália, dando um âmbito maior as obras de arte.
Chega-se assim a conclusão que o estudo do renascimento poderia ser feito de uma perspectiva diferente, seria, portanto revisto e afastado da idéia de modernidade, tão cara a Burckhardt, e estudado de maneira tão "descentralizada". Por isso não podemos dizer que com o surgimento da cultura renascentista é em termos de avanço como se o estilo da Roma antiga fosse superior ao estilo gótico.
Suposições assim não se fazem necessárias para compreensão do movimento ou para apreciação de suas conquistas.
Outra maneira de descentralizar o movimento Renascentista seria o fato de que este coexistiu e interagiu com outros movimentos e outras culturas.
Imagem 1: Natividade de Maria
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