Descrição Desdobramento - Salão Revolucionário - RJ
Título Modernismo
História da Arte Espelha a quebra de estruturas levada a cabo pela Revolução de 1930. Promoveu-se uma mudança na estrutura burocrática e nos quadros de funcionários públicos, fatores que conduziriam as instituições do país nos rumos dos projetos modernos, inclusive no campo da cultura. Francisco Campos, à frente do então recém criado Ministério da Educação e Saúde, nomeou o arquiteto Lúcio Costa para a direção da Escola Nacional de Belas Artes. Encarregado de reformar o ensino das artes, Costa assumiu o cargo em 8 de dezembro de 1930. O novo diretor nomeou novos professores e instituiu uma comissão organizadora do Salão Nacional de 1931. Desta comissão, além de Lúcio Costa, faziam parte Anita Malfatti, Manuel Bandeira, Celso Antônio e Cândido Portinari - que acabara de chegar da Europa. A comissão decidiu cancelar o despótico júri de seleção, que nos anos anteriores funcionara como barreira para a entrada da arte moderna neste reduto tradicional, herdeiro da Academia Imperial de Belas Artes. No mesmo sentido, não foi imposto um limite de obras por artista. Alegando-se motivos financeiros, foi suspenso o prêmio viagem, tradicionalmente até então, outorgado pelo júri de eleição aos considerados melhores trabalhos. Elaborou-se um catálogo com diagramação inovadora, dividido em três seções: pintura, arquitetura e escultura e gravura. Muitos estudantes da Escola recusaram-se em participar da exposição, por entenderem que o Salão configurava-se em caráter em prol exclusivamente do modernismo. De fato, a montagem do evento revelou em destaque as obras de tendências modernas, enquanto as acadêmicas foram literalmente amontoadas nas paredes do local. Assim, a XXXVIII Exposição Geral de Belas Artes, inaugurada em 1º de setembro, entrou para a história como Salão Revolucionário de 1931. Logo em seguida, José Mariano Filho liderou uma campanha contra Lúcio Costa, que culminou com a demissão do arquiteto no dia 18 do mesmo mês. A mostra permaneceu até o dia 29. Mas a década que estava apenas começando trazia no seu bojo uma geração disposta a vencer os entraves políticos retrógrados. Se em 1922, intelectuais e artistas travaram uma batalha no campo da estética, projetava-se nos anos 30 um combate institucional, na defesa de um sistema de Estado que favorecesse a cultura, e mais especificamente, a cultura moderna. Lúcio Costa saiu do comando da Escola, mas deixou a mensagem de ruptura com os dogmas acadêmicos dentro de um recinto oficial. O Salão abrigou artistas da primeira geração modernista e os que despontavam na década de 30, que ia configurando-se como nova etapa da arte moderna no Brasil. O Salão Revolucionário foi sintoma de uma sociedade em transformação, rumo à consolidação da cultura moderna e, em se tratando de sua importância enquanto acontecimento histórico, vale ressaltar uma colocação do pensador Pierre Bourdieu: "a ruptura com o estilo acadêmico implica a ruptura com o estilo de vida que ele supõe e exprime". A despeito de 1922 já ter proclamado tal ruptura, o Salão reafirma-se em sua importância por realizar as façanhas do moderno no seio da sociedade tradicionalista, representada pela canonizada Escola de Belas Artes. Artistas participantes O Salão Revolucionário caracterizou-se como um espaço que apresentou a produção da primeira geração modernista, já consagrada num meio restrito, porém ignorada pelo circuito oficial, e da segunda geração, que se configurava e aparecia ao público na década que se iniciava. Dentre os que atuaram nos anos 20, apresentaram trabalhos Tarsila do Amaral (Caipirinha - c. 1923, Feira - 1925 e Santo - s/d), Victor Brecheret (Fuga para o Egito - c. 1924, Tocadora de guitarra em pé - 1923, Tocadora de guitarra sentada - 1927), Lasar Segall (Negra com criança - 1924, Morro vermelho - s/d), Antonio Gomide (Menina - s/d, Nu Cubista - s/d), Di Cavalcanti (Devaneio - 1927) e Waldemar da Costa (Rua de Paris - 1929). Anita Malfatti participou com as telas O homem amarelo (1915-1916), A Estudante Russa (1915) e Interior de Mônaco (c. 1925); as duas primeiras, fizeram parte da exposição rechaçada por Monteiro Lobato em 1917. Só que desta vez seus trabalhos foram bem recebidos pela imprensa, fator revelador do processo de mutação das mentalidades no meio artístico e intelectual nacional. Ismael Nery e Cícero Dias, os últimos a se integrarem à primeira geração modernista, apresentaram seus diálogos com o surrealismo. Do primeiro, obras como Dois Irmãos (c. 1925), Homem e Mulher (s/d), Homem, madona e cubo (s/d), Nós (s/d), revelam o lirismo de um artista que nunca se alinhou aos círculos intelectuais da vanguarda nacional. Já o segundo, apresentou a obra que mais ia contra a todos os preceitos da ENBA, o painel Eu vi o mundo, ele começava no Recife (c. 1930). O painel transgredia em suas enormes dimensões e no tratamento de temas -como as cenas eróticas que foram mutiladas por reacionários durante a mostra. Representando a emergente segunda geração modernista, estavam Alberto da Veiga Guignard (Retrato do poeta Murilo Mendes - 1930, Auto-retrato - 1931), Moussia Pinto Alves (Imagem - s/d e Retrato da Srta. Alves de Lima - s/d), Paulo Rossi Osir (Imigrante lituano - 1930 e Peixe dourado - 1930), Victorio Gobbis (Retrato de minha mulher - 1931, Nu recostado - 1931) e Cândido Portinari (Retrato de Manuel Bandeira - 1931, Retrato de Henrique Pongetti - 1931, Natureza Morta - 1931). Em 1931, Flávio de Carvalho iniciou sua trajetória na pintura moderna e expôs no Salão seus primeiros resultados, como Pensando (1931) ou Anteprojeto para Miss Brasil (1931). Na seção de arquitetura, o artista participou com o Projeto para farol de Colombo, em tempos onde apenas Gregori Warchavchik possuía obras modernistas construídas - e deste Salão participou apresentando as fotografias de tais construções. Flávio de Carvalho participou ainda da seção de escultura, com o trabalho À beira da morte, de forte tendência cubista, que se destacou das demais, no geral muito ligados ao academismo. Com este vasto cabedal de artistas, o Salão apresentou um considerável quadro da arte moderna que se fomentava no Brasil desde a década anterior; um quadro decisivamente transgressor das normas e tradições estabelecidas na ENBA. Artistas que participaram do Salão Revolucionário de 1931 Alberto da Veiga Guignard Aldo Bonadei Anita Malfatti (org.) Antônio Gomide Cândido Portinari (org.) Cícero Dias Di Cavalcanti Flávio de Carvalho Ismael Nery John Graz Lasar Segall Paulo Rossi Osir Quirino da Silva Tarsila do Amaral Waldemar da Costa

O CURZEIRO , Rio de Janeiro, 12/09/1931. " O Salão n.38 " Peregrino Júnior

Data 02/03/2007
Fonte Mac/Usp

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