Biografia |
Lam, Wilfredo
Sagua la Grande, Cuba, 1902
Paris, França, 1982
"A pintura como um ato de descolonização", assim afirmava Wilfredo Lam, um dos mais importantes artistas latino-americanos. Filho de uma mulata cubana e de um comerciante chinês, desde criança freqüentava terreiros de candomblé, levado por sua madrinha, a mais importante mãe de santo ioruba de sua cidade natal.
Sua formação artística deu-se em Madri, na Espanha, para onde vai em 1924 com bolsa de estudos, visitando museus e fazendo estudos de belas-artes. Participou da Guerra Civil Espanhola, adotando ideais políticos de esquerda. Nesse período casou-se com Eva, com quem teve um filho, mas ambos morreram tuberculosos. Em 1938 fixa-se em Paris, onde permanece até 1941; foram três anos fundamentais para Wilfredo Lam.
Teve contato com Pablo Picasso, cuja obra proporcionou-lhe o reencontro com a arte africana, com suas raízes culturais.
Apresentado por Picasso a André Breton, fundador e teórico do Surrealismo, integrou-se de imediato ao movimento, deixando emergir um imaginário singular de personagens míticos, híbridos seres animais e vegetais e disciplinados por um desenho rigoroso e monumental. Definidos por linhas decisivas, resultaram em composições surpreendentes perturbadoras, de atmosfera mítica e caráter monumental.
A ocupação nazista da França em 1941 fez o artista, com Breton e outros surrealistas e intelectuais europeus embarcar para o Novo Mundo. Lam refugiou-se na Martinica, enquanto os demais foram para o México e EUA. Nessa oportunidade encontrou o poeta Aimé Cesaire, criador da expressão "negritude" e cujos poemas o artista ilustrou. Com o retorno a Cuba em 1942, após quase vinte anos de ausência, alcançou a maturidade; definiu sua linguagem plástica e o universo de sua temática. Afirmava que foi "uma volta a muitas origens" e realizou então o velho sonho de integrar na pintura toda a transcultura que havia em Cuba: a dos índios, espanhóis, africanos, chineses, imigrantes franceses, piratas e todos os elementos pluriculturais que constituem o Caribe. Segundo Lam, esses elementos deram origem a uma nova identidade cultural e de grande valor. Convicto de seu ideal artístico e político, da arte ligada à política, profundamente latino-americanista, Lam pensava que a possessão da linguagem plástica ocidental significava a despossessão e a descolonização, isto é,considerava sua pintura como um ato de descolonização -"o conquistado que por sua vez conquista".
Retornando de Cuba, expõe com grande sucesso em Nova York. No após guerra torna-se um cidadão do mundo; sempre coerente em suas idéias e estilo, esteve duas vezes na Índia, visitou a África, a Amazônia, Brasil, Colômbia, Venezuela, entre outros.
Lam foi um dos artistas que propuseram novas pontes culturais e uma nova visualidade latino-americana, exaltando a mestiçagem e o hibridismo de Cuba, das Antilhas no contexto da América Latina. Seu pensamento e arte têm muitas similaridades com os princípios da Antropofagia de Oswald de Andrade. Morreu em 1982 em Paris, onde fixara residência. Um ano depois foi criado o Centro Wilfredo Lam em Cuba que promoverá as Bienais de Havana. Em São Paulo, teve salas especiais nas XIX e XXIII Bienais de São Paulo.
Daisy Peccinini/Mac
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