Biografia |
Rui Chafes formou-se em Escultura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, em 1989, seguindo depois para Dusseldorf, onde frequentou a Kunstakademie, sob a direcção do artista alemão Gerhard Merz. A escolha da cidade alemã para completar a formação artística não é inocente. De facto, o interesse de Chafes pela cultura alemã tem sido uma constante, e não se limita apenas a uma referência de base da sua obra plástica. Traduziu, por exemplo, os Fragmentos de Novalis (Ed. Assírio & Alvim, 1992) e refere-se-lhe constantemente em escritos e citações que acompanham toda a sua obra.
Um outro dado constante no percurso de Chafes é a importância dos títulos das obras e das exposições / instalações que faz. Palavras como «sonho», «morte», «manhã», «ferida», entre outras, conduzem o espectador para um universo nostálgico e romântico, para um ambiente de referência onde a fúria dos elementos era uma realidade, a angústia de existir uma constante, a loucura provocada pelos sentimentos exacerbados uma ameaça sempre presente. Esse universo, que é o do Romantismo alemão, é mitigado pela consciência de uma cultura clássica, nobre, exemplar. Mas não só. Lado a lado com ele, há uma paixão que é especificamente ibérica, uma tradição do trabalho do ferro, material de eleição de Chafes, que nada tem a ver com os bronzes ou os mármores românticos. Chafes é um escultor contemporâneo, mesmo se o seu mundo de referência seja clássico.
Começou a expor muito cedo, na ESBAL, esculturas esguias em mármore, na Galeria LEO (1986 e 1987) e no Espaço Poligrupo / Renascença (1988), onde mostrou peças em madeira e plástico. As três exposições chamavam-se, respectivamente, Pássaro Ofendido, A Não Ser Que Te Amem, e Amo-te: O Teu Cabelo Murcha na Minha Mão (Entre Este Mundo e o Outro Não Tenham Nem um Pensamento a Mais). Mas, tão cedo como em 1987, Chafes realizava já as suas primeiras esculturas em ferro pintado de negro. Tratava-se, então, de formas enroladas, como coroas, que opunham a evidente imobilidade da matéria-prima ao universo de associações possível. Nem vegetais, como as coroas de louros, nem inteiramente minerais, como um bloco de ferro, as obras que Chafes mostrava introduziam no espectador uma ambiguidade evidente que não mais haveria de desaparecer.
Ainda desta época são as esculturas de chão mostradas em nova individual na Galeria LEO. Eram peças oblongas, feitas todas elas de um segmento côncavo, como uma taça, e de feixes de tubos de ferros que a ele se acoplavam. O leque de associações possíveis - sempre com objectos de uso quotidiano, ou com outros, menos vulgares, que a história ou o imaginário ocidental definiu - é visto pelo artista como uma possibilidade interpretativa nunca partilhada. A ambiguidade de significados parece ser sempre o que para ele é primordial.
Em 1989, Rui Chafes realiza um núcleo de esculturas em malha de ferro. As formas escolhidas são as dos casacos masculinos e o título, mais uma vez, instaura o desequilíbrio entre as referências do espectador e a ausência de utilidade prática da escultura: Vertigem . Na exposição destas obras, realizada no ano seguinte na Cooperativa Diferença e intitulada A Vocação do Medo, Chafes fê-las acompanhar por esculturas de chão, na forma de caixas abertas, no interior das quais apresentava peças fechadas, de conotação orgânica, quais restos dentro de caixões. O título destas últimas esculturas, Berço, remetia, aliás, para o ciclo da vida.
A malha de ferro voltará a surgir mais tarde, em esculturas penduradas do tecto, que combinam as formas rígidas, soldadas, com estas mais leves, agora em forma de saco (série Würzburg Bolton Landing, 1994/95). O trabalho sobre o lugar da escultura é, aliás, outra constante na obra deste artista. Chafes realiza esculturas de chão, de tecto, que se penduram nas paredes como pinturas, que se mostram sobre peanhas como objectos de decoração, que ocupam cantos de salas como móveis, que se empoleiram, até, em árvores, como pássaros. Nada é estabelecido na obra deste escultor, excepto a perenidade dos materiais e a solidez das formas. Uma das suas esculturas mais conhecidas, actualmente parte da Colecção do Museu do Chiado, em Lisboa, está pendurada na cobertura da escada de salvação, junto ao Jardim das Esculturas Românticas. Intitula-se Crianças e Flores e tem a data de 1995.
Em 1996, a série Cristal concretizava de modo mais explícito a ausência do corpo, que é no fundo a principal constante formal na obra do artista. Esculturas de parede, como máscaras de terríveis rituais, modelavam, nas tiras de ferro que as constituíam, a forma da cabeça humana, sem que contudo essa modelação pudesse jamais deixar o domínio da imaginação. Mais tarde, em Não Quando os Outros Olham, de 1996, mostrava pares de sapatos fechados que desenvolviam esta temática. Até 1998, este trabalho sobre o corpo ausente e imaginado foi uma constante na sua obra.
Rui Chafes é também autor de desenhos que continuam, a lápis negro, o desenrolar formal que a sua escultura revela.
Exposições Individuais
1986 Pássaro Ofendido, Galeria LEO, Lisboa.
1987 A Não Ser Que Te Amem, Galeria LEO, Lisboa.
1988 Amo-te: O Teu Cabelo Murcha na Minha Mão (Entre Este Mundo e o Outro Não Tenham Nem Um Pensamento a Mais), Espaço Poligrupo / Renascença, Lisboa.
Um Sono Profundo, Galeria LEO, Lisboa.
1989 Como Uma Nuvem Pesada Galeria Atlântica, Porto.
1990 A Vocação do Medo, Galeria Diferença, Lisboa; Galeria Atlântica, Porto.
1992 Fragmentos de Novalis, Livraria Assírio & Alvim, Lisboa.
1993 A Manhã, Galeria Alda Cortez, Lisboa.
Sonho e Morte, Centro Cultural de Belém, Lisboa.
1994 La Herida, Galeria Fúcares, Madrid.
O Corpo Não Entra, Galeria Alda Cortez, Lisboa
1995 Ooglid, Galerie Declercq, Knokke.
Würzburg Bolton Landing, Centro de Arte Moderna/Fundação Calouste Gulbenkian (CAM/FCG), Lisboa.
Zwei Stille Gärten, com Markus Ambach, Galerie 102, Düsseldorf.
1996 Sombras Que Não São Sombras, Galeria Camargo Vilaça, São Paulo.
Der König Schläft, Galerie 102, Düsseldorf.
1997 Não Quando os Outros Olham, Galeria Alda Cortez, Lisboa.
No Aquí, Galeria Fúcares, Madrid.
Cristal, Galeria Juana dAizpuru, Sevilha.
Müd und Flügelschwer, Galerie Karin Sachs, Munique.
1998 Fragmentos de Novalis, Goethe lnstitut, Porto.
Harmonia, Galeria Canvas & Companhia, Porto.
Medo Não Medo 1988-1998, Galeria da Restauração, Porto.
Bolor Pólen, Galeria Porta 33, Funchal.
1999 La Face Intérieure, Galerie Cenr8, Paris.
2000 Heilung für Deine Wunden . Galerie Karin Sachs, Munique.
Durante o Fim, Sintra Museu de Arte Moderna, Palácio Nacional da Pena, Parque da Pena, Sintra.
Um passo no escuro, Pavilhão Branco do Museu da Cidade, Lisboa (com Fernando Calhau).
Outras actividades
Arte Pública
Centro Cultural de Belém, Lisboa
Chiltern Sculpture Trust, Oxford
Museu do Chiado, Lisboa
Cidade de Santo Tirso
Parque das Nações, Lisboa
Faculdade de Farmácia, Coimbra
Colecções Públicas
Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, Lisboa
Montepio Geral, Lisboa
Centro Cultural de Belém, Lisboa
Fundação de Serralves, Porto
Centro de Arte Moderna/Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
Caixa Geral de Depósitos, Lisboa
Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid
Museu do Chiado, Lisboa
Museo Extremeño y lberoamericano de Arte Contemporaneo, Badajoz
Museu de Arte Contemporânea, Funchal
Parlamento Europeu, Bruxelas
Ar.Co (Centro de Arte e Comunicação Visual), Lisboa
Sintra Museu de Arte Moderna Colecção Berardo, Sintra
Europäishes Patentant, Munique
Faculdade de Farmácia, Coimbra
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