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Artista Mario Mariano
Biografia Mario Mariano


A força do olhar



Há poucas coisas tão difíceis de trabalhar na arte da pintura como o olhar. A situação se agrava quando se enfrenta o desafio de levar para a tela grupos de pessoas, seja num bar ou trabalhando em conjunto. Existe o risco de que o espectador se sinta perdido perante a tela ou de que sua atenção se concentre apenas num ponto, fato que prejudica a sua visão do todo.

O artista plástico Mario Mariano consegue vencer esse desafio em suas criações. Ele mostra domínio da composição, apuro técnico e sensibilidade para trabalhar com diversas personagens em posições corporais bastante diversificadas, nas quais também é necessário extremo cuidado para trabalhar o fundo, de modo que ele não se sobreponha aos retratados.

Nascido em Uberaba, MG, em 1947, Mariano participou de sua primeira coletiva em 1971 e fez a primeira individual dois anos depois, na Galeria AMI, em Belo Horizonte. Realizou em seguida exposições por outros estados brasileiros e conta com obras em diversas coleções do Brasil, Inglaterra, Alemanha, Canadá, EUA, Israel, Itália, França e Japão.

O pintor, que já recebeu do governo de Minas Gerais a Comenda Santos Dumont, em 1983, além de ter realizado ilustrações para o "Suplemento Literário" do Jornal Minas Gerais, órgão da Imprensa Oficial de Minas Gerais, apresenta ainda familiaridade no uso com as cores, que se harmonizam com o ambiente a ser mostrado.

Situações de festa, como uma roda de samba, ilustram bem a técnica de Mariano. Os olhares das moças que dançam no centro da tela, dos instrumentistas e das figuras mais ao fundo criam um autêntico labirinto de possibilidades de interpretação da tela. Olhares de soslaio e de frente para o espectador oferecem múltiplas possibilidades, prendendo a atenção para o diálogo interno que a tela oferece.

A vivacidade da reunião é reforçada com a presença de cores quentes, principalmente na roupa das passistas, que se integram às dos músicos. O fundo acompanha a atmosfera criada pelo artista, valendo-se de tonalidades mais fortes que transmitem intensidade e vibração ao quadro.

Quando a cena é mais calma, como a de mulheres trabalhando junto a um curso de água, as cores também se alteram. Surgem alguns tons pastel que reforçam a idéia de integração e harmonia que a execução de tarefas em conjunto exige. O fundo também surge mais suave, compondo um clima de maior compenetração na atividade desenvolvida.

Por esse motivo, os olhares não se cruzam tanto entre as personagens. Cada mulher parece absorta em sua tarefa, enfrentando o desafio individual da subsistência, com dedicação, empenho e persistência. A imagem é uma metáfora do próprio ofício do artista, que necessita o convívio social para existir, mas que, no momento máximo de criação, só pode contar com si mesmo - com seu talento e capacidade técnica.

Quando Mariano traz para sua obra um conjunto de músicos, a questão do olhar surge ainda mais forte. Os integrantes de uma banda olham todos para fora do quadro, indicando que a música apenas se realiza no ouvinte, assim como a tela apenas se completa com o espectador atento.

A arte de Mario Mariano consolida-se assim como a capacidade de trabalhar cores e formas com propriedade. Seja mais introspectiva em suas imagens ou mais explosiva em sua vibração interna, cada tela cria um universo próprio, no qual o artista coloca sua visão de mundo, manifesta, principalmente pela troca de olhares entre as personagens do quadro.

Oscar D'Ambrosio é jornalista, integrante da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e autor de Os pincéis de Deus: vida e obra do pintor naïf Waldomiro de Deus (Editora Unesp).

Fonte Oscar D'Ambrosio

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