Manoel Veiga

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Artista Manoel Veiga
Biografia Manoel Veiga nasce em agosto de 1966, em Recife. No ano seguinte muda-se com a família para a praia de Boa Viagem. Filho mais velho de família pernambucana, recebe orientação cultural desde cedo em literatura, tornando-se ávido leitor. O desenho surge naturalmente e ocupa lugar importante durante a sua infância.
O interesse pela ciência e pela matemática também aparece cedo, levando Veiga a um contato precoce e intenso com a informática em seus primórdios. As primeiras leituras sobre arte acontecem ainda na adolescência e embora a prática do desenho tenha cessado completamente desde 12 anos de idade (seria retomada só aos 28 anos), esse interesse intelectual pelo assunto permaneceu presente, levando o artista a visitar museus e galerias em todas as suas viagens.
Em 1985 inicia curso de engenharia eletrônica na Universidade Federal de Pernambuco, logo se tornando bolsista de iniciação científica no Departamento de Física, uma experiência que o marcaria profundamente. Após receber o diploma, trabalha com automação industrial na Rhodia, onde é treinado também em gerenciamento empresarial. Após 4 anos volta a desenhar, frequentando o ateliê do artista Renato Valle e começa a pintar. Meses depois abandona a engenharia.
Conhece o artista Gil Vicente que passa a orientá-lo nessa nova formação. Embora essencialmente autodidata, passa por algumas importantes etapas de formação, destacando-se o período na Escola de Belas Artes de Paris. Durante curso realizado na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, conhece o crítico de arte Agnaldo Farias que, anos depois, provocaria sua mudança para São Paulo, onde vive atualmente.
Ao longo dos anos, o contato próximo com alguns artistas, como Eduardo Frota, Gil Vicente e Marcelo Silveira, e com alguns críticos de arte e curadores, como Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos, tem influenciado bastante o seu percurso, mediante realizações em conjunto, diálogos intensos e regulares sobre aspectos gerais da profissão ou sobre seus próprios trabalhos.

Formação
Gradua-se em Engenharia Eletrônica pela UFPE (1989), tendo sido bolsista do Depto. de Física por 3 anos. Trabalha em fábrica até dedicar-se às Artes Plásticas (1994). Freqüenta a Escolinha de Arte do Recife (1994-95) e trabalha sob a orientação de Gil Vicente (1995-97). Estuda na Escola Nacional Superior de Belas-Artes e na Escola do Louvre em Paris, França (1997). Participa de workshop em Nova York (1998). Em São Paulo, estuda História da Arte com Rodrigo Naves (1999), Leon Kossovitch (2000/01) e desenvolve estudos teóricos com Carlos Fajardo (1999-2002) e com Nuno Ramos (2000).

Residências Artísticas

2005 Centro de Arte Marnay Marnay-Sur-Seine França

2002 Freie Kunstschule Berlin Alemanha

"Faxinal das Artes" Faxinal do Céu Paraná

Bolsas

2005 Fondation Thénot França

Prêmios

2006 Menção Especial (Bienal do Recôncavo)

Prêmio Flamboyant (Salão Nacional de Arte de Goiás)

Exposições Individuais

2007 Museu Murillo La Greca Recife PE

2006 Ateliêaberto Campinas SP

2005 Dumaresq Galeria de Arte Recife PE

Galeria Virgílio São Paulo SP

2004 ARCO Florianópolis SC

2003 Dumaresq Galeria de Arte Recife PE

Paço das Artes São Paulo SP

2002 Espaço Virgílio São Paulo SP

2001 Dumaresq Galeria de Arte Recife PE

Centro Cultural de São Francisco João Pessoa PB

2000 Galeria Vicente do Rego Monteiro Fundação Joaquim Nabuco Recife PE

Exposições Coletivas

2008 "Leveza e aspereza da linha" Galeria Nara Roesler São Paulo SP

2007 "Pintura contemporânea ou ut pictura diversitas" Memorial da América Latina São Paulo SP

"A espiral de Moebius ou os limites da pintura" Centro Cultural Parque de Espanha Rosario Argentina

"Feira de Arte Contemporânea de Buenos Aires (ArteBA)" Buenos Aires Argentina

"Exposição comemorativa do no 50 da revista SIM!" Dumaresq Galeria de Arte Recife PE

2006 Dumaresq Galeria de Arte Recife PE

"Intervenções Urbanas no Festival de Inverno de Garanhuns" Garanhuns PE

"VIII Bienal do Recôncavo" Centro Cultural Dannemann São Félix BA

"Geração da virada - 10+1: os anos recentes da arte brasileira" Instituto Tomie Ohtake São Paulo SP

"Marte é aqui" São Paulo SP

"4" Dumaresq Galeria de Arte Recife PE

Salão Nacional de Arte de Goiás Goiânia GO

"BO no parque" Branco do Olho Recife PE

2005 "BR 2005" Galeria Virgílio São Paulo SP

Centro de Arte Marnay Marnay-Sur-Seine França

"Árvore Show" São Paulo SP

2004 "BR 400" Galeria Virgílio São Paulo SP

"Narrativas" Centro Cultural de São Francisco João Pessoa PB

"Título de pintura" AteliêAberto Campinas SP

"Novas aquisições" Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães Recife PE

"Pintura vs. Fotografia" Paço das Artes São Paulo SP

Lord Palace Hotel São Paulo SP

"Outro lugar" Galeria Virgílio São Paulo SP

"Home with no walls" Bombaim Índia

"Mais de 3" Museu Metropolitano Curitiba PR

"São Paulo 450 anos" SESC Pompéia São Paulo SP

2003 Salão Arte Pará Fundação Rômulo Maiorana Belém PA

XI Salão Municipal de Artes Plásticas João Pessoa PB

Dumaresq Galeria de Arte Recife PE

"Entre o preto e o branco" Casa da Cultura da América Latina Brasília DF

"Pluralidade na arte brasileira" Galeria de arte e pesquisa/UFES Vitória ES

2002 Coletiva de Reis Kolams Galeria de Arte Belo Horizonte MG

"28 (+) Pintura" Espaço Virgílio São Paulo SP

Coletiva do "Faxinal das Artes" Museu de Arte Contemporânea de Curitiba Curitiba PR

Atelier Coletivo Olinda PE

Freie Kunstschule Berlin Berlim Alemanha

1999 Projeto Rumos Visuais (Itaú Cultural) Selecionado para formar banco de dados de novos talentos brasileiros

Galeria da Câmara Americana de Comércio São Paulo SP

Projeto "Arte nas Galerias" Bairro do Recife (As Galerias) Recife PE

1998 IV Salão UNAMA de Pequenos Formatos Galeria de Arte da Universidade da Amazônia (UNAMA) Belém PA

"Intrudo V" Espaço Cultural Bandepe Recife PE

VIII Salão Municipal de Artes Plásticas Centro Cultural São Francisco João Pessoa PB

1997 VIII Salão Municipal dos Novos Museu Nacional do Mar São Francisco do Sul SC

"O Papel da Arte V" Espaço Cultural Bandepe Recife PE

Espaço Cultural Sobrado Olinda PE

1994 20o Salão de Artes Plásticas de Jacarezinho Banco do Brasil Jacarezinho PR

1o Salão de Arte dos Novos Museu do Estado de Pernambuco Recife PE


Trabalhos em coleções públicas

Fundação Joaquim Nabuco Recife PE
Museu de Arte Contemporânea Goiânia GO
Museu de Arte Contemporânea do Paraná Curitiba PR
Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães Recife PE
Sesc Pernambuco Recife PE


fonte : site do artista

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Manoel Veiga (Recife, 1966). Vive e trabalha em São Paulo.

Manoel Veiga nasce em agosto de 1966, em Recife. No ano seguinte muda-se com a família para a praia de Boa Viagem. Filho mais velho de família pernambucana, recebe orientação cultural desde cedo em literatura, tornando-se ávido leitor. O desenho surge naturalmente e ocupa lugar importante durante a sua infância.

O interesse pela ciência e pela matemática também aparece cedo, levando Veiga a um contato precoce e intenso com a informática em seus primórdios. As primeiras leituras sobre arte acontecem ainda na adolescência e embora a prática do desenho tenha cessado completamente desde 12 anos de idade (seria retomada só aos 28 anos), esse interesse intelectual pelo assunto permaneceu presente, levando o artista a visitar museus e galerias em todas as suas viagens.

Em 1985 inicia curso de engenharia eletrônica na Universidade Federal de Pernambuco, logo se tornando bolsista de iniciação científica no Departamento de Física, uma experiência que o marcaria profundamente. Após receber o diploma, trabalha com automação industrial na Rhodia, onde é treinado também em gerenciamento empresarial. Após 4 anos volta a desenhar, frequentando o ateliê do artista Renato Valle e começa a pintar. Meses depois abandona a engenharia.

Conhece o artista Gil Vicente que passa a orientá-lo nessa nova formação. Embora essencialmente autodidata, passa por algumas importantes etapas de formação, destacando-se o período na Escola de Belas Artes de Paris. Durante curso realizado na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, conhece o crítico de arte Agnaldo Farias que, anos depois, provocaria sua mudança para São Paulo, onde vive atualmente.

Ao longo dos anos, o contato próximo com alguns artistas, como Eduardo Frota, Gil Vicente e Marcelo Silveira, e com alguns críticos de arte e curadores, como Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos, tem influenciado bastante o seu percurso, mediante realizações em conjunto, diálogos intensos e regulares sobre aspectos gerais da profissão ou sobre seus próprios trabalhos.

www.manoelveiga.com.br


Exposições Individuais

2009
Action Painting Today, Dengler und Dengler, Galerie für Schöne Künste, Stuttgart, Alemanha
Construções, Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba, Brasil
Dumaresq Galeria de Arte, Recife, Brasil
Construções, Usina do Gasômetro, Porto Alegre, Brasil

2007
Museu Murillo La Greca, Recife, Brasil

2006
Ateliêaberto, Campinas, Brasil

2005
Dumaresq Galeria de Arte, Recife, Brasil
Galeria Virgílio, São Paulo, Brasil

2004
ARCO, Florianópolis, Brasil

2003
Dumaresq Galeria de Arte, Recife, Brasil
Paço das Artes, São Paulo, Brasil

2002
Espaço Virgílio, São Paulo, Brasil

2001
Dumaresq Galeria de Arte, Recife, Brasil
Centro Cultural de São Francisco, João Pessoa, Brasil

2000
Galeria Vicente do Rego Monteiro, Fundação Joaquim Nabuco, Recife, Brasil


Exposições Coletivas

2009
4 Pinturas, Centro cultural arquipélago, Florianópolis, Brasil
Action painting today, Galeria Dengler und Dengler, Stuttgart, Alemanha

2008
Acervo Vivo, Casa do Olhar, Santo André, Brasil
Mostra Recife de Fotografia, Museu do Estado de Pernambuco, Recife, Brasil
Garanhuns Mostra Foto, Festival de Inverno de Garanhuns, Garanhuns, Brasil
Lado B - arrudeia, Museu Murillo La Greca, Recife, Brasil
Arte pela Amazônia, Pavilhão da Bienal de São Paulo, São Paulo, Brasil
Leveza e aspereza da linha, Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil

2007
Pintura contemporânea ou ut pictura diversitas, Memorial da América Latina, São Paulo, Brasil
A espiral de Moebius ou os limites da pintura, Centro Cultural Parque de Espanha, Rosario, Argentina
Exposição comemorativa do nº 50 da revista SIM!, Dumaresq Galeria de Arte, Recife, Brasil

2006
Dumaresq Galeria de Arte, Recife, Brasil
Intervenções Urbanas no Festival de Inverno de Garanhuns, Garanhuns, Brasil
VIII Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix, Brasil
Geração da virada - 10+1: os anos recentes da arte brasileira, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil
Marte é aqui, São Paulo, Brasil
4, Dumaresq Galeria de Arte, Recife, Brasil
Salão Nacional de Arte de Goiás, Goiânia, Brasil
BO no parque, Branco do Olho, Recife, Brasil

2005
BR 2005, Galeria Virgílio, São Paulo, Brasil
Centro de Arte Marnay, Marnay-Sur-Seine, França
Árvore Show, São Paulo, Brasil

2004
BR 2004, Galeria Virgílio, São Paulo, Brasil
Narrativas, Centro Cultural de São Francisco, João Pessoa, Brasil
Título de pintura, AteliêAberto, Campinas, Brasil
Novas aquisições, Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife, Brasil
Pintura vs. Fotografia, Paço das Artes, São Paulo, Brasil
Lord Palace Hotel, São Paulo, Brasil
Outro lugar, Galeria Virgílio, São Paulo, Brasil
Home with no walls, Bombaim, Índia
Mais de 3, Museu Metropolitano, Curitiba, Brasil
São Paulo 450 anos, SESC Pompéia, São Paulo, Brasil

2003
Salão Arte Pará, Fundação Rômulo Maiorana, Belém, Brasil
XI Salão Municipal de Artes Plásticas, João Pessoa, Brasil
Dumaresq Galeria de Arte, Recife, Brasil
Entre o preto e o branco, Casa da Cultura da América Latina, Brasília, Brasil
Pluralidade na arte brasileira, Galeria de arte e pesquisa/UFES, Vitória, Brasil

2002
Coletiva de Reis Kolams, Galeria de Arte, Belo Horizonte, Brasil
28 (+) Pintura, Espaço Virgílio, São Paulo, Brasil
Coletiva do "Faxinal das Artes", Museu de Arte Contemporânea de Curitiba, Curitiba, Brasil
Atelier Coletivo, Olinda, Brasil
Freie Kunstschule Berlin, Berlim, Alemanha

1999
Projeto Rumos Visuais (Itaú Cultural) Selecionado para formar banco de dados virtual de novos talentos brasileiros, São Paulo, Brasil
Galeria da Câmara Americana de Comércio, São Paulo, Brasil
Projeto "Arte nas Galerias", Bairro do Recife (As Galerias), Recife, Brasil

1998
IV Salão UNAMA de Pequenos Formatos, Galeria de Arte da Universidade da Amazônia (UNAMA), Belém, Brasil
Intrudo V, Espaço Cultural Bandepe, Recife, Brasil
VIII Salão Municipal de Artes Plásticas, Centro Cultural São Francisco, João Pessoa, Brasil

1997
VIII Salão Municipal dos Novos, Museu Nacional do Mar, São Francisco do Sul, Brasil
O Papel da Arte V, Espaço Cultural Bandepe, Recife, Brasil
Espaço Cultural Sobrado, Olinda, Brasil

1996
Galeria Sobrado, Olinda, Brasil

1994
20o Salão de Artes Plásticas de Jacarezinho, Banco do Brasil, Jacarezinho, Brasil
1o Salão de Arte dos Novos, Museu do Estado de Pernambuco, Recife, Brasil


Coleções Públicas

Fundação Joaquim Nabuco, Recife, Brasil
Museu de Arte Contemporânea, Goiânia, Brasil
Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba, Brasil
Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife, Brasil
Sesc Pernambuco, Recife, Brasil


Residências Artísticas

2005
Centro de Arte Marnay Marnay-Sur-Seine, França

2002
Freie Kunstschule, Berlin, Alemanha
Faxinal das Artes, Faxinal do Céu, Paraná, Brasil


Bolsas

2005
Fondation Thénot, França


Prêmios

2006
Menção Especial, Bienal do Recôncavo, Bahia, Brasil
Prêmio Flamboyant, Salão Nacional de Arte de Goiás, Brasil




TEXTOS CRÍTICOS

Pedro França - 2010


"As pinturas são realizadas no chão. O processo se inicia com a preparação de uma mistura cuidadosa de várias cores.única e muito fluida e que tem, inicialmente, uma só cor complexa. Ataco a tela, em seguida, com um pincel que mal a toca. passo a acompanhar a secagem da tinta, interferindo em determinados momentos, . apenas pulverizando água à distância, com o objetivo de criar gradientes de concentração que vão ser responsáveis pelo deslocamento dos pigmentos. os pigmentos mais leves são mais facilmente arrastados pela força de difusão e vão sendo separados dos mais pesados."
Com gosto pela paródia, digamos que Manoel manipula a pintura e recusa habitá-la. Afinal, não são esses gestos que mal tocam a superfície da tela ações tangenciais, que se contentam em apontar vagamente o caminho da tinta? Nada do mergulho trágico daquele que pintava de "dentro" e, segundo Kaprow, "quase nunca saía da tela". Manoel parece tomar posição um passo atrás, como um catalizador, deflagrador dos eventos na superfície da pintura. Controle remoto: dessa gávea (Pollock não tinha escada no ateliê) manipula com astúcia um processo abstrato, termo equívoco consagrado pela arte como não-figuração e pela ciência como antecipação. Estipula rigorosamente os limites do acaso. Com a experiência do comportamento dos materiais adquirida ao longo dos anos, aumenta a probabilidade de acerto (PF: acerto? qual o critério?). Com a introdução de novos problemas, e o abandono de respostas conhecidas, eleva o risco de fracasso (MV: quero a presença do movimento, e que o olho passeie sem paragens pelo espaço da pintura... não sei.).
High definition: O gesto articula sua própria negação: ( trabalho com um grau baixo de autoria). A tinta se espalha, as cores se destacam e o espaço se produz por difusão. Nada de pincel, nada de pixel à vista: espaço fluido, apenas, sem unidade material constituinte, imagem de um campo de imersão sem limites.
A fim de evitar os nós que prendessem o olhar na superfície, Manoel vinha, em pinturas anteriores, explorando as possibilidades de oscilação espacial do fundo. Por contraste, puxava-o para frente ou empurrava-o para trás das áreas coloridas. Suavizava ao máximo as passagens da cor ao branco, incorporando-o ao continuum cromático das áreas onde a tinta é depositada. Ao mesmo tempo, evitava que as bordas afirmassem exageradamente a presença física e bidimensional da superfície ao tocar seus limites. Nesses jogos óticos a materialidade da fatura, a opacidade do plano e a objetualidade do quadro tendem a ser abafados, ou reduzidos, privilegiando-se a concepção de um espaço luminoso, contínuo e profundo. Agora o trabalho volta a afirmar a existência desses três elementos, mas na tentativa de anulá-los por sua própria presença (lógica da vacina: inocular-se do veneno para combatê-lo): o fundo agora pode dobrar-se sobre a pintura (lógica da fagocitose, ou da pelinha transparente levantada na ponta do dedo) : as novas veladuras em branco não são feitas propriamente de tinta, mas da mesma matéria utilizada da preparação de tela. As bordas do quadro são provocadas por seu eco nos limites rígidos que ameaçam contornar formas (mas a cor fluida acaba sempre escapando e fundindo-se com o espaço em volta: lógica do ovo frito). E a pincelada retorna nos acabamentos, camuflada na tinta dispersa sobre a tela de modo a garantir fluidez geral do espaço (lógica da ilusão, do artifício, da imagem além do processo).
Não se trace para o projeto de Manoel uma genealogia apressada (MV, você conhece ML?). É impossível lidar com a visualidade vertiginosa destes trabalhos segundo antigos critérios modernistas. Solicita-se outro repertório, familiar, mas estranho à prática da pintura: vejamo-os como pintura de imagem, pintura-cinema-3d; pertencem à época da síntese visual dos telescópios, da coloração de reagentes induzidos por corantes, da super câmera lenta nos replays de futebol, dos gráficos animados de previsão do tempo, da espetacularização das imagens de síntese, da telepresença, dos protetores de tela dos computadores, da interpretação cromática da guerra e da modelagem impecável das novas atrizes digitais. Outras abstrações, enfim.

Pedro França



Clarissa Diniz - 2009

Como tradicionalmente a pintura é criada através da manipulação mecânica de suas ferramentas ou suportes (pincéis, espátulas, telas), esta costuma ser associada ao gesto impetuoso e corporal que a produz; ao seu autor. Esta concepção de pintura – pautada num artista-demiurgo que dominaria integralmente o material com o qual lida – explora a subjetividade como caráter identitário, constituindo, para a arte, um território que historicamente é entendido como antagônico ao da ciência, suposto palco da objetividade. Manoel Veiga, por sua vez, tem provocado tal duopólio arte x ciência ao trazer, para seu método produtivo em arte, procedimento de roupagem similar àquele que fundou a ciência moderna: “afastar” o observador do sistema observado.

Nessa intenção, o artista tem instaurado um processo de criação no qual sua soberania autoral é restringida mediante a incorporação da vontade da matéria e da natureza com as quais lida – ‘entes’ que nos dominam sem que percebamos sua fálica presença. Implicitamente enuncia, por meio de sua pintura, que é necessário reconhecer tais ‘entes’ como forças objetivas que, vivendo conosco relações de simbiose, parasitismo e mútua exploração, são dotados de um poder de auto-organização e reprodução que obedece a princípios que desconhecemos. O reconhecimento de seu poder e a consequente exploração deste, base da pintura de Veiga, resulta numa obra de autoria múltipla e abstrata. Sem pinceladas, e a partir da atuação de forças e princípios que, sabendo indomáveis, o artista não anseia comandar em totalidade, senão parcialmente explorar (como nos desvios e freios geometrizantes que recentemente têm habitado sua obra), a pintura se constrói como o movimento que se percebe num rio ou numa xícara de leite no momento em que se coloca um pouco de café. Assim o é: ainda que, a partir da ação do artista em seu embate com a matéria, ocorra a criação de “atmosferas” e uma consequente sugestão de estados de percepção, não há, contudo, elaboração de metáfora ou significação. Fugindo dos conteúdos e expressões baseados no modelo lingüístico do significante-significado, a obra alude à idéia de diagrama, que ignora os sentidos e a distinção entre o artificial e o natural, pautando-se unicamente por funções e matérias. Não importando os sentidos adjuntos ao movimento (conteúdo, por exemplo) ou o status de sua pulsão de origem (se mecânica, artificial etc), é em si o espaço-fluxo da existência que, com sua contundência e sedução, protagoniza a pintura e o olhar daqueles que a observam. Numa outra perspectiva pode-se afirmar ainda que a pintura de Manoel Veiga – em pretensão, nem toda sujeito, nem toda objeto – alude também à indefinição, probabilidade e subjetividade contidas na ciência e seus modelos de controle, problematizando a utopia moderna de uma ciência impassível, isenta de vulnerabilidades. Qual seja o ponto-de-vista, é tecido um elogio à porosidade existencial, desejo de fusão que, libidinoso, perpassa seres, coisas, pensamentos e disciplinas. Ao gozar da conjunção ao invés de insistir num modelo disjuntivo de mundo (sujeito x objeto), a pintura de Manoel faz de si seu assunto, num procedimento metalingüístico em que, já há alguns anos, sua obra (um sistema) é seu tema e procedimento. É que, como cientista, visto que engenheiro, tomou para si a responsabilidade de, inclusive na arte, pensar não só numa epistemologia dos sistemas observados, como também numa dos observadores. Daí não representar a guerra, mas guerrear contra, a favor e em si mesmo.


Diniz, Veiga, Monod,Deleuze, Basbaum, Morin, von Foerster, a matéria, as idéias, o som e o cheiro da chuva que cai.


Acaso e rigor (ou da alquimia pictórica de Manoel Veiga)
Adolfo Montejo Navas - 2007

A esse extremo da pintura que se reinventa a si mesma na contemporaneidade pertence a poética de Manoel Veiga. Como todo artista plástico que se inscreve em um suporte tão histórico, as estratégias de conceitualização e atuação dizem quase tudo e são feitas no limite do gênero. Sobretudo quando, assim como há uma pintura que migrou para outro registro –disfarçando-se ou não–, há também uma arte que re-lembra/lê mimeses e códigos representacionais da pintura, sendo ambas as vias de estreitas semelhanças. Não é o nosso caso. Manoel Veiga se instala no âmbito atávico da tela para utilizar procedimentos que são também formulações de uma física-química estética, ou melhor, de uma alquimia pictórica que vincula o acaso ao rigor. E que parece partir de um leitmotiv já estabelecido por Malevitch: “devem ser criadas novas relações de cor, baseadas no que a cor pede, e também a cor, por sua vez, deve passar de mistura pictórica para unidade independente, estrutura na qual seja ao mesmo tempo individual em um ambiente coletivo e individualmente independente”. Deste ponto de partida, já entendido como procura, insere-se esta nova forma de reavivar o campo da abstração na pintura, que já tem a sua memória cultural estabelecida, mas não fechada. O que significa agora mostrar o processo e a forma de transmitir a experiência pictórica, refletir sobre a própria natureza da pintura. Há portanto algo meta-lingüístico, inevitável, que aqui se desenvolve no mesmo micro-cosmos da cor, numa pesquisa artística em que o gesto (com ecos contrapostos, orientais e pollokianos) tem uma transcendência derivada do movimento e da dinâmica energética que esta pintura inclui. A sua condição entrópica passa pelo grau de alteração e desordem no sistema costumeiro de cores, mas também pela incerteza informativa (ambígua) que translada na sua deriva. O que significa a incorporação de um grau respeitável de incerteza no resultado, nunca vista como erro.

Apesar da explicação esclarecedora do próprio artista sobre o seu processo no Caderno de trabalho (“variação de entropia é uma forma de medir”, “entropia não é medida do caos”, “difusão de energia é a força de ação, em química”), em toda esta formulação artística o estudo dos comportamentos da tinta, dos pigmentos, dos líquidos, da emulsão, da difusão, da dispersão, etc. é capital, e favorece outra dinâmica de atuação (a presença da água ecoa sutilezas de aquarela, outras nuances e registros). Assim, todas as operações induzem a pensar que se trata de uma poética cuja lei de gravidade é mais gravitacional, pertence a outro plano de ação estética. Aliás, nestas tintas acrílicas sobre tela ou papel, o espaço pictórico nunca deixa de ser também um espaço mental, no qual o branco do vazio diz muito. “Assim o vazio não é a nada. O vazio é o quadro” diz Zhang Shi.

Para nossa aproximação, as imagens conseguidas pelo artista refletem um regime instável de harmonia, um repertório visual aleatório que fica a salvo de leituras reducionistas ou dirigidas: a própria autoria mergulha na linguagem –essa outra voz mais alta. As manchas-estruturas-composições de Manoel Veiga transitam por uma cartografia própria (com filamentos e raízes fractais em estado de suspensão molecular). É um configurado corpus de alta densidade cromática e sintética, no qual o artista pode até ser tentado a explicar-se em suas anotações. Mas que nunca é suficiente. Por sorte. Pois a explicação não consegue apreender os resultados nem os processos. O campo ampliado, em aberto, de uma pintura onde acontecem mais coisas do que vemos


Evanescências
Guy Amado - 2003
Paço das Artes, São Paulo

O gênero da pintura abstrata desde há muito não se encerra nos limites de uma noção esquemática e estanque, comportando abordagens e procedimentos os mais diversos; e há pelo menos 50 anos um extenso rol de artistas vêm repensando e ampliando as possibilidades de expressão nessa linguagem. E é nesse campo - com certo descompromisso por quaisquer categorizações - que transcorre a fatura pictórica de Manoel Veiga. No decorrer dos últimos anos, o artista vem desenvolvendo uma pesquisa artística pessoal nos domínios da abstração que parece ter alcançado, na presente produção, uma qualidade de originalidade que reafirma o grau de experimentação em sua prática.

A noção de fluidez, que já se apresentava como recorrente na poética de Veiga, é agora investida de uma interpretação quase literal. O artista chega a uma solução pictórica em que se vale de um processual prosaico e peculiar, elaborando suas composições atacando o suporte diretamente sobre o plano do chão. Tal decisão constitui-se em artifício para anular a ação da gravidade, permitindo assim que a refinada solução de pigmentos de acrílica – previamente preparada e que o artista conduz aplicando borrifos dágua - se disperse sobre a tela por difusão, avançando de maneira incerta sobre a mesma, o que confere certa aleatoriedade à empreitada. Veiga passa, portanto, a operar com pouco controle sobre o resultado final, numa situação de acaso controlado. O que, se por um lado incorre em um fator de risco, reserva, por outro, a possibilidade de se obter composições de imprevisível beleza: a emulsão evanesce e sedimenta-se contra o campo branco da tela, só então revelando o que se configura como a obra acabada.

O conjunto de obras ora exposto evidencia elementos inovadores na fatura do artista: nessas delicadas composições, a expressividade do gesto - enfatizada em sua pintura anterior - limita-se agora às pinceladas com que o artista inaugura a obra. Um índice de presença discreta, que a estrutura rarefeita dessa nova produção deixa aqui e ali entrever. Essas mesmas pinceladas acabam por se constituir na única concessão do artista a uma idéia de procedimento pictórico mais tradicional, por assim dizer: dali em diante, o processo segue seu curso por vias ditadas pelo comportamento instável dos líquidos sobre a superfície, mediado pela intuição do artista.

Talvez por serem concebidas por meio de método não muito ortodoxo, ou quem sabe pelo fato de sermos mais e mais assaltados por uma compulsiva visualidade eletrônica no dia-a-dia da metrópole, essas peças parecem investidas de uma qualidade estranha à noção convencional de pintura: assemelham-se a fake-monotipias de etérea presença, por vezes aludindo à sofisticação artificial de imagens digitais. A delicadeza dos padrões que afloram, espontâneos, nos contornos das formas-manchas que tomam a tela – ou são por ela contidos, não se sabe - evocam ora uma cartografia onírica, de gradientes imprecisos, ora graciosas formações microscópicas semelhantes a fractais, estruturas associadas à teoria do caos.

Manoel Veiga desde sempre se interessou por investigar aspectos da física – especialmente a mecânica quântica, reminiscências de uma carreira pregressa em engenharia –, e este dado adquire relevância em sua produção quando pensado como elemento potencializador de leituras acerca de sua produção. Suas telas passam a ser compreendidas como estruturas dinâmicas, sistemas instáveis e de incerta harmonia, onde a ação semi-aleatória dos elementos desencadeia uma quieta reflexão sobre a temporalidade e o registro da própria fatura.


Uma Poética de Estruturas Fluidas
Tatiana Ferraz - 2002

No âmbito da contemporaneidade do universo das artes visuais, a pintura aparece como o grande desafio lingüístico na sua eterna busca de uma ação surpreendente e inovadora. Manoel Veiga é exemplo de um percurso dessa incessante pesquisa poética da condensação de um mundo adensado que permanece intrigante.

Desenvolvendo uma pintura particular há mais de sete anos, o artista chegou a uma investigação pictórica própria. Em sua última série, realizada a partir de 2001, a ação das pinceladas é mais liberta e, ao mesmo tempo, mais afirmativa, revelando um estado de plena consciência da matéria, deixando que a poética flua e conquiste uma suavidade antes velada.

Seus pensamentos e manifestações advindos da experiência primeira da engenharia e, principalmente, dos estudos sobre a física quântica se presentificaram nas telas como corpos em ação continua de integração e desintegração. Um movimento que remete a ação temporalizada da natureza, próxima às estruturas dinâmicas e a sistemas aleatórios potencializados.

Se no começo da carreira a fatura seguia um adensamento de camadas num todo pictórico recolhido, hoje Manoel chega a uma etapa mais decisiva com poucas pinceladas e camadas mais diluídas, dosada por uma ousadia de quem tem domínio sobre a matéria, seja na ocupação da tela e dos espaços entre as manchas, ou nos encontros das pinceladas e dos gestos que se dissolvem num momento de grande integração.

As telas aumentaram, ganhando intervalos na construção do espaço, proporcionando um respiro das manchas, num gesto essencialmente fluido. As cores já não se misturam por exaustiva sobreposição de camadas, como em séries anteriores, numa direção concentradora. Em lugar disso, o pintor prepara uma mistura prévia, a qual só se manifesta como tal na própria ação de pintar, revelando suas tonalidades ao se acomodar na tela. Uma surpresa da cor que se constrói no tempo.

A própria instabilidade das misturas tonais e das manchas, influência de suas leituras sobre teorias quânticas, como o princípio da incerteza, torna a pintura ao mesmo tempo um enigma e uma surpresa. Tudo isso velado por uma fina camada de branco, sutil construção que se contrapõe ao caráter emblemático da cor protagonista.


Inventário de Espaços e Tempos
Moacir dos Anjos - 2000
Fundação Joaquim Nabuco, Recife

Afastadas da ambição de figurar o mundo que lhes é externo, as pinturas de Manoel Veiga se voltam, introspectivas, para a investigação e o registro de sua própria feitura. Vindos de todos os lados do suporte, enérgicos traços e manchas de carvão e tinta correm, em aparente confusão, rumo ao interior de cada uma de suas telas, fazendo-as depositárias de um feixe centrípeto de cores quentes. Não há aleatoriedade ou improviso, contudo, na realização dessas obras. Ainda que acolham e documentem, no espaço que o suporte delimita, o gesto expressivo do artista, obedecem todas a um processo de construção que subordina o que é gratuito ao que tece sentidos e o elogio da matéria ou da forma a procedimentos cognitivos.

O exame da morfologia dos trabalhos expostos revela, desde a primeira mirada, a principal característica desse processo: a superposição de inúmeras camadas de tinta e carvão sobre as telas sem que, no entanto, as camadas mais recentemente aplicadas obliterem totalmente a visão das que primeiro foram impressas sobre o suporte. Tal efeito palimpséstico é alcançado através das várias condutas construtivas adotadas pelo artista. Dentre estas, chama logo a atenção do olho o estreitamento gradual das pinceladas largas de tinta que inauguram cada obra, ao ponto destas se tornarem, na superfície das telas, mais traços que manchas e mais linhas que campos de luz. No momento de adelgaçamento mais acentuado da matéria pintada, o artista adiciona ainda riscos de carvão sobre o suporte, acentuando o progressivo desbaste do que fica como resíduo corpóreo de cada um de seus gestos. Embora os espaços pictóricos que iniciam as telas se deixem cobrir – através desse processo e uma vez findas as obras – por uma emaranhada malha gráfica feita de traços de carvão e tinta, esta estrutura é rarefeita o bastante para que os espaços de origem das pinturas não sejam por todo obstruídos.

Em outra das principais condutas de construção utilizadas, o artista quase nunca permite que o pincel encontre as telas encharcado com tinta: traz nele apenas a quantidade necessária para tornar visível, após áspero contato com o suporte, a sobreposição de planos que seus gestos repetidos engendram. Ao invés de matéria espessa e opaca, portanto, são rastros ralos de tinta deixados sobre as telas que marcam, por veladuras, o adensamento do espaço nessas pinturas. Adicionalmente, quanto maior o acúmulo de camadas pintadas mais tênue e mais breve se torna o contato entre pincel e suporte, enfatizando as transparências de que a pouca tinta usada já era prenúncio. Tampouco o carvão deixa funda sua marca: por meio de golpes rápidos desferidos pelo artista, ele toca as telas apenas o bastante para entranhar-se superficialmente nas suas fibras. A medida pretendida da espessura da mancha ou linha assim traçadas parece ser, portanto, aquele espaço mínimo de roçar entre suporte e matéria que, embora no limite do afastamento, ainda permite o registro inequívoco de seu encontro.

Nesse trajeto visível do campo ao traço e na crescente transparência da matéria aplicada sobre as telas – procedimentos em que se apóia a construção de cada trabalho exposto – habita uma investigação da temporalidade específica da pintura e da espacialidade virtual da superfície onde ela se gesta e define. Ao desvelar, através de sua corporeidade devassável, uma feitura em inúmeras camadas e em velocidade crescente, essas obras põem à mostra sua própria história, o fluir do tempo que permite sua existência como pintura. E é a esse tempo de fatura que se associa, até o instante exato em que cada trabalho termina, um progressivo deslocamento de planos, no qual camadas já pintadas recuam e se afastam da superfície da tela pela acumulação de outras tantas. Ficam gravadas como assunto nas obras de Manoel Veiga, desse modo, não apenas a própria duração do processo através do qual o artista as trama, mas também a extensão ilusória e movente dos espaços que sobre sua superfície inventa.


fonte : Nara Roesler 10.04.2010



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