Artista Luiz Hermano - Luiz Hermano Façanha Farias
Biografia Hermano, Luiz (1954)



Biografia

Luiz Hermano Façanha Farias (Preaoca CE 1954). Escultor, gravador, desenhista, pintor. No início dos anos 1970, estuda filosofia em Fortaleza e, de maneira autodidata, trabalha com gravura em metal e desenho. Em 1979, freqüenta aulas de gravura com Carlos Martins (1946) na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, no Rio de Janeiro. No mesmo ano, transfere-se para São Paulo e realiza a mostra Desenhos, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp. Em 1984, recebe o Prêmio Chandon de Arte e Vinho, com o qual viaja para Paris, e faz exposição individual na Galeria Debret. Em 1983, participa da 5ª Bienal Internacional de Seul, e da 2ª Bienal Pan-Americana de Havana, em 1986. Na década de 1980, dedica-se, sobretudo, à pintura. Nos anos 1990, desenvolve obras tridimensionais utilizando materiais diversos, entre eles madeira, bambu e arames de cobre, alumínio e ferro. Expõe pinturas na 19ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1987, e esculturas na 21ª edição do evento, em 1991. Apresenta a mostra Esculturas para Vestir, no Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP, em 1994. Depois passa a trabalhar com artigos de consumo de massa, como brinquedos de plástico e utensílios de limpeza, com os quais cria instalações, painéis e objetos.



Atualizado em 12/04/2006
fonte : Itaú Cultural

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Exposições Individuais

2009
Extinto, Amparo 60 Galeria de Arte, Recife, Brasil

2008
Templo do Corpo, Pinacoteca do Estado, São Paulo, Brasil

2005
Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil

2003
Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil

2002
Adriana Schmidt Gallery, Stuttgart, Alemanha

2001
Paço das Artes, São Paulo, Brasil
Embaixada do Brasil em Berlim, Alemanha

2000
Galeria Referência, Brasília, Brasil
MAM - Nestlé, São Paulo, Brasil
Valu Oria Galeria de Arte, São Paulo, Brasil

1999
Kolams Galeria de Arte, Belo Horizonte, Brasil
Ária Galeria, Recife, Brasil

1998
Palácio da Abolição, Fortaleza, Brasil

1997
Valu Oria Galeria de Arte, São Paulo, Brasil

1996
Mosteiro Zen Budista, Morro da Vargem e UFES, Vitória, Brasil

1995
Joel Edelstein Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
Marina Potrich galeria de Arte, Goiânia, Brasil

1994
Esculturas Para Vestir, Mam, São Paulo, Brasil

1993
Epiphaniekirche, Charlottenburg, Berlim, Alemanha

1992
Galeria Montesanti-Roesler, São Paulo, Brasil

1990
Imagem Objeto, Mac/Usp, São Paulo, Brasil

1989
Projetos para dias de chuva, Museu da Gravura da Cidade de Curitiba, Brasil

1987
The Brazilian American Cultural Institute, Washington, EUA

1984
Galerie Debret, Paris, França

1983
Arte Galeria, Fortaleza, Brasil

1981
Gravuras, Masp, São Paulo, Brasil
Desenhos, Masp, São Paulo, Brasil


Exposições Coletivas

2009
Era Uma Vez - Centro Cultura Banco do Brasil. São Paulo, Brasil

2008
Poéticas da Natureza, MAC USP, São Paulo, Brasil
Arte pela Amazônia, MAC Ibirapuera, São Paulo, Brasil

2007
80/90 Modernos pós-modernos etc, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil

2006
Volpi e as heranças contemporâneas, MAC-USP, São Paulo, Brasil
MACO, México Arte Contemporâneo, Cidade do México, México

2005
5º Edição Bienal do Barro, Memorial da América Latina, São Paulo, Brasil
MACO - México Arte Contemporâneo, Galeria Nara Roesler, Cidade do México, México
Discover Brazil, Ludwig Museum, Koblenz, Alemanha

2002
FIA - Galeria Adriana Schimidt, Caracas, Venezuela
Faxinal das Artes, Curitiba, Brasil
O Orgânico em Colapso - Valu Oria Galeria de Arte, São Paulo, Brasil
The Thread Unravelled, MALBA, Buenos Aires, Argentina
ARCO - Valu Oria Galeria de Arte, Madrid, Espanha

2001
I Simpósio Internacional de Escultura do Brasil, Brusque, Brasil
O Fio da Trama, Museo del Barrio, New York, EUA
Caminhos da Forma, Sesi/ Mac, São Paulo, Brasil
ARCO - Valu Oria Galeria de Arte, Madrid, Espanha

2000
Final Do Milênio, MAM, São Paulo, Brasil

1998
Salão Nacional, Rio de Janeiro, Brasil
Leões e Dragões, Centro Dragão do Mar, Fortaleza, Brasil

1997
United Artists III, Luz, Casa das Rosas, São Paulo, Brasil
15 Artistas Brasileiros, Mam, Rio de Janeiro, Brasil

1996
15 Artistas Brasileiros, Mam, São Paulo, Brasil

1994
Miami International Art Exposition - Galeria Joel Edelstein, Miami, EUA
Chicago International Art Exposition - Galeria Joel Edelstein, Chicago, EUA

1992
Gravadores do Sec. XX, Biblioteca Nacional de Paris, França

1987
X Bienal Internacional de São Paulo, Brasil

1986
Bienal Pan-Americana de Havana, Cuba

1984
I Bienal Latino-Americana de Gravura, Curitiba, Brasil

1981
V Salão Nacional de Artes Plásticas, Funarte, Rio de Janeiro, Brasil
Bienal Internacional de Seoul, Coréia do Sul

1980
I Salão de Arte Contemporânea, São Paulo, Brasil
Desenho Jovem, Mac/Usp, São Paulo, Brasil


Coleções Públicas

Coleção Patricia Cisneiro, Caracas, Venezuela
Biblioteca Nacional de Paris, França
Masp, São Paulo, Brasil
Museu de Arte Brasileira, Faap, São Paulo, Brasil
Mac/ USP, São Paulo, Brasil
Mac, Recife, Brasil
Mam. São Paulo, Brasil
Mac/Ufc, Fortaleza, Brasil
Mac, Curitiba, Brasil
Instituto Cultural Itaú, São Paulo, Brasil
Casa da Gravura - Fundação Nacional, Curitiba, Brasil
Museu da Gravura da cidade de Curitiba, Brasil
Simpósio Internacional de Escultura do Brasil, Brusque, Brasil
Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil
Metrô de São Paulo, Estação República, São Paulo, Brasil
Brazilian Embassy in Jakarta, Indonesia
Brazilian Embassy in Berlim, Alemanha


SOBRE O ARTISTA

Luiz Hermano (Preaoca, 1954). Vive e trabalha em São Paulo

Existem artistas cujo projeto poético consiste na construção de um território de regras fixas, um mundo estável e reconhecível já à distância, se possível portátil, o que facilitaria a nós levá-lo para casa para tê-lo à mão e visitá-lo sempre que necessário, sempre que o nosso espírito solicitasse uma porção de solidez. Pois o desafio de Luis Hermano é a fundação de um mundo cujas vértebras são constantemente embaralhadas, baseado no estabelecimento contínuo e mutável de relações entre coisas diferentes umas das outras, um produto de quem, como ele, enxerga o mundo como um caleidoscópio de ritmos e imagens, e que nos ensina que toda variação desenvolve nossa capacidade de olhar e brincar.

Luis Hermano é um artista que brinca, mas no sentido translato do termo. Brinca com a gravidade de um adulto que, diversamente de uma criança que submerge enlevada na lógica do jogo, é capaz de pensar suas regras, seus objetivos, para então alterá-lo. Hermano joga com brinquedos que ele mesmo inventa ou através de brinquedos dos quais se apropria com reinventar. E é assim desde há muito, a começar pelas pinturas, gravuras e desenhos realizados nos anos oitenta, protagonizados por cores fortes e linhas bem marcadas, feitas à mão livre, distantes, portanto, das realizadas por réguas e compassos. Por intermédio dessas linhas ele elaborava máquinas insólitas e engraçadas, engenhocas improváveis semelhantes a barcos bojudos, naves espaciais e submarinos, dotadas de janelas redondas e hélices que só faziam acentuar suas aparências destrambelhadas, sua funcionalidade precária, colocada a serviço antes do sonho do que da necessidade.

Posteriormente o artista ampliou o campo de sua atitude lúdica passando a investigar com mais profundidade as noções de brinquedo e de jogo.

Hoje, como dá a ver esses seus novos trabalhos, sua pesquisa desdobra-se em resultados distintos: há, por exemplo, o exame das representações miniaturizadas de personagens da vida cotidiana - bonecos, carrinhos, cavalinhos de plásticos, bichos pré-históricos, ciclistas etc -, o infinito repertório de pequenos dispositivos por meio dos quais, desde a infância, nos familiarizamos com as personagens, os protagonistas e as atividades pertencentes ao mundo dos adultos. Colecionador compulsivo, Luis Hermano recolhe os brinquedos para decepá-los e em seguida rejuntá-los em novas configurações, cosendo-os uns aos outros, ligando-os através de mangueiras de borracha, mergulhando-os em linhas emaranhadas de alumínio, perfazendo circuitos complexos cuja finalidade e ativação ignoramos. Se como for de anteriormente dóceis os brinquedos transformam-se em organismos estranhos.
Há também os trabalhos pertencentes a uma ordem de brinquedos mais abstrata, entre o objeto e o jogo, que tanto podem exigir destreza manual quanto a obediência a regras, brinquedos e jogos como piões, os alvos para arremesso de dardos ou flechas, as plaquetas de madeira que trazem números e letras estampadas em suas faces; brinquedos e jogos que demandam agilidade e atenção por parte dos usuários.

Brinquedos e jogos que despertam na criança o sentido do raciocínio associado à precisão, a sutil relação entre a meta a ser atingida e os procedimentos para tanto, a concatenação capaz de restaurar a unidade do todo, a maneira do que se persegue quando se está diante do amontoado de peças que compõem um quebra-cabeças. Quanto ao pião, por exemplo, cada um de nós se lembra perfeitamente bem da expectativa pelo arremesso perfeito, o movimento rápido de expansão do braço seguido do soco e da retração súbita, capaz de fazer com que o cone compacto de madeira rodopiasse pelo chão, propiciando-nos o encantamento por um corpo bailarino de rotação tão veloz que momentaneamente se confundia com a imobilidade. Qualquer um de nós consegue recuperar a tentativa de conjugar os cálculos relativos ao peso do dardo, a pegada em seu ponto de equilíbrio, a força do braço ao arremessá-lo de modo que o ponto final da sua trajetória elíptica fosse o centro do alvo. Todos, enfim, preenchemos as horas de uma tarde chuvosa testando as palavras possíveis de serem enunciadas a partir de um reduzido número de letras. Cada letra imantava uma outra, frágeis moléculas silábicas iam se formando e se desfazendo em favor do encadeamento com outras com que também construíssem significações.

A maioria dos trabalhos de Luis Hermano atualiza o sentimento de surpresa contido em cada jogo. Para ele a arte é uma prática ociosa que se escora e se satisfaz na pura alegria de construir, a começar pela construção do próprio solo onde ela germina e brota, prosseguindo pelo fabrico de nexos astuciosos entre partes para vencer alturas, pela criação de superfícies movimentadas, planos que se vergam com delicadeza até formarem volumes vazados por ar e luz. É justamente isso que encontramos na terceira ordem de brinquedos realizados por Hermano: aqueles que decorrem de uma compreensão da engenharia como uma atividade lúdica, que se faz descongelando a geometria, tratando-a como matriz de estruturas flexíveis, a beira do desconjuntamento. É assim com as várias versões de "torres" feitas a partir de escalas métricas - trenas - de madeira. Sempre delgadas e elegantes, as torres, tirando partido da maleabilidade desse instrumento de medição, segmento de reta passível de ser fragmentada em todos os ângulos possíveis, tanto se erguem em impulsos elásticos e decididos quanto progridem através de camadas empilhadas suavemente periclitantes. É assim em "Intrínseco", quadrados plásticos brancos encaixados uns nos outros que, suspensos nas paredes, abandonados à própria gravidade, entrechocam-se e desorganizam-se como que zombando das pretensões dos cálculos e das certezas.

www.luizhermano.com



TEXTOS CRÍTICOS

Luiz Hermano: Tramas de significado
Paula Braga - 2009
Arte al Dia International #129

Quando perguntei a Luiz Hermano em que ele pensa enquanto elabora suas tramas complexas de arame que juntam todos os tipos de objetos prosaicos, ele me respondeu que medita. Meditação é uma prática que pode ser desenvolvida em vários níveis de complexidade, da concentração em uma forma à sincronização com o cosmos. Em qual estação do longo dial da meditação ele se sintoniza para passar horas bordando suas peças? Meditação, percebi depois de comparar a resposta de Hermano a sua obra, também envolve brincar com o tempo e desafiar a finitude.

Um colecionador de objetos do dia-a-dia, Hermano também coleciona o tempo, a estrutura essencial que sustenta o universo, essa substância transparente na qual vivemos imersos. Assim, ele enlaça e agrega brinquedos de plástico, capacitores eletrônicos, miçangas e fios do tempo: agora o tempo não vai mais fugir nem se disfarçar em uma magra linha do tempo. Enquanto Hermano tece o tempo, suas peças assumem formatos que não se pode dissociar de questões cosmológicas. Céu, uma peça que o artista terminou recentemente, é uma trama grande e complexa que se parece com uma noite clara e estrelada. Miçangas azuis de várias tonalidades estão colocadas na elaborada retícula, espalhadas ou aglomeradas em círculos de tamanhos diferentes. A escala do trablho e o brilho das miçangas sugerem o questionamento filosófico primordial de se olhar para as estrelas.

O tema das origens ou significado do mundo segue Luiz Hermano desde os anos 1970, quando ele fazia aquarelas, gravuras em metal e pinturas populadas por seres fantásticos e mitos de várias culturas, da Arca de Noé à tartaruga que na tradição Indiana carrega o universo. Centauros, elefantes voadores, seres meio-peixe meio-homem que parecem saídos de uma obra de Hierominus Bosch vagam pelas histórias que Hermano criou com aquarelas ou, na falta do material artístico, café coado. Gravura em metal, técnica demorada e predisposta ao desenvolvimento de narrativas fantásticas, também teve um espaço importante na fase inicial da obra de Luiz Hermano. Tanto as gravuras quanto a matriz de metal estão guardadas no estúdio do artista, junto das aquarelas fantásticas enquanto ele vem se dedicando a trabalhos escultóricos nos últimos vinte anos.


Em1991, a Bienal de São Paulo reservou uma sala para suas esculturas feitas com lâminas de madeira trançadas, que geravam volumes misteriosos e realçados por uma luz dramática e sombras condizentes com a densidade dos temas cosmológicos de Hermano. Algumas dessas esculturas de fita de madeira, como Figura, de 1998, guardam semelhança com as formas dos objetos sagrados do candomblé, como aquelas trazidas para o mundo da arte contemporânea por Mestre Didi. Em Hermano, no entanto, não há uma religiosidade definida, nem invocação do transcendental. As voltas das fitas de madeira de Hermano parecem afirmar justamente que isto aqui, e apenas isto, existe, esse mundo finito, cheio de objetos que podem ser combinados de muitas formas, amarrados, trançados, deslocados, resultando em um outro objeto que, sendo novo, quer desafiar a finitude.

Lidando com o tempo e a finitude, Hermano parece colocar em prática a teoria de Friedrich Nietzsche sobre o eterno retorno: o mundo é finito, acontecendo em um tempo infinito. Assim, repetições são inevitáveis. Como escapar da sensação de aniquilamento causada pela hipótese de um mundo que é só isso, sem nenhum céu transcendental? Insistindo na criação do novo, que advém da recombinação e deslocamentos dos elementos finitos desse mundo. O Céu de Luiz Hermano é feito de contas azuis de plástico, e da captura meditativa do tempo, esse sim, infinito.

Escapar do finito e limitado é uma especialidade de Hermano desde seus tempos de criança, no interior do Ceará, nordeste do Brasil. Construindo brinquedos com ossos de animais ou imaginando histórias que contassem a origem da chácara em que vivia, Hermano criava para escapar. Quando saiu de sua cidade, estudou filosofia, curso que abandonou para viajar pela América Latina, conhecendo as estórias e tradições de outros povos. Hoje em dia, Luiz Hermano viaja anualmente para várias combinações de latitude e longitude que encontra na retícula que mapeia o globo terrestre.

Na Tailândia, na India, na China, Hermano encontrou estátuas de budas em construções milenares, erguidas segundo a geometria sagrada e se encantou com mandalas que esquematizam o universo. Mas também passeou pelas ruas de comércio de quinquilharias de plástico, de brinquedos piratas, de computadores de procedência duvidosa. O sagrado enovelado com o profano. Construiu então por volta de 2006 grandes mandalas e cavalos celestiais feitos com capacitores de energia. Às vezes semelhantes a casulos, às vezes parecidos com sarcófagos, essas esculturas insistem em perguntar sobre a criação e a finitude. Capacitores eletrônicos -- fontes de energia -- também aparecem em trabalhos com forma de cérebro, que Hermano intitulou Memória (Memory) e Berçário (Nursery). Como nascem as invenções? E essa máquina incrível e misteriosa chamada cérebro? Teria sido criada quando o tempo e o acaso brincaram juntos?

A instalação Máquinas Voadoras (Flying Machines), de 2003, aglomera dezenas de pequenas máquinas construídas com peças de madeira e plástico de kits de montagem de aviões, dinossauros, ou caminhões de brinquedo. A cartela dos kits, que contêm as peças a serem destacadas e usadas de acordo com as instruções de um manual, são integradas a suas máquinas fantásticas e, é claro, o manual é descartado, abrindo espaço para combinações que seguem as regras da imaginação.

Brinquedos são elementos chave para a compreensão do pensamento de Luiz Hermano. Uma criança brincando sozinha com alguns objetos entra em um estado de suspensão, como se nada mais existisse, um momento de pura construção de mundos imaginados que, como articulado por Winnicott, constituem uma área intermediária de experimentação. Essa zona intermediária seria uma terceira parte das vidas dos seres humanos, depois da realidade psíquica interior e a realidade exterior, compartilhada. A porosidade dos trabalhos de Hermano -- a teia é também uma coleção de buracos -- contribui para essa leitura de seu trablho associada às teorias de Winnicott sobre a área intermediária, essa grande zona entre a subjetividade e a objetividade, e sua relação com o objeto transicional, o primeiro objeto que um bebê elege para ser uma coisa separada dele, mas que ele possui e controla. A primeira frustração que um bebê vive é perceber que o seio da mãe como existente na realidade exterior não é o mesmo seio que o bebê julgava possuir e poder controlar, o seio introjetado. A área intermediária é uma zona de transição que permite a criação de ilusões que farão a ponte entre essas duas ideias de seio materno e que se torna, à medida em que a criança cresce, o território da religião, da arte e do trabalho científico criativo. [1] A experiência cultural é na verdade uma extensão desse jogo desenvolvido na área intermediária.

No trabalho Clínica, Hermano amarra vários brinquedos, heróis e animais. No centro dessa aglomeração, duas metades de um modelo de plástico do corpo humano estão presas à estrutura de arame. É interessante notar que as duas metades não se encaixam, proibindo o desejo de fechá-las uma na outra, formando um todo. O espectador pode ver as vísceras e ossos desses corpos e todos os outros objetos. Se virarmos o trabalho para olharmos o avesso, não conseguiremos mais ver esse núcleo dos corpos. Os outros brinquedos, da mesma forma, darão as costas para o espectador. Clínica, então, pode ser lida como uma membrana que dá acesso simultaneamente ao mundo interior -- representado pelas víscera e ossos -- e o mundo exterior -- o campo cultural, representado pelos outros objetos.


A capacidade dos objetos de conectar ilusão (representação subjetiva do mundo) e a realidade compartilhada também está presente na série Falso Brilhante na qual Luiz Hermano enaltece a falsificação descarada, eleva-a a mentira sincera. Uma das jóias gigantes dessa série é Banda Larga , uma trama simples feita com entremeio de colar, prateado, e que no título revela seu parentesco com as obras feitas em 2007, que se referem mais explicitamente a tecnologia. As contas de colar, convenhamos, sempre estiveram conectadas à idéia de comunicação transcendental. Quando segura um terço nas mãos e conta dúzias de Ave Marias e Padre Nossos, o católico está seguindo um protocolo de comunicação com santos, em banda larga, transmissão de dados que começa com o login do sinal da cruz. Religião, consumismo e tecnologia se encontram nas miçangas da série Falso Brilhante. Brincar é desenvolver uma ilusão saudável e tranquilizadora. Fazer bijuteria de miçangas é brincadeira de criança. Microeletrônica ocupa o dia-a-dia dos adultos conectados a brinquedos de alta tecnologia como celulares e computadores.

Não é de se espantar que Luiz Hermano medite enquanto faz suas obras. Ele entra em um estado mental similar ao da criança brincando, e enquanto sincroniza o movimento de suas mãos com a frequencia de suas ondas cerebrais, ergue uma área onde a ilusão de ser um com o universo se integra com a consciência de ser separado desse universo. Nas tramas criadas por Luiz Hermano -- como na arquitetura sagrada que ele encontrou em culturas antigas -- a ilusão de estar em controle e ser capaz de mapear o universo construindo objetos coexiste em paz com a frustração de ser um ente de duração finita em um universo que existe em um tempo infinito. Uma obra de 1999 resume o projeto de Luiz Hermano de construir espaços intermediários para superar essa frustração primordial: Todas as Mulheres do Mundo II (All the women of the world II) une com cobre várias cabaças, fruta brasileira que se parece com um seio.


Como uma pedra falsa ou um sonho de valsa
Paula Braga - 2009

Aparecido é uma cabeça verde, presa a um emaranhado de prata falsa. Herda o nome de uma santa, aparecida numa rede de pescador, retirada da água e cultuada em altar. A cabeça de Aparecido também está fadada a um enredamento na falsidade reconfortante. Mas Luiz Hermano conta a verdade sobre o falso: nós o usamos, nós o adoramos, nós o glorificamos.

Que jogue a primeira pedra falsa quem nunca teve uma esmeralda de plástico. Estamos embaraçados na rede do consumo, nossos deuses frequentam o Olimpo do mercado de luxo e o que resta à maioria é viver feliz com o inautêntico. Na exposição “Falso Brilhante”, Luiz Hermano enaltece a falsificação descarada, eleva-a a mentira sincera.

Ao elaborar obras originais com pérolas de plástico, Luiz Hermano refere-se não apenas a nossa devoção ao consumo mas também à questão da autenticidade da obra de arte – um fantasma que ronda os acervos de grandes museus e tira o sono dos peritos – e da ética. Ao enovelar a cabeça de Aparecido em contas falsas, Hermano nos remete a outra cabeça provocativa que vem circulando no mundo da arte, a caveira cravejada de brilhantes de Damien Hirst. Um diamante é para sempre ainda que às custas de muitas vidas nas minas africanas. A pirataria – cujo símbolo é a caveira – vive em nossos computadores, sai dos nossos fones de ouvido.

O Aparecido de Luiz Hermano costura todas essas referências religiosas, éticas e econômicas usando a mesma matriz construtora que o artista empregou para cutucar o sistema da arte com a vara curta do artesanato: a teia de arame retorcido que marca a produção de Hermano já entrelaçou brinquedos, capacitores eletrônicos e agora segura miçangas brilhantes. Olhando bem para todos esses elementos que já foram célula das tramas de Luiz Hermano, percebe-se o denominador comum da fantasia de criar mundo novo num mundo que é finito. Mudam as peças, mantém-se a mesma estrutura de desejo de conhecimento do mundo e criação de novos mundos. Brincar é elaborar uma fantasia nutritiva e reconfortante. Fazer bijuteria de miçangas é brincadeira de criança. Microeletrônica ocupa o dia-a-dia dos adultos conectados a celulares e computadores, e está no cerne dos brinquedos do século 21, que já preparam a criança, desde cedo, para a teia do consumo e da pirataria tecnológica.

Vários trabalhos de outras séries de Luiz Hermano estão relacionados à arquitetura de templos que o artista visitou em suas inúmeras viagens pelo mundo. Na Tailândia, na India, na China, Hermano encontrou estátuas de budas em construções milenares, erguidas segundo a geometria sagrada, se encantou com mandalas que esquematizam o universo. Mas também passeou pelas ruas de comércio de quinquilharias de plástico, de brinquedos piratas, de computadores de procedência duvidosa. O sagrado enovelado com o profano. Construiu então grandes mandalas e cavalos celestiais feitos com capacitores de energia, repetiu o contorno de estátuas sagradas aramando super-homens e outros heróis de brinquedo vendidos por quilo a 1,99 e agora nos traz esses broches gigantes de pedraria plástica.

Um desses adornos gigantes é Banda Larga, uma trama simples feita com entremeio de colar, prateado, e que no título revela seu parentesco com as obras feitas em 2007, que se referem mais explicitamente a tecnologia. As contas de colar, convenhamos, sempre estiveram conectadas à idéia de comunicação transcendental. Quando segura um terço nas mãos e conta dúzias de Ave Marias e Padre Nossos, o católico está seguindo um protocolo de comunicação com santos, em banda larga, transmissão de dados que começa com o login do sinal da cruz.

Contando estrelas inclui dois penduricalhos significativos para a leitura da obra de Luiz Hermano: o globo terrestre que o artista percorre incansavelmente e aquele que é talvez o único deus que faz milagres, o acaso, aqui incorporado em um embaralhador de números, desses usados em bingos e programas de auditório. Em Polinésia, a cor do mar que Luiz Hermano visitou recentemente fica no fundo de uma deliciosa profusão de pérolas, organizadas em uma forma arredonda e convidativa como uma almofada de cetim. Roda sintetiza os temas da tecnologia, do brinquedo, da perfeição divina, da finitude sem escapatória, tecendo tudo em círculos concêntricos brilhantes. Falso brilhante, que dá nome à exposição, é um relevo de parede que se assemelha a um brinco gigantesco e sem par. Uma pena, porque um brinco sem par é um objeto inútil e de uma solidão lamentável, como a condição humana, suportável apenas quando nos envolvemos num véu de falsidade benevolente, que nos distraia, que nos encante, que seja pedra de construção do nosso paraíso na terra.

Aparecido, envolvido em seu manto de metal de mentira, avisa que viver exige uma armadura de ilusão, véu de maia, tecido com tecnologia ou miçangas. Acreditar num colar ou numa santa pescada no rio são véus que se confundem. Por isso não saio sem brinco e checo meu email compulsivamente: alguma mensagem especial, de um deus ou de um astronauta, pode um dia trazer-me a anunciação.



Agnaldo Farias - 2005

Existem artistas cujo projeto poético consiste na construção de um território de regras fixas, um mundo estável e reconhecível já à distância, se possível portátil, o que facilitaria a nós levá-lo para casa para tê-lo à mão e visitá-lo sempre que necessário, sempre que o nosso espírito solicitasse uma porção de solidez. Pois o desafio de Luis Hermano é a fundação de um mundo cujas vértebras são constantemente embaralhadas, baseado no estabelecimento contínuo e mutável de relações entre coisas diferentes umas das outras, um produto de quem, como ele, enxerga o mundo como um caleidoscópio de ritmos e imagens, e que nos ensina que toda variação desenvolve nossa capacidade de olhar e brincar.

Luis Hermano é um artista que brinca, mas no sentido translato do termo. Brinca com a gravidade de um adulto que, diversamente de uma criança que submerge enlevada na lógica do jogo, é capaz de pensar suas regras, seus objetivos, para então alterá-lo. Hermano joga com brinquedos que ele mesmo inventa ou através de brinquedos dos quais se apropria com reinventar. E é assim desde há muito, a começar pelas pinturas, gravuras e desenhos realizados nos anos oitenta, protagonizados por cores fortes e linhas bem marcadas, feitas à mão livre, distantes, portanto, das realizadas por réguas e compassos. Por intermédio dessas linhas ele elaborava máquinas insólitas e engraçadas, engenhocas improváveis semelhantes a barcos bojudos, naves espaciais e submarinos, dotadas de janelas redondas e hélices que só faziam acentuar suas aparências destrambelhadas, sua funcionalidade precária, colocada a serviço antes do sonho do que da necessidade.

Posteriormente o artista ampliou o campo de sua atitude lúdica passando a investigar com mais profundidade as noções de brinquedo e de jogo. Hoje, como dá a ver esses seus novos trabalhos, sua pesquisa desdobra-se em resultados distintos: há, por exemplo, o exame das representações miniaturizadas de personagens da vida cotidiana - bonecos, carrinhos, cavalinhos de plásticos, bichos pré-históricos, ciclistas etc -, o infinito repertório de pequenos dispositivos por meio dos quais, desde a infância, nos familiarizamos com as personagens, os protagonistas e as atividades pertencentes ao mundo dos adultos. Colecionador compulsivo, Luis Hermano recolhe os brinquedos para decepá-los e em seguida rejuntá-los em novas configurações, cosendo-os uns aos outros, ligando-os através de mangueiras de borracha, mergulhando-os em linhas emaranhadas de alumínio, perfazendo circuitos complexos cuja finalidade e ativação ignoramos. Se como for de anteriormente dóceis os brinquedos transformam-se em organismos estranhos.

Há também os trabalhos pertencentes a uma ordem de brinquedos mais abstrata, entre o objeto e o jogo, que tanto podem exigir destreza manual quanto a obediência a regras, brinquedos e jogos como piões, os alvos para arremesso de dardos ou flechas, as plaquetas de madeira que trazem números e letras estampadas em suas faces; brinquedos e jogos que demandam agilidade e atenção por parte dos usuários. Brinquedos e jogos que despertam na criança o sentido do raciocínio associado à precisão, a sutil relação entre a meta a ser atingida e os procedimentos para tanto, a concatenação capaz de restaurar a unidade do todo, a maneira do que se persegue quando se está diante do amontoado de peças que compõem um quebra-cabeças. Quanto ao pião, por exemplo, cada um de nós se lembra perfeitamente bem da expectativa pelo arremesso perfeito, o movimento rápido de expansão do braço seguido do soco e da retração súbita, capaz de fazer com que o cone compacto de madeira rodopiasse pelo chão, propiciando-nos o encantamento por um corpo bailarino de rotação tão veloz que momentaneamente se confundia com a imobilidade.

Qualquer um de nós consegue recuperar a tentativa de conjugar os cálculos relativos ao peso do dardo, a pegada em seu ponto de equilíbrio, a força do braço ao arremessá-lo de modo que o ponto final da sua trajetória elíptica fosse o centro do alvo. Todos, enfim, preenchemos as horas de uma tarde chuvosa testando as palavras possíveis de serem enunciadas a partir de um reduzido número de letras. Cada letra imantava uma outra, frágeis moléculas silábicas iam se formando e se desfazendo em favor do encadeamento com outras com que também construíssem significações.

A maioria dos trabalhos de Luis Hermano atualiza o sentimento de surpresa contido em cada jogo. Para ele a arte é uma prática ociosa que se escora e se satisfaz na pura alegria de construir, a começar pela construção do próprio solo onde ela germina e brota, prosseguindo pelo fabrico de nexos astuciosos entre partes para vencer alturas, pela criação de superfícies movimentadas, planos que se vergam com delicadeza até formarem volumes vazados por ar e luz. É justamente isso que encontramos na terceira ordem de brinquedos realizados por Hermano: aqueles que decorrem de uma compreensão da engenharia como uma atividade lúdica, que se faz descongelando a geometria, tratando-a como matriz de estruturas flexíveis, a beira do desconjuntamento. É assim com as várias versões de “torres” feitas a partir de escalas métricas - trenas - de madeira. Sempre delgadas e elegantes, as torres, tirando partido da maleabilidade desse instrumento de medição, segmento de reta passível de ser fragmentada em todos os ângulos possíveis, tanto se erguem em impulsos elásticos e decididos quanto progridem através de camadas empilhadas suavemente periclitantes. É assim em “Intrínseco”, quadrados plásticos brancos encaixados uns nos outros que, suspensos nas paredes, abandonados à própria gravidade, entrechocam-se e desorganizam-se como que zombando das pretensões dos cálculos e das certezas.





Maria Alice Milliet - 2001

Luiz Hermano teima manso. Sua obra decorre de um fazer nunca agressivo, porém, resistente a seu modo. Nem mesmo a grandiosidade que alcança em algumas de suas esculturas provém do enfrentamento decisivo com a matéria. Buscasse um enaltecimento da ação impositiva do artista e seu meio de expressão seria outro. Mas não. Faz da paciente reiteração do gesto seu jeito de construir.

Suas peças são precárias, de uma precariedade que deriva dos materiais e do processo de construção que utiliza. Se trabalha a madeira, é laminada em tiras. Se usa o metal, são fios, arames, cabos, fitas, aparas de latão, de cobre, de alumínio ou de aço. Vale-se da maleabiliade e da segmentação desses materiais para armar a trama, estrutura essencial à maioria de seus trabalhos. Essa malha, ao mesmo tempo suporte e forma, se avoluma no espaço e ao expandir-se perde em rigor o que ganha em organicidade. Nenhuma violência, nenhuma dureza. Alguma persistência e muita fantasia são qualidades dessa prática.

Para melhor compreender tal procedimento, pode-se tomar como contraponto a criação de Amilcar de Castro. Enquanto o mestre de Belo Horizonte reduz a gênese da sua escultura em ferro a duas operações radicais, a saber, corte e dobra, Luiz Hermano tem no manuseio continuado o princípio de sua produção escultórica. No primeiro caso, a obra surge de atos isolados e momentos irrepetíveis; no segundo, ela ganha corpo à medida que a atividade progride. Potência do gesto versus atividade persistente; rigidez versus flexibilidade; espaço cartesiano versus espaço topológico: seriam essas as oposições não houvesse o artista mais jovem incorporado o que já tradição construtiva, logo moderna, e entrelaçado esse conhecimento a outros, menos eruditos. A formalização própria do construtivismo aparece desconstruída nas peças que têm no quadrado sua base de ordenação. Há também algo da serialidade construtiva no uso de formas sequenciadas que, entretanto, fogem à uniformidade da repetição mecânica porque geradas pelo trabalho manual. A subversão da racionalidade construtiva pela organicidade da fatura manual constitui nota dominantes no corpus de obras tridimensionais cuja formação tem ocupados o artista há já alguns anos.

Do hibridismo entre o artesanal e o industrial surge uma obra bem sintonizada com a condição brasileira atual. Seu mérito está em não escamotear a transitoriedade que caracteriza nossa sociedade, feita quase sempre da sobreposição de cultura e técnicas e raramente de sua superação. Sem ignorar os esforços de modernização (tarefa da vanguarda construtiva) e os avanços em direção ao pós-moderno (especialmente os empreendidos por Lygia Clark e Hélio Oiticica a partir do neoconcretismo), Hermano não descarta o modo de produção pré-industrial, ao contrário, o adapta. Sem conservadorismo, apropria-se do industrializado – desde materiais processados industrialmente (laminados, trefilados, etc.) até produtos de consumo de massa (ralos, parafusos, arruelas, descartes industriais e pequenos objetos de plástico) - para criar formas vazadas enredadas no espaço.

O que apresenta nesta exposição tem uma forte conexão com o imagináro do artista quando jovem, um universo de memórias em que o visual suplanta o narrativo sem entretanto excluí-lo. Os objetos mais antigos desse conjunto são feitos em barro pintado. Menino criado no interior do Ceará, Luiz Hermano certamente viu em feiras os bonecos e animais de barro típicos do artesanato regional. Com a mesma técnica singela fez navios, carros de corrida, naves espaciais que pintou com cores intensas. Com material escolar de baixa qualidade tais como esquadros e gabaritos ergue torres e constrói objetos em relevo. Centenas de bonequinhos de plástico, mãos e pés interligados, deixam de ser os super-heróis de ficção científica para se converterem em células de uma cadeia que parece poder expandir-se ao infinito.

Um painel formado por peças de dominó sugere um construtivismo barato; trouxinhas de arame contendo pequenos gadgets assemelham-se a brindes, mostruários ou amuletos. Na parede uma fita metálica desenha o perfil de uma bailarina enquanto no chão estende-se um tapete metálico que mais parece uma gosma que solidificou. Nessa fantasia pop/popular reina uma figura sentada, misto de teddy-bear gigante desse que se vende nas calçadas de São Paulo e de grande figura ritual. Há uma resistência em tudo isso, a de conservar o lúdico sem perder a lucidez.


fonte : Nara Roesler 10.04.2010


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