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Artista Jose Zanine Caldas
Biografia José Zanine Caldas, arquiteto autodidata e maquetista.Zanine morreu de enfarte , em 2001 .Aos 82 anos, deixou três filhos, seis esposas e trajetória que entra para a história da arquitetura brasileira. Filho de um médico, o baiano de Belmonte chegou ao Rio de Janeiro nos anos 50 do século 20, quando o modernismo revelava Oscar Niemeyer e a bossa nova, Tom Jobim.
O talento para construir maquetes e os famosos móveis Z, nos quais exercitava um design particular, aproximaram o então aprendiz do mundo da arquitetura moderna. Da oficina de Zanine saíam os protótipos de projetos assinados por nomes como Lucio Costa, Oswaldo Arthur Bratke e o próprio Niemeyer. Não havia respaldo melhor para dar os primeiros passos e conceber as próprias criações.
Ao mesmo tempo em que transformava em maquetes os traços dos modernistas brasileiros, se empenhava em desenhar móveis e executar projetos paisagísticos. Mas somente na década de 60 passaria para o lado da arquitetura, fazendo principalmente casas.
Zanine não tinha diploma universitário, nunca passou pelo banco da academia e por isso ficou de fora da concepção de espaços e prédios públicos. Chegou a ser impedido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) de levar adiante a construção de alguns projetos. Mas o domínio da técnica e dos materiais era maior que as picuinhas da classe. Para provar o talento do colega, Lucio Costa declarou certa vez que assinaria os projetos de Zanine se o IAB insistisse em proibir sua execução.

Talento tropical
''O convívio dele com grandes arquitetos e o talento próprio o levou a ser conhecido como arquiteto genuinamente brasileiro'', conta o arquiteto Sérgio Parada, diretor cultural do IAB nacional. O ''genuinamente'', Zanine colheu no chão tupiniquim. Sua marca era a madeira. Trabalhada de maneira rústica, ela aparece na estrutura de praticamente todas as casas e móveis projetados por ele. Um tronco, enquanto pudesse conservar seu estado original, não ganhava talhos. ''Ele tinha uma pesquisa em torno do uso da madeira como material construtivo'', explica Parada.
''E uma preocupação ecológica no tempo em que ninguém falava nisso. Defendia que a madeira era instrumento do homem e sempre se preocupava com a origem da madeira que usava. Gostava de ser chamado de 'o mago da madeira''', acrescenta Betty Bettiol, dona de uma das casas projetadas pelo arquiteto em Brasília (são pelo menos dez). Deixar fluir a luz natural também era uma das preocupações. A ligação com a natureza e a terra era forte na maneira como concebia os espaços. ''Por mim não seria arquiteto não, seria agricultor, plantador de coisas'', dizia Zanine.
Brasília entrou para a vida do ''mago'' nos anos 60, a convite de Darcy Ribeiro, que queria o amigo no corpo docente da Universidade de Brasília (UnB). Mesmo sem diploma, Zanine se tornou professor de maquete e, para obter o título, começou a investir no mestrado. Como criador empenhado em integrar seus projetos à topografia natural dos terrenos - nunca aterrou ou alterou solos para receber suas casas -, apostou no cerrado do Planalto Central como palco de projetos paisagísticos. ''Mas foi atropelado pelo golpe de 1964 e perdeu o cargo. Só foi reintegrado em 89, mas não chegou a dar aula'', lamenta Luis Humberto Pereira, fotógrafo e arquiteto, companheiro de Zanine na UnB.

Desejo de ficar
A perseguição da ditadura militar infernizou a vida do ex-comunista. ''Ele me disse que não era mais comunista desde 1947. Aí perguntei se tinha dado baixa no Dops (Departamento da Ordem Política e Social)'', brinca a empresária Vera Brant, cuja casa, no Lago Sul, foi reformada pelo arquiteto e virou seu reduto em Brasília. Vera conseguiu convencê-lo a pedir asilo na Embaixada da Iugoslávia. ''Mas quando todos foram embora, ele quis ficar'', lembra.
Perseguido, Zanine só reapareceu no final da década de 60, no Rio. Os morros cariocas eram o cenário perfeito para sua arquitetura tropical. Foi na prancheta do arquiteto que a Joatinga, um morro até então inabitável mas com vista privilegiada, virou reduto de artista.
Por lá, projetou as famosas casas de palafita que tiveram moradores como Tom Jobim e Odete Lara. ''Minha intenção era pegar um pedaço de beira de mar, um pedaço de terreno e fazer uma casa para mim. Como era na montanha quase ninguém comprou porque os arquitetos diziam que ali não dava para construir'', contava o arquiteto.
Era essa sua escola. Em texto escrito para a 4ª Bienal de Internacional de Arquitetura de São Paulo, em 1999, o crítico João Pedrosa explica: ''(Zanine) Realizou uma arquitetura ao mesmo tempo colonial e moderna, cuja escolha de material como portas, janelas e gradis de época tinha o intuito de prover um senso histórico às suas construções. O uso de madeirame e de grandes panejamentos de vidros conferiam, por outro lado, o caráter moderno (...)''.

Fonte : Correioweb
Fonte Catálogo das Artes

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