Fernando Lindote

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Artista Fernando Lindote
Biografia Fernando Lindote (Sant' Ana do Livramento, RS, 1960). Vive e trabalha em Florianópolis.

Ao longo de vinte anos Fernando Lindote já acusou passagem pela pintura, escultura,performance, fotografia,vídeo, instalação,variedade que se estende ainda por experiências em escala pública, trabalhos de inserção urbana, como também por um elenco considerável de trabalhos híbridos, obras que se valem da fusão de dois ou mais suportes. A pesquisa tão persistente de canais de expressão é por si só um aspecto que garante ao artista uma posição muito particular entre seus colegas de geração e mesmo entre os mais jovens. Embora desde os anos oitenta tenha ficado mais difícil encontrar um artista que se defina pela militância em um suporte específico, fenômeno que de resto se justifica,como queria Marcel Duchamp, na afirmação da arte como uma atividade que se define mais pelo aspecto intelectual do que por sua esfera artesanal, o fato é que Fernando Lindote vai além do que se espera. Acostumado com sua prolífica diversidade, seu público,ainda- injustamente-reduzido, fica à espera dos previsivelmente novos rumos que ela imporá às suas pesquisas, o que é o mesmo que dizer que esse público está a espera de algo que sequer imagina o que seja. Desde a célebre afirmação de Maiakovsky, de que não existe conteúdo revolucionário sem forma revolucionária, se espraiou da literatura às artes visuais, o que se deu em proporções generalizadas a partir dos anos cinquenta, ficou estabelecida a necessidade de prospecção de novos suportes expressivos sem o quê se estaria forçosamente derrapando em noções já cristalizadas.. O curioso é que para alguns artistas a pesquisa do suporte passou a ser, a um só tempo, o meio e o fim da questão. Isto é, não se tratava apenas de descobrir as novas questões abertas pelos novos meios, mas de problematizar a fundo a função desses meios. Experimentando a canônica pintura até a performance documentada por vídeos, Fernando Lindote cai exatamente no segundo caso.Sua vasta e polifórmica produção parece indagar obsessiva e sistematicamente sobre a natureza de cada suporte expressivo, sua condição corporal. Não é por outro motivo,assim me parece, que seu trabalho coloca o próprio corpo como um problema recorrente a ser investigado sobre os mais variados aspectos. Fonte e instrumento primeiro de toda expressão, o corpo deve ser analisado, por exemplo,à luz dos gestos que ele produz, isto é, sua capacidade de modificação do mundo. O desejo de formalização que é intrínseco ao homem, seu impulso em negar a natureza, termina por alterá-la em níveis variados. (Agnaldo Farias)

fonte : Nara Roesler março/2007


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Exposições Individuais

2008
Desenhos Antelo, Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil
3D3M, Centro Universitário MariAntonia, São Paulo, Brasil

2007
Máquina Seca, Galeria CESUSC, Galeria Municipal, Florianópolis, Brasil

2004
Mangue Real, Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil
Desenho/Escultura, Museu de Arte Contemporânea, Curitiba, Brasil

2002
Muito Perto, Museu Victor Meirelles, Florianópolis, Brasil
Experiências com o Corpo, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil

2000
Máquina Pedagógica, Fundação Cultural de Criciúma, Criciúma, Brasil
XII Mostra da Gravura Museu da Gravura, Curitiba, Brasil

1999
Teatro Privado, MAM, Rio de Janeiro, Brasil
Olho de Mosca, MASC, Florianópolis, Brasil

1996
Migrações da Cor, Projeto Macunaíma - FUNARTE, Rio de Janeiro, Brasil
Lambidas, Torreão, Porto Alegre, Brasil

1994
Agregados, Museu de Arte de Joinville, Brasil

1993
Anjos na Parede, Galeria Art in Panorama, Florianópoils, Brasil

1991
Brasileirinho, Espaço Oficina do MASC, Florianópolis, Brasil

1986
Armadilha, ACAP, Florianópolis, Brasil

1985
Nova Geração,Museu de Arte de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil


Exposições Coletivas

2007
Recortar e Colar, SESC Pompéia, São Paulo, Brasil
Futuro do Presente, Itaú Cultural, São Paulo, Brasil

2006
Dez + um. Arte Recente Brasileira, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil
No Olho do Outro, Centro Cultural de Espanã, Montevideo, Uruguai

2005
O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira, Itaú Cultural, São Paulo, Brasil
5 º Bienal do MERCOSUL, Porto alegre, Brasil
Panorama de Arte Brasileira, MAM, São Paulo, Brasil
Redemergentes, Funarte, Rio de Janeiro, Brasil
9 Artistas, Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil

2004
Paralela 2004, São Paulo, Brasil
Campo Aberto, SCAR, Jaraguá do Sul, Brasil

2003
Nova Geração 2, Museu de Arte de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil
Perdidos no Espaço, UFRGS, Porto Alegre, Brasil
Matéria Prima, Novo Museu, Curitiba, Brasil

2002
Faxinal das Artes, Museu de Arte Contemporânea, Curitiba, Brasil

2000
Macunaíma: Reflexão - FUNARTE, Rio de Janeiro, Brasil

1998
Panorama de Arte Brasileira, MAC, Niterói, Brasil
Panorama de Arte Brasileira, MAM, Salvador, Brasil
Visto de Cima do Chão até Parece um Céu, MAM, Rio de Janeiro, Brasil

1997
Panorama de Arte Brasileira, MAM, São Paulo, Brasil
Salão MAM, Salvador, Brasil
25º Salão Nacional de Belo Horizonte, Brasil

1996
Coletiva no MARGS, Porto Alegre, Brasil
Projeto Macunaíma, FUNARTE, Rio de Janeiro, Brasil

1995
Objeto gravado, Museu de Gravura, Solar do Barão, Curitiba, Brasil

1993
Encontros e Tendências, Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo, Brasil

1992
Mediatheque Jean Cocteau, Maine de Massy, França

1991
10º Salão de Arte Pará, Belém, Brasil
9ª Mostra de Desenho Brasileiro, MAC, Curitiba, Brasil


Prêmios, Bolsas e Residências

2002
Faxinal das Artes (residência), Faxinal do Céu, Brasil

2000
Bolsista da Fundação Vitae, São Paulo, Brasil

1990
Edital de Auxilio as Artes Plásticas, Fundação Catarinense de Cultura, Florianópolis, Brasil

1987
Prêmio Aquisição (instalação), 10º Salão Nacional de Artes Plásticas/FUNARTE Rio de Janeiro, Brasil

1985
Prêmio Aquisição, 2º Prêmio Pirelli Pintura Jovem, Brasil



TEXTOS CRÍTICOS

Desenhos Antelo, jogos de amor e apropriações
Ivo Mesquita - 2008

A prática da apropriação nas artes visuais - a criação de novos trabalhos a partir do "empréstimo" de uma imagem pré-existente de um outro contexto como a publicidade, a história da arte, a TV e o cinema, combinando-a com outras imagens, ou criando novas - marca a produção artística a partir dos anos 1980. De formas diversas, ela converteu-se numa estratégia constante, para os artistas, de um lado, problematizarem, de forma provocativa, noções caras à modernidade como a originalidade, a autoria, a organização das categorias artísticas, enquanto de outro, criticar ou reverenciar, numa atitude ainda romântica, o grande passado histórico da própria arte. O procedimento não era novo. Desde a instauração do exercício da cópia pelo ensino acadêmico, muitos artistas pagaram um tributo a seus predecessores como Manet emprestando uma composição de Rafael, Picasso refazendo Velazquez, Duchamp e o readymade, ou Rauschenberg apagando um desenho de de Kooning. O que parece ter mudado é que desde os trabalhos de Andy Warhol com a lata de sopa Campbell e as caixas de detergente Brillo, a apropriação tornou-se uma questão central para as práticas artísticas hoje, convertendo-se em um veículo potente para uma diversidade de pontos de vista sobre a sociedade e a cultura contemporâneas, e, é claro, sobre o próprio sistema da arte e os modos de produção artística.

A série Desenhos Antelo, de Fernando Lindote, abre uma nova perspectiva para o trabalho do artista. Sua produção vem se desenvolvendo por meio de sucessivos processos de experimentação, que vão desde explorar o próprio corpo como gerador da experiência do trabalho, através dos gestos gráfico e escultórico sobre a matéria, do mastigar e do babar como extroversões do corpo, até propor enfrentamentos diretos da condição de exposição e do espaço arquitetônico. Na verdade sua obra se afirma cada vez mais como um conjunto de híbridos, constituído por desenhos mastigados, pinturas e grafismos moldados em argila, esculturas artesanais que se reproduzem e se apropriam do espaço como numa instalação, fotos que remetem a pinturas, objetos banais, acumulações. Agora, com esse grupo de desenhos, Lindote explicita, dentro do seu campo de referências, a idéia de apropriação, tomando-a como estratégia e método, utilizando-a a partir de diversos repertórios para a realização do trabalho.

Primeiro do seu próprio trabalho: o desenho como meio, mas não totalmente gráfico ou anotado como um projeto, mas preciso e acabado; a pintura como obra final, mas não inteiramente materializada, com muito ainda de um projeto, algo sempre inacabado. Daí que os Desenhos Antelo emprestam, de imediato, o método das pinturas de argila e das colagens/desenhos com fitas isolantes de séries anteriores. São marcações densas de branco e preto, gestos acentuados, firmes, em composições balanceadas e orgânicas. Há ali uma evocação de certa pintura abstrata do modernismo tardio, mas reduzida em sua escala a um projeto mais intimista, como num diário sentimental.

Depois, apropria-se de um imaginário herdado dos surrealistas e que se refere às máquinas amorosas (Man Ray) ou celibatárias (Duchamp), aos movimentos dos fluidos do corpo, do desejo e da busca do amor (Lautreamont, Bataille e Lacan). Os desenhos parecem plantas descrevendo o campo onde se dá um processo de circulação de energia, de condução e movimentação de impulsos, produzindo algo que ao final goteja ou evapora o desejo, a sublimação. Lembram também, por vezes, certas paisagens automatistas, delimitando uma espécie de planta baixa de um lugar ou urbanidade imaginada, e evocando formalizações semelhantes percebidas em trabalhos anteriores do artista. Mas, talvez, o que eles representem mesmo sejam as máquinas desejantes de Deleuze e Guattari, se vistas como a ilustração de um dispositivo psíquico sobre um estado do desejo que antecede a qualquer questão de estrutura, de posição do sujeito ou de referências coordenadas. Parecem falar de um desejo puro e posto em movimento por uma mecânica natural e humana.

Finalmente, o trabalho apropria-se do outro, um alter-ego do artista, aquele que assina a realização dos desenhos e confere legitimidade a eles. Uma espécie de figura paterna que, no entanto, já aparece assassinada pela operação que o cria. O autor não é o artista, mas sim alguém que Lindote escolhe por razões afetivas e intelectuais, invertendo as relações no território da produção: Raul Antelo, pensador e ensaísta, mestre da palavra e da interpretação, fala pelo desenho, pela linguagem visual, enquanto o artista fala pela articulação do processo, pelo alto grau de racionalidade e conceituação que empreende o projeto, como uma espécie de escritor, que, desde o início domina os passos e personagens da novela, orquestrando uma narração. O que os Desenhos Antelo descrevem, são os processos de uma relação sentimental, onde artista e escritor se confundem, quando um assume a fala do outro, numa espécie de simbiose amorosa perfeita, como desejavam as máquinas surrealistas.

fonte : Nara Roesler 09.04.2010
Fonte http://www.nararoesler.com.br

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