| Biografia |
Artista plástico contemporâneo, Ronaldo Torquato é declaradamente um pintor marginal. Vive no dia-a-dia uma outra forma paralela de arte, a de subsistir unicamente de pintura no Brasil. Um amante devoto do cinema, suas paixões permeiam também a história e a literatura. Seus mais de 30 anos de carreira são repletos de boas vivências, experiências de fulgor ébrio, sordidez, fatos inusitados e indivíduos únicos; tudo impossível de resumir. A biografia etérea deste indivíduo está de fato estampada em suas telas, mas a factual segue-se muito resumidamente nas linhas decorrentes.
Nasceu no Rio de Janeiro em julho de 1957, viveu sua infância nos bairros de São Cristóvão e Santa Teresa. Em 1968 ingressou no Colégio Baptista da Tijuca, onde como aluno interno, solidificou sua educação e criou interesse pela cultura em geral. Em 1972 saiu do referido colégio e mudou-se para Copacabana, momento em que iniciou de fato sua vivência com o mundo das artes, através da leitura dos fascículos de "Gênios da Pintura". Ainda aos quinze anos de idade, produziu desenhos geométricos, que levaram às suas primeiras pinturas em guache; no ano seguinte começou e pintar em óleo. O próprio artista denota seu início relativamente tardio na pintura.
Em 1974 Torquato vendeu seu primeiro quadro, "O Florista", que tempos depois foi destruído com uma tesoura pela compradora. Ao contrário do que se pensaria no senso comum, o pintor na época ficou exultante com a atitude da proprietária, pois fascinou-se por uma obra sua causar tamanho impacto sobre uma pessoa.
Mudou-se para Visconde de Mauá em 1975, onde realizou diversas telas a óleo, momento em que começou a viver exclusivamente da pintura. No ano seguinte mudou-se novamente, só que desta vez para o estado de Minas Gerais, para a cidade de São Lourenço. Influenciado pela topografia da região, pintou relevante quantidade de quadros de teor expressionista, com a temática paisagística.
Já de volta ao Rio de Janeiro, com pouco mais de vinte e um anos ingressou no Liceu de Artes e Ofícios, lá recebeu aulas de anatomia e perspectiva. Transferiu-se um ano depois para Búzios e lá realizou em uma pousada sua primeira mostra; mesmo assim foi levado a procurar atividades alternativas, como o emprego de maitre em um restaurante chinês.
Retornou definitivamente ao Rio de Janeiro em 1982, foi morar em Ipanema na Rua Saint Roman. Este apartamento foi bem-humoradamente apelidado de "templo" por seu pai, por não possuir porta. No final do ano Ronaldo teve uma experiência terrível, recebeu um tiro na cabeça endereçado à outra pessoa; como que por milagre não teve nenhuma seqüela. Desta época até meados de 1987, Torquato classifica como seu "período decadente", o alcoolismo e as drogas o impediam de organizar sua vida para poder pintar e ter moradia estável, dormiu por períodos em "bira" (hospedaria com habitáculos pouco maiores que uma cama) e algumas vezes na própria rua.
Sem poder então dispor de infraestrutura para pintar, Torquato comprou cadernos de desenho e começou, em mesas de bar, a fazer estudos de cor com tijolinhos de cera. Tão desregrada havia se tornado sua vida, que o artista acabava por freqüentemente ficar sem cadernos para desenhar, o mesmo então lançou mão do que estava mais próximo: guardanapos. Estes desenhos foram realizados em lápis de cera, hidrocor e nanquim.
Em 1987 o pintor havia se engajado em promover sua arte suigeneris em guardanapos, buscou enfaticamente fazer uma exposição; experiência que a priori foi frustrada, mas que resultou em boas matérias em jornais e em sua primeira aparição na TV. Este ano foi especialmente marcante para Ronaldo, não apenas em seu veio artístico, mas pode-se afirmar que para a própria continuidade de sua existência. O alcoolismo até aquele instante o abalara física e emocionalmente ao limite, era já uma literal questão de sobrevivência e não uma mera opção. Decidiu-se por buscar ajuda para libertar-se de tal vício, tornado-se abstêmio até o presente momento.
Ronaldo Torquato fez no ano de 1988 suas primeiras mostras no exterior, apresentou seus guardanapos em Minneapolis nos EUA e em Brissago, na Suíça. Nos anos seguintes, repetiram-se eventos nestes mesmos países e ainda também na Bélgica, Holanda, Itália e Portugal. No primeiro semestre de 1990 passou alguns meses em Salvador, produziu bastante e vendeu pouco, mas teve ampla cobertura tanto em jornais como em programas de TV, destacando-se também uma breve exposição na Fundação Casa de Jorge Amado. Só no ano seguinte entraria de fato no circuito comercial de arte, quando expôs suas pinturas em toalha de papel na Galeria Rezende.
Retornou às telas em 1993, quando parou de pintar em bares e voltou a ter ateliê próprio. Fase esta vigente até hoje, exemplificada pelas pinturas expostas na galeria virtual deste site, marcadamente em acrílico sobre tela, com técnicas mistas de colagem e de tela sobre tela. Um exemplo característico desta fase do artista é o de seus peixes biomecânicos, surgidos em 1999. Em fevereiro de 2002 o Museu Nacional de Belas Artes, relicário da pintura acadêmica, abriu suas portas para as obras recentes de Ronaldo Torquato, que declarou naquele momento ter nessa exposição individual uma grande realização pessoal.
Na virada de 2006 para 2007 Ronaldo iniciou uma dieta por conta própria e uma rotina persistente de exercícios físicos. Das barras e do frescobol na praia passou a correr sistematicamente. As corridas obtiveram tal êxito que no dia 31 de dezembro de 2008, aos 51 anos de idade, completou a prova da Corrida de São Silvestre em São Paulo; 37 quilos mais magro do que dois anos antes.
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