Artista Aluisio Carvao - Aluísio Carvão - Aloísio Carvão - Aloisio Carvao
Biografia Aluísio Carvão nasceu em 1920, na cidade de Belém. Realizou as primeiras pinturas em 1946, após trabalhar com ilustração e cenografia. Em 1949, no Rio de Janeiro, fez curso de especialização para professores de desenho e artes aplicadas no MEC Em 1952, estudou com Ivan Serpa no MAM,RJ, no curso livre de pintura. Entre 1954 e 1956, participou do Grupo Frente e, entre 1960 e 1961, integrou o Grupo Neoconcreto. Nos anos seguintes viajou para a Europa com o prêmio de viagem recebido no Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro, sendo artista visitante da Escola Superior da Forma, em Ulm, na Alemanha.
De volta ao Brasil em 1963, tornou-se professor do MAM,RJ, ministrando o Curso de Cultura Visual Contemporânea e Ateliê Livre. Trabalhou em artes gráficas e desenho industrial. No fim dos anos 60 passou a empregar materiais não tradicionais, como tampinhas metálicas de garrafa, pregos e barbante agrupados em suportes de madeira. Em 1996, ocorreu retrospectiva de sua obra no Museu Metropolitano de Arte, em Curitiba, no MANIBA e no MAM/RJ. Faleceu em 15 de novembro de 2001.

A coleção Sattamini, do Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC), está muito bem servida de trabalhos de Aluísio Carvão. Diversas fases de sua obra estão ali representadas, inclusive sua etapa inicial, pré-concretista, em que a pintura de Van Gogh, vista quando ainda menino de colégio em precárias reproduções, mostra-se presente. O desenho expressivo e a predominância dos amarelos remetem ao mestre holandês.
Todavia, será no início dos anos 50, em contato estreito com Ivan Serpa e o Grupo Frente, que a obra de Carvão tomará direção própria. Àquela altura, nossas potencial idades como país se atualizavam, ganhando uma forma singular. Apesar de sul americanos, nossa maior sintonia era, e ainda é, com o espírito mediterrâneo. Não é à toa que artistas como Morandi e Oteiza tiveram grande ressonância em nosso meio de arte. O neoconcretismo não foge à regra, com seu interesse na presença lúdica e criativa do corpo, sua energia pautada na luminosidade, na rebeldia e na miscigenação. Esta afinidade cria seus próprios padrões e valores. Na base de tudo, a capacidade de se misturar.
Há, nesta caracterização meio geossociológica do Brasil a partir do neoconcretismo, uma noção forte e diferenciada de indivíduo. Para nossa aflição cotidiana, não nos adequamos às regras de organização do espaço público, a uma certa idéia de Estado, mas, ao mesmo tempo, somos abertos e fascinados com o outro, com todo tipo de alteridade. Na combinação desta bagagem mediterrânea há toda uma memória singular de país colonizado, escravocrata, cordial e perverso, percebemos um estofo cultural na contramão da ética protestante fundadora de uma certa modernidade nórdica. Esta diferença é uma diferença, sem que se inviabilize com isto a possibilidade de troca e aprendizado.
As obras de Aluísio Carvão e lone Saldanha sempre foram rebeldes aos preceitos ortodoxos do concretismo. Buscavam caminho próprio, onde a expressão individual pudesse vir combinada à geometria abstrata. Apesar de usar tinta automotiva, normalmente trabalhada com pistola, Carvão jamais deixou de lado os pincéis. A lógica formal concretista buscava exatamente superar qualquer vínculo artesanal, tudo que expressasse uma emoção pessoal. Carvão conta que foi acusado por concretistas mais radicais de ser um artista surrealista, pois usava a cor violeta. Exageros de época à parte, havia um compromisso inexorável com uma certa poética que não se encaixa na personalidade de Carvão.
A geometria comportada e rigorosa de alguns momentos foi sempre flexibilizada por trabalhos mais livres, menos ortodoxos. É o caso de Cornucópia, de 195556. As passagens de tom, o movimento de luz, a rotação do espaço interno para dentro e para fora da tela, o tipo de fatura mais manual, meio pontilhista, denotam um certo princípio de individuação residente ao padrão indiferenciador dos concretos. De alguma maneira, podemos dizer que havia por parte de Carvão uma certa resistência romântica, idealista mesmo, em nome da criação e da expressão do artista.
A liberdade de experimentar jamais significou, em Aluísio Carvão, uma desorientação poética; como salientou Mário Pedrosa em um texto de 1961, "em nenhum momento de sua carreira deixou ele de ser fiel a si mesmo, isto é, um pintor que jamais adotou nova problemática levianamente, para largá-la à primeira esquina, ou descartá-la sem antes tê-la explorado em todas as suas virtualidades".
As Cromáticas de Carvão, realizadas no início da década de 60, são o que há de mais intenso, essencial, na pesquisa de um "tempo interior" da cor na arte brasileira. Ela fica germinando na tela, impondo lentamente o seu ritmo, que se dissemina entre o informe e a forma, entre o claro e o escuro. É uma cor "fabricada de luz e de química nas combucas de alquimista do pintor". Pode-se afirmar sem maiores hesitações, que sem o Cubocor que se segue às Cromáticas, não haveria os Bólides de Oiticica. O diálogo destes dois artistas - Aluísio Carvão e Hélio Oiticica - é riquíssimo e fundamental para a experimentação com a cor na pintura brasileira.
Sua produção a partir de 66 vai responder à vivência européia - que lhe foi concedida por uma premiação no Salão Nacional de 60 com uma de suas cromáticas que lhe abriu novos horizontes poéticos. As suas Batalhas têm uma dinâmica plástica mais informal, não obstante sua retomada da linha como elemento estruturante. A combinação entre cor e linha, a luz fechada e a material idade da tinta, remetem a um outro artista que me parece importante para Carvão: Paul Klee. Estes trabalhos voltam-se para dentro da tela, as linhas vão se fechando em um núcleo central.
Daí até o final dos anos setenta, a poética de Carvão vai perder um tanto de solaridade - não era para menos, dada a situação em que vivíamos no país. Será só com as Pipas, que o "céu" de Carvão ganhará outra vez cor e luz. Esta fase de sua obra, retoma a paleta diversificada de outras épocas e seus planos de cor são menos matéricos e mais soltos pela tela. Há um retorno consciente à prática pictórica e um abandono deliberado das experimentações com técnicas e materiais. A velha e boa pintura sobre tela reinará absoluta a partir deste momento.
Com os anos 80, apesar do arrefecimento de sua potência plástica, Carvão manterá o lirismo acentuado de sua poética visual. O que sobressai nesta sua produção tardia, que chega até hoje, é a fluência de seu pincel e a profunda intimidade com as cores. Percebe-se uma sabedoria plástica resultante de um olho e uma mão já experimentados e de um espírito sempre livre para criar.
Dois trabalhos recentes me parecem dignos de atenção: o mural feito na descida da estrada Lagoa-Barra de aproximadamente 100 metros, e o trípticocolagem (3,60m x 1,20m), ambos marcados pelo dinamismo e ritmo das cores. O mural, feito de cerâmica artesanal, foi colocado em uma área de tráfego intenso, apresentando formas geométricas simples e uma divisão tripartida de cores. A composição passa uma sensação de tranqüilidade para aquele espaço movimentado. Já o tríptico, é uma espécie de Broadway Booguie Woogie de Copacabana: revela um ritmo interno acelerado, conquistado pela justaposição de pequenos recortes colados de cor. A fatura do trabalho é minuciosa, coisa de chinês, realizado pacientemente por Carvão. O resultado é este maravilhoso mosaico de luz e cor. É espantoso um artista na sua idade com tanta força física e espiritual para realizar estes dois trabalhos monumentais. A esta altura da carreira, sua obra mantém a vitalidade e rigor formal que fizeram de sua pintura um dos grandes exemplos de nossa modernidade visual.
Se olharmos para trás, perceberemos uma obra plural, cujo tônus fundamental encontra-se, indiscutivelmente, no uso singular da cor Carvão fez dela estrutura, textura, tempo, coisa e movimento. Ela soube ser seca e opaca nas Cromáticas, como também leve e lúdica na fase das Pipas. Uma última pontuação necessária: foi através de sua sensibilidade pedagógica que boa parte dos nossos melhores artistas aprendeu a responsabilidade libertária de sua profissão.

Luís Camilo Osório
Crítico de Arte




----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Carvão, Aluísio (1920 - 2001)

Biografia

Aluísio Carvão (Belém PA 1920 - Poços de Caldas MG 2001). Pintor, escultor, ilustrador, ator, cenógrafo, professor. Inicia sua atividade artística como ilustrador, no Pará. Atua também como escultor e cenógrafo. Começa a dedicar-se à pintura em 1946, quando realiza sua primeira exposição individual no Amapá, onde reside temporariamente. Em 1949 é contemplado pelo Ministério de Educação e Cultura - MEC com uma bolsa para professores de artes e muda-se para o Rio de Janeiro. Em 1952 ingressa no curso livre de pintura de Ivan Serpa (1923 - 1973), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ. Entre 1953 e 1956, integra o Grupo Frente e toma parte das principais exposições coletivas ligadas ao concretismo brasileiro, como a 1ª Exposição Nacional de Arte Abstrata, em Petrópolis (1953), as mostras do Grupo Frente realizadas no Rio de Janeiro, em 1954 e 1955, e a 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada em São Paulo em 1956 e no Rio de Janeiro em 1957. Entre 1957 e 1959, leciona no MAM/RJ substituindo Ivan Serpa. Em 1958, realiza uma exposição individual na Galeria de Artes das Folhas, em São Paulo.

Assina, junto com os artistas Amilcar de Castro (1920 - 2002), Franz Weissmann (1911 - 2005), Lygia Clark (1920 - 1988), Lygia Pape (1927 - 2004) e o poeta Reynaldo Jardim (1926), o Manifesto Neoconcreto, escrito por Ferreira Gullar (1930) em 1959. Com esse grupo de artistas, participa da Exposição de Arte Neoconcreta, realizada em 1959 no Rio de Janeiro, sendo também exibida em São Paulo e Salvador.

Em 1960, participa da mostra Arte Concreta em Zurique e da Exposição de Arte Neoconcreta em Munique. É contemplado no Salão Nacional de Arte Moderna com prêmio de viagem ao exterior. Como artista visitante, ingressa na Hochschule für Gestaltung [Escola Superior da Forma], em Ulm, na Alemanha. Viaja por vários países da Europa e retorna ao Brasil em 1963. Torna-se professor do MAM/RJ e da Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage. Entre 1966 e 1979, trabalha na área das artes gráficas e do desenho industrial, produzindo cartazes, capas de livros e selos. Em 1967, participa, com dois trabalhos, da mostra Nova Objetividade Brasileira, realizada no MAM/RJ.

Na década de 1980, integra diversas retrospectivas sobre arte concreta e neoconcreta. Entre 1996 e 1997, uma importante retrospectiva do artista é realizada no MAM/RJ, seguindo para o Museu de Arte da Moderna da Bahia - MAM/BA, Salvador, e para o Museu Metropolitano de Arte de Curitiba. Com diversos outros artistas brasileiros, integra a exposição Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, realizada em 1998 no MAM/SP e em 1999 no MAM/RJ. Além das mostras já mencionadas, Carvão esteve presente em diversas Bienais Internacionais de São Paulo, na 4ª Bienal de Tóquio (1957) e na 1ª Bienal Interamericana do México (1958).
-Atualizado em 21/12/2006

Nascimento/Morte

1920 - Belém PA - 24 de janeiro

2001 - Poços de Caldas MG - 15 de novembro

Formação

1949 - Rio de Janeiro RJ - Faz o curso de especialização para professores de desenho e artes aplicadas no MEC

1952 - Rio de Janeiro RJ - Estuda com Ivan Serpa (1923 - 1973) no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, no curso livre de pintura

1961 - Ulm (Alemanha) - Artista visitante da Hochschule für Gestaltung [Escola Superior da Forma]

Cronologia

Pintor, escultor, ilustrador, ator, cenógrafo e professor



s.d. - Belém PA - Trabalha como ilustrador e participa da fundação do Teatro de Estudantes, atuando como ator e cenográfo

déc. 40 - Amapá - Vive nesse estado

1946 - Amapá - Passa a se dedicar a pintura, realizando paisagens

1949 - Rio de Janeiro RJ - Vive nessa cidade

1954/1956 - Rio de Janeiro RJ - Participa da formação do Grupo Frente

1957/1959 - Rio de Janeiro RJ - Substitui Ivan Serpa em curso no MAM/RJ

déc. 60 - Rio de Janeiro RJ - No fim dessa década, passa a empregar materiais não tradicionais como tampinhas metálicas de garrafa, pregos e barbante agrupados sobre suportes de madeira

1960/1961 - Rio de Janeiro RJ - Integra o Grupo Neoconcreto

1961/1963 - Europa - Viaja com o prêmio recebido no Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro

1963 - Rio de Janeiro RJ - Professor do MAM/RJ, ministrando Curso de Cultura Visual Contemporânea e Ateliê Livre

1966 - Lima (Peru) - Professor da Escola de Belas Artes

1966/1979 - Trabalha em artes gráficas e desenho industrial. Produz cartazes, capas de livros para diversas editoras e medalhas e selos para a Empresa Brasileira de Correios e Telegráfos

1974 - Itália - Recebe o Prêmio Selo Mais Belo do Mundo - Prêmio Internazionale Aziago DArte

1974 - Recebe o Prêmio Melhor Selo Nacional

1975 - Rio de Janeiro RJ - Instala ateliê em Copacabana

1996 - Rio de Janeiro RJ - Prêmio de Cultura São Sebastião da Cidade do Rio de Janeiro

1996 - Rio de Janeiro RJ - Prêmio Nacional de Artes Plásticas - Funarte

1997 - Porto Alegre RS - É inaugurado Cubocor, no Parque da Marinha

1997 - Rio de Janeiro RJ - Realiza painéis, instalados na Estrada Lagoa-Barra

1998 - Rio de Janeiro RJ - Trabalha em mural instalado no Metrô Largo do Machado


Atualizado em 27/12/2005 por Itaú Cultural


Fonte cda
Links http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_obras&cd_verbete=563&cd_idioma=28555

Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo. Ao utilizar este site, você concorda com o uso de cookies.