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Artista Sonia Delaunay
Biografia Sonia DELAUNAY (1885-1979)



Natural de Gradizhsk, Ucrânia, Sonia Delaunay foi pintora, figurinista, cenógrafa, designer têxtil, criadora de moda e de objectos "simultâneos". Nascida Sarah Stern, em 1885 (m. Paris, em 1979), no seio de uma família de poucas posses, a adopção por um tio materno, Henry Terk, permite-lhe uma vida de oportunidades. Após frequência da Academia de Belas-Artes de Karlsruhe, Alemanha, vai para Paris em 1905, para estudar na Academie de la Palette.

Casada em 1910 com o pintor Robert Delaunay, as preocupações artísticas de Sonia desviam-se então da pintura, centrando-se nos trabalhos de tecidos e bordados, fazendo do domicílio dos Delaunay um vasto cenário experimental. Aí surge, no início de 1911, uma das primeiras obras abstractas da história: a colcha da cama do filho recém-nascido. Embora realizada segundo a técnica de um quilt tradicional, é trabalhada de acordo com as pesquisas dos contrastes simultâneos que a pintora então segue. Idêntica linguagem se espelha nas roupas que cria para si e que levarão o poeta Blaise Cendrars (cuja parceria com Sonia produz, em 1913, A Prosa do Transiberiano) a escrever "Sobre o corpo, ela tem um vestido", poema-enunciado da nova relação entre arte e quotidiano. Nesse mesmo ano, os objectos simultâneos de Sonia - capas de livros, abatjours, almofadas, tapetes - serão expostos na Galeria Der Sturm, em Berlim.

A Grande Guerra obriga o casal a ausentar-se de Paris, vindo para Portugal, na sequência dos convites de Amadeo de Souza-Cardoso e Eduardo Viana. A brancura da luz meridional levará Sonia a aprofundar pesquisas lumínicas. Novamente dedicada à pintura e ao desenho, a sua obra reflectirá as cores do folclore e do artesanato regionais, recriando, na linguagem dos seus círculos solares, as bonecas e a olaria tradicionais e as roupas das mulheres, em momentos de dança. Também na tela Chanteur Flamenco (1915), a composição vibrante, de dinâmica centrífuga, evoca a sua cara relação com a música e o desejo de pôr as cores a dançar. Embora reconhecíveis, as figuras referentes articulam-se como pretextos a caminho da abstracção, deixando a cor ecoar no espaço e desdobrando a luz nas suas múltiplas faces.

Em 1918, já em Madrid, inicia uma colaboração com Diaghilev, desenhando figurinos para os Balletts Russes, e abre a Casa Sonia, onde comercializa vestidos e artigos de moda. O regresso a Paris, no pós-guerra, permite-lhe estabelecer ligações com o recém-criado movimento Dadá e reatar relações com os surrealistas Breton e Aragon. E, paralelamente à pintura, prossegue a criação de têxteis e objectos decorativos, além dos robes-poèmes (possível influência dos lenços de namorados portugueses), vestidos bordados com poemas. A Boutique simultanée (1924-1930) assinala, nos Campos Elísios, o crescente prestígio da artista. O não estabelecimento de uma hierarquia entre a produção artística e as artes ditas "aplicadas" fica bem patente, por exemplo, no modo como Sonia enquadrava os modelos na composição ou como essas produções se inseriam no quotidiano, tornando-o artístico.

Consagrada, com obra reconhecida e divulgada por instituições culturais em todo o mundo - de que se destacam a mostra organizada, em 1958, na Kunstahaus de Bielefeld e a exposição no Louvre, em 1963, na sequência de uma doação de 117 obras do casal Delaunay ao Museu Nacional de Arte Moderna, Paris -, Sonia permanece aberta a novas propostas. Ainda em 1953, integrara o recém-criado grupo Espace. Contudo, não esquecerá o passado e publica as suas investigações, nomeadamente no volume intitulado A Cor Dançada. Cinquenta Anos de Pesquisas. A década de 60 verá o seu reconhecimento institucional alargado aos Estados Unidos, e a confirmação em França, com a organização da grande retrospectiva no Museu Nacional de Arte Moderna. Evocando a obra e a relação da artista com Portugal, a Fundação Calouste Gulbenkian organiza, em Lisboa em 1972, a exposição Sonia e Robert Delaunay em Portugal e os seus Amigos Eduardo Vianna, Amadeo de Souza-Cardoso, José Pacheko e Almada Negreiros.

Nos anos 60, Sonia começara entretanto a desenhar vitrais e mosaicos, e a editar litografias, experimentando novas áreas e técnicas de expressão. Em todos esses trabalhos poderemos ver o modo como a cor se abre com a luz e se transforma e multiplica, no contraste próximo com as suas complementares; como tons diferentes de uma mesma cor reagem às mais diversas misturas, ou seja, como cor e luz são duas faces da mesma realidade; e como essa forma de dança visual, desejada e amplamente conseguida, joga com o traçado geométrico do desenho, prosseguindo a vontade que dá título à sua autobiografia, publicada em 1978: Iremos até ao Sol.

EMÍLIA FERREIRA

Fonte Catálogo das Artes

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